1937 – Aviões alemães bombardeiam a cidade basca de Guernica

A morte indiscriminada de civis indignou a opinião pública mundial, tornando-se um símbolo da brutalidade do franquismo

Segunda-feira, 27 de abril de 1937. Os camponeses do vale de Guernica chegavam das redondezas às estreitas ruas da cidade, trazendo seus produtos para o grande encontro semanal. A praça estava bem movimentada quando os sinos começaram a dobrar. Tratava-se de mais uma incursão aérea. Até aquele fatídico dia, Guernica só havia visto os aviões nazistas da Legião Condor passar sobre ela em direção a alvos maiores.

A primeira leva de Heinkels-11 despejou sua bombas sobre a cidadezinha precisamente às 16h30. Durante horas, os moradores viram o inferno desabar sobre eles. Estonteados e desesperados saíram para os arredores do lugarejo onde mortíferas rajadas de metralhadora disparada pelos caças dizimaram a população.

A morte indiscriminada de civis indignou a opinião pública mundial, tornando-se um símbolo da brutalidade do franquismo. No fim da jornada contaram 1.654 mortos e 889 feridos. A repercussão negativa foi tão grande que os nacionalistas espanhóis trataram logo de atribuí-la aos vermelhos, como os republicanos eram conhecidos.

A tragédia havia começado oito meses antes, na noite de 25 de julho de 1936, quando Hitler decidiu apoiar Franco. Na semana anterior, o general espanhol havia sublevado o exército contra o governo republicano esquerdista da Frente Popular. O Führer estava em Bayreuth, cidade alemã ao norte da Baviera, para prestigiar o tradicional festival musical quando recebeu uma carta do caudilho. O espanhol queria saber se os nazistas contribuiriam com seu governo oferecendo uma dezena de aviões de transporte e algumas armas. Hitler não hesitou.

Em pouco mais de três meses a Legião Condor, comandada pelo general Hugo Sperrle, chegava a Sevilha. A força paramilitar alemã era composta por quatro esquadrões de bombardeios e outros quatro de combate, além de unidades antiaéreas, antitanques e de panzers, num total de 6.500 homens.

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Guernina no mural. O painel foi pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris

Alvo certo

A escolha de Guernica se deveu a vários motivos. A cidade era um alvo fácil, sem proteção antiaérea, além de não ter uma população numerosa. Além disso, abrigava o Guernikako arbola, um velho carvalho embaixo do qual os monarcas espanhóis ou seus emissários, desde os tempos medievais, juravam respeitar as leis e costumes dos bascos.

A ação militar encomendada por Franco foi também um ataque contra a autonomia regional e a destruição de Guernica – uma lição a todos os que imaginavam uma Espanha federalista.

No dia seguinte da destruição da cidade, Pablo Picasso pintaria o tema Guernica, a obra mais dramática de sua carreira. O mais celebrado dos quadros de Picasso, símbolo dos horrores da guerra, deixaria o Museu de Arte Moderna de Nova York em 10 de setembro de 1981 e entra no Museu do Prado, conforme as últimas vontades do pintor, morto oito anos antes. Picasso desejava que sua obra-prima fosse exposta definitivamente em seu país natal com a condição expressa que a Espanha se tornasse uma democracia.

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