Mortes por febre amarela causam corrida por vacinação em São Paulo

Estado confirmou 21 óbitos causados pela doença desde janeiro do ano passado.

Espera nos postos de saúde chegava a 5 horas nesta sexta na capital, que não teve casos

Fila em posto de saúde de Pinheiros, na capital paulista.
Fila em posto de saúde de Pinheiros, na capital paulista. TALITA BEDINELLI

O aumento do número de casos de febre amarela no Estado de São Paulo levou a uma corrida aos postos de saúde da capital, com filas de até cinco horas para a vacinação. Segundo a Secretaria da Saúde paulista, 21 pessoas morreram por causa da febre amarela desde o início do ano passado, de um total confirmado de 40 casos autóctones (quando a doença é contraída dentro do próprio Estado). Em todo 2016 foram confirmados dois casos da doença, ambos fatais.

Segundo a secretaria, 11 destes óbitos foram de casos confirmados neste ano (mas que podem ter ocorridos no ano passado). Um boletim epidemiológico do final do ano passado afirmava que entre janeiro e a primeira quinzena de dezembro do ano passado haviam sido registrados 10 óbitos. A maior parte dos óbitos aconteceu em Mairiporã (5) e Atibaia (4). A capital paulista não registrou, até o momento, nenhum caso humano da doença, mas foram encontrados macacos mortos em parques da zona norte e da zona leste e os exames deram positivo para febre amarela, levando ao fechamento temporário das unidades, já reabertas.

“Cheguei aqui às 7h”, contava a garçonete Valneide Porto, 34 anos, ao deixar por volta de meio dia um ambulatório público em Pinheiros, na zona oeste da capital, com suas duas filhas, de 10 e seis anos —as três com as marcas da vacina no braço. Moradora do bairro, Valneide faltou ao trabalho para enfrentar a fila nesta sexta-feira. “A gente vê na televisão sobre a doença e fica assustada. Queria vir logo”, contava ela. Já no final da fila, ainda bastante longa na hora do almoço, a faxineira Quitéria Pereira, 51, e seu colega José Ari Agostinho, 57, assistente financeiro, avaliavam se esperariam, desanimados com a quantidade de pessoas. “Passei no posto de saúde perto de casa de manhã e estava assim ou pior. O pessoal está com medo”, dizia ele.

Os casos registrados no Estado são de febre amarela silvestre e não da urbana, um tipo que não circula no país desde 1942 e é transmitido pelo mesmo vetor que a dengue, o Aedes Aegypti. A silvestre é transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes, que vivem em área de mata e preferem as copas das árvores, por isso costumam picar mais os primatas não humanos. Por este motivo, a morte ou o adoecimento de macacos (episódios chamados de epizootias) em áreas de mata servem sempre como um alerta para a chegada da doença. Em São Paulo, segundo o Governo do Estado, ocorreram 2.491 episódios entre julho de 2016 e agora, sendo que 617 animais tiveram a confirmação laboratorial para febre amarela, 61,5% na região de Campinas. Os dados epidemiológicos do Estado também mostram que houve um aumento de confirmação de casos nos últimos meses, já que entre julho de 2016 e junho de 2017 haviam sido confirmados 187 epizootias relacionadas com a febre amarela.

O aumento de casos causa preocupação assim como aconteceu no início do ano passado em Minas Gerais. No Estado, entre julho de 2016 e junho de 2017 foram registrados 475 casos, sendo 162 óbitos. Entre julho de 2017 até o último dia 10 deste ano foram sete casos confirmados. O Rio de Janeiro também confirmou uma morte neste ano.

Os casos silvestres aumentam em áreas onde a doença pouco circulava antes e, por isso, grande parte da população não está vacinada. E isso causa temor porque caso uma pessoa infectada por esta versão da doença circule doente em ambiente urbano e seja picada por um Aedes, o mosquito pode começar a se espalhar nas cidades. E a proliferação deste mosquito é grande nos ambientes urbanos, como mostram as epidemias de doenças como dengue, zika e chikungunya.

“Este risco sempre existe, por isso a vacinação em massa é importante. A televisão mostrou nestes dias pessoas pulando o muro dos parques fechados para correr, sem estarem vacinadas ou usando repelente. É um risco porque ela pode se contaminar e levar o vírus para casa, onde está o Aedes“, explica Celso Granato, infectologista do Grupo Fleury. “A vacinação é importante, mas também não é preciso sair correndo para isso”, ressalta ele, que afirma que quanto mais pessoas se vacinam, mais as não vacinadas estão protegidas, já que isso dificulta a propagação do vírus.

Como estratégia emergencial, o Governo federal determinou que a população de municípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, onde a vacinação contra a febre amarela não era habitual, receberão doses fracionadas da vacina (o equivalente a um quinto da dose normal). A estratégia já adotada em países africanos e apoiada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) raciona a quantidade de imunizações existentes no país e, segundo o ministério, dá proteção contra a doença por até oito anos. A dose habitual dura para toda a vida —antes, acreditava-se que ela era válida por dez anos, mas este entendimento também foi alterado pela OMS, que diz que ela é eficaz por mais tempo do que o imaginado inicialmente.

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