Professores e donos de escola divergem sobre câmeras nas salas de aula

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Instaladas em shoppings, bancos, residências, edifícios comerciais e nas vias públicas, as câmeras de segurança já foram incorporadas ao cenário das grandes cidades. Porém o equipamento ainda provoca divergências em relação à sua necessidade. Em Pernambuco, esse debate persiste há anos entre professores e donos de escolas.

A 32ª cláusula da Convenção Coletiva de Trabalho, assinada há 15 anos e renovada anualmente pelos representantes do Sindicato dos Professores de Pernambuco (Sinpro-PE) e Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco (Sinepe-PE), proíbe o uso de câmeras dentro da sala de aula no Estado. A instalação dos equipamentos é permitida apenas nos corredores, quadras, pátios e outras áreas de uso comum das instituições de ensino.

Para o Sinpro-PE, a câmera pode ser utilizada pela direção para fiscalizar e inibir o professor, além de prejudicar o processo de aprendizagem. Já os donos de escolas defendem que a presença dos equipamentos evita a bagunça em sala de aula e ajuda a disciplinar os alunos.

“Por ser um espaço privado de relação entre aluno e professor, a sala de aula deve ser um local livre de monitoramento. A instalação do equipamento é invasiva, pois tira a espontaneidade necessária ao processo de aprendizagem”, explica o coordenador do Sinpro Pernambuco, Jackon Bezerra, ressaltando ainda que muitas escolas no País usam as imagens para questionar a didática do professor. “Em agosto, recebemos denúncia de que quatro escolas do Recife tinham instalado câmeras nas salas. Avisamos ao Ministério do Trabalho e Emprego, que determinou a retirada dos equipamentos”.

Questionado sobre a segurança oferecida pelas câmeras, Jackson Bezerra disse que “o equipamento não é um elemento de educação. Muito mais importante é conscientizar os estudantes”. Ele também lembrou que os alunos dos ensinos médio e fundamental possuem total capacidade de se expressar, diferentemente das crianças de berçário, onde é permitido o uso do recurso inclusive com o monitoramento dos pais. Em relação aos berçários e creches, não existe nenhuma norma ou convenção trabalhista que proíba o uso de câmeras dentro das unidades.

Mas para o diretor-executivo do Sinepe, Arnaldo Mendonça, que todos os anos tenta modificar a cláusula da convenção trabalhista, os argumentos dos professores são infundados. “A sociedade mudou; até o ministro do STJ está sendo filmado enquanto trabalha. Além disso, não queremos vigiar o professor e, sim, garantir mais segurança e a preservação do patrimônio da escola. Tanto é que as câmeras ficariam voltadas para os alunos”, argumentou Arnaldo Mendonça, ressaltando que atitudes de bullying, roubos de celulares dentro das salas, “que infelizmente acontecem”, e atos de vandalismo como bancas quebradas ou riscadas poderiam ser evitados.

“A sala de aula é um ambiente restrito ao professor e nós respeitamos isso. Não admitimos a intervenção de diretores ou de pais. Prova disso é que, em nossa proposta, as imagens não seriam cedidas aos pais e também não poderiam ser usadas em causas trabalhistas”, explicou o presidente do Sinepe.

O professor do ensino médio Tarcísio Nunes é contra o uso de câmeras. “É uma inverdade dizer que as câmeras são apenas para observar os alunos. Soube de casos de colegas que foram ameaçados de punição pela escola. As imagens geralmente são capturadas sem áudio e um professor mais espontâneo, que gosta de criar dinâmicas diferentes em sala, pode ser mal interpretado. As imagens podem sugerir um ambiente de bagunça, quando não é”, explicou o professor de física.

A opinião sobre o uso dos equipamentos de vigilância também diverge entre os pais. A dentista Laury Oliveira de Andrade, mãe de dois filhos, de 11 e 13 anos de idade, diz que não sente a necessidade das câmeras nas salas de aula dos filhos. “Confio na escola e nos professores. Quando acontece algum problema, a coordenação nos informa e age da forma correta”, disse.

A administradora Luciane Sallas, mãe de uma menina de seis anos, acha que a “tecnologia existe e pode ser utilizada para facilitar o trabalho da escola. Se usada da forma certa, é um equipamento que pode ajudar a direção a solucionar conflitos”, afirmou.

SÃO PAULO 
– Em alguns estados brasileiros, as convenções trabalhistas entre donos de escolas e professores permitem o uso das câmeras dentro das salas de aula. Em São Paulo, por exemplo, várias unidades de ensino utilizam o equipamento e, se os pais desejarem, podem visitar as salas de monitoramento de câmeras. O administrador Luciano Costa, pernambucano que reside na capital paulista, já esteve no espaço de monitoramento da escola do seu filho. “Enquanto assistia às imagens, a minha preocupação não foi observar o professor, mas o comportamento do meu filho em sala. Acho o uso do recurso uma ferramenta positiva”, afirmou o administrador.

Fonte: JC Online

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