Ocorre a última execução por motivos políticos na França

Jean Bastien-Thiry foi executado por um atentado contra o general Charles de Gaulle; vítima era um politécnico de 35 anos originário Gaude Luneville, casado e pai de três filhos

Wikicommons - Atentado contra De Gaulle condenou homem à execução

Ao amanhecer de 11 de março de 1963, Jean Bastien-Thiry é passado pelas armas no forte de Ivry. Esta execução política seria a última que a França conheceria.

A vítima era um politécnico de 35 anos originário Gaude Luneville, casado e pai de três filhos. Cientista brilhante, de estatura internacional, trabalhava na Cidade do Ar, em Paris, com a patente de tenente-coronel, quando sua consciência ficou transtornada pelo drama da Argélia.

O general Charles de Gaulle tinha voltado ao poder em decorrência do levante do exército e dos franceses da Argélia em 13 de maio de 1958. Esses últimos acreditavam que o governo da 4ª República não negociaria a retirada de três províncias argelinas e depositaram suas esperanças em de Gaulle, que prometera manter a integridade do território.

Uma vez no poder, o general tomou consciência da impossibilidade de manter o statu quo na Argélia. Recusava-se, por outro lado, a outorgar aos muçulmanos locais todos os direitos de cidadãos franceses, como desejaram o ex-governador Jacques Soustelle ou militares como Thiry. Restava a alternativa da independência. Demoraria quatro anos mais para que o presidente da República convencesse seus partidários que a independência daquele país era inelutável.

Após a assinatura dos Acordos de Evian, com o reconhecimento da independência argelina pela França, em troca de garantias aos franceses na Argélia, os “pieds-noirs” – população francesa das antigas colônias do norte da África – de Argélia, Tunísia e Marrocos refluíram em desordem à metrópole. A Frente de Libertação Nacional valeu-se da situação para liquidar com os muçulmanos francófilos, abandonados pelo exército e o governo do general de Gaulle.

Em contrapartida, os extremistas de direita franceses, sob a bandeira da Organização do Exército Secreto, multiplicaram os atentados e as torturas contra os muçulmanos, vitimando milhares de inocentes.

Como muitos militares de sua geração, Thiry não entendia as guinadas do general  de Gaulle. Interpretava-as como traição à nação, aos franceses da Argélia e aos muçulmanos fieis à França.

Convenceu-se que o general era um obstáculo à restauração da grandeza de seu país. Sob a égide de um movimento clandestino, o Conselho Nacional da Resistência do líder direitista  Georges Bidault, organizou um atentado contra o cortejo do presidente.

Em 22 de agosto de 1962, de Gaulle e sua esposa deixam o palácio Eliseu em viagem à sua residência privada em Colombey-les-deux-Églises. Um informante, jamais identificado, previne Thiry do itinerário escolhido pelos serviços de segurança entre três possíveis.

Em Petit-Clamart, no subúrbio sul de Paris, o carro presidencial é metralhado por seis atiradores sob o comando de Bastien-Thiry. Os atiradores visavam os pneus a fim de deter a viatura. Porém os pneus resistiram às balas e o talento do motorista fez o restante para escaparem incólumes.

Um dos atiradores, Georges Watin, dispara uma rajada na altura das cabeças dos passageiros do veículo. Os impactos de seu fuzil-metralhadora – 8 no total – permitiriam ao procurador-geral Gerthoffer acusá-lo de tentativa de homicídio.

O presidente e sua esposa, sentados no banco de trás do veículo, foram salvos pela imediata reação de seu genro Alain de Boissieu, quem estava à frente e ordenou: “Abaixem-se!”.

Os atiradores foram logo presos. Thiry foi preso na volta de uma missão científica na Grã Bretanha. Um tribunal de exceção, a Corte Militar de Justiça, julgou os acusados. Recursos de apelação não foram admitidos aos condenados.

A vida de Thiry repousava nas mãos do Chefe de Estado, de Gaulle. A opinião pública estava convencida que ele se valeria de sua prerrogativa de concessão de graça, uma vez que do atentado não resultara qualquer morte. O general de Gaulle, com efeito, concede graça a todos os atiradores nas não ao seu chefe. Jean Bastien-Thiry é fuzilado por um pelotão oito horas apenas após o final do julgamento.

Charles de Gaulle explorou a emoção causada pelo atentado de Petit-Clamart para propor a eleição do presidente da República por sufrágio universal e direto pelo conjunto da população e não mais por uma assembleia de notáveis.

O projeto se chocou com forte oposição do Senado e da esquerda, que temia o nascimento de um regime bonapartista autoritário. Entretanto, a proposta foi aprovada por 62,25%, em um referendo realizado em 28 de outubro de 1962.

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