Por que não contar o caso como o caso foi?

Ao reabrir o caso de Fernando Santa Cruz, Bolsonaro puxou o Exército brasileiro para o centro do debate sobre prisões arbitrárias, maus tratos, torturas e assassinados durante regime militar

Ao reabrir o caso de Fernando Santa Cruz, Bolsonaro puxou o Exército brasileiro para o centro do debate sobre prisões arbitrárias, maus tratos, torturas e assassinados durante regime militar

Ao reabrir o caso do desaparecido pernambucano Fernando Santa Cruz Oliveira, o presidente Jair Bolsonaro puxou o Exército brasileiro, sem necessidade, para o centro do debate sobre prisões arbitrárias, maus tratos, torturas e assassinados de presos políticos durante o regime militar. O Exército não merece isto, pois seus atuais comandantes estavam nascendo ou eram garotos quando se deu a queda do presidente João Goulart, 55 anos atrás. Só que este caso de Fernando Santa Cruz é emblemático. Primeiro, porque a genitora dele, Elzita, nunca se conformou por não ter de volta o corpo do filho e pediu explicações sobre o seu desaparecimento a quem se dispôs a recebê-la, na época: os generais Antonio Bandeira, Golbery do Couto e Silva, Cordeiro de Farias, etc. Segundo, porque Fernando era pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que após ser agredido desumanamente pelo presidente resolveu interpelá-lo no Supremo Tribunal Federal. Parodiando o advogado e escritor pernambucano Paulo Cavalcanti, talvez fosse melhor para o Exército contar logo o que houve com Fernando Santa Cruz Oliveira. Ao impor uma cortina de silêncio sobre o caso, ficará eternamente sob suspeita de ter participado diretamente deste bárbaro crime, dado que até na guerra costuma-se devolver o corpo das vítimas aos inimigos. A Lei de Anistia isenta os criminosos de responsabilização, mas não apaga a crueldade do fato e nem a dor da família Santa Cruz.

Início de carreira

Bolsonaro tinha apenas 19 anos quando o estudante Fernando Santa Cruz foi preso no RJ e seu paradeiro jamais conhecido. Hoje, como comandante supremo das Forças Armadas, poderia cobrar do Exército explicações para fornecê-las aos brasileiros, a fim de encerrar o caso. Esse “papo” de que os documentos da época foram destruídos não cola.

Comando firme

Mesmo no auge do regime militar, o então presidente Ernesto Geisel demitiu o comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávilla Mello, por ter permitido a morte, sob tortura, de dois presos políticos sob sua guarda: o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho. Seus corpos, pelo menos, foram devolvidos aos familiares.  (Inaldo Sampaio)

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