Alianças internacionais e a vingança da coroa

Os Estados Unidos chegaram a nomear Joseph Ray, que era cônsul-geral, para atuar no?Recife e dar apoio à nova República que havia se instalado no Nordeste

Os Estados Unidos chegaram a nomear Joseph Ray, que era cônsul-geral, para atuar no Recife e dar apoio à nova República que havia se instalado no NordesteFoto: .

A criação de uma nova República não poderia se sustentar sozinha sem o apoio e reconhecimento das grandes potências mundiais para garantir sua legitimidade. Com planos tão grandes e ousados quanto seus sonhos, os revolucionários atravessaram fronteiras em busca de fortalecimento.

O principal emissário dos planos era Antônio Gonçalves da Cruz, conhecido como Cruz Cabugá, que desembarcou nos Estados Unidos para angariar apoio, com recursos do erário da província. O objetivo era garantir armas e soldados para lutar nas trincheiras da revolução e estabelecer laços econômicos e políticos com o potencial parceiro.

A chegada de Cruz Cabugá foi noticiada por várias gazetas dos Estados Unidos, que espalhara o que acontecia em Pernambuco para o mundo. Ele foi recebido pelo secretário de Estado norte americano, Richard Rush (1780-1859), com quem foram estabelecidos tratados de aliança com o País, inclusive que os Estados Unidos garantiriam o reconhecimento de navios que chegassem em seu território com a bandeira de Pernambuco.

A cópia da bandeira do Estado em aquarela com todos os significados dos seus símbolos em inglês que foi entregue por Cruz Cabugá está até hoje na secretaria de Estado dos Estados Unidos. “Cabugá foi uma espécie de embaixador da nova República nos Estados Unidos. Em cartas é possível ver a simpatia do secretário americano pela revolução de Pernambuco. Ele ficou encantado pelas ideias e ideais do Estado”, relata Flávio Cabral, que está escrevendo um livro sobre a expedição do emissário dos Estados Unidos.

O apoio maior dos Estados Unidos esbarrava, contudo, na neutralidade dos americanos devido aos seus interesses internacionais. No entanto, foram feitos gestos. Um cônsul-geral americano, Joseph Ray, foi nomeado para atuar no Recife e dar apoio, abertamente, à nova República.

A ofensiva de Cabugá, contudo, não contava com a investida do abade José Correa da Serra, embaixador do Reino Unido de Portugal nos Estados Unidos, que tinha a missão de impedir que os EUA reconhecessem a nova República. Cabugá era espionado, seguido e todas as suas ações eram reportadas à Coroa portuguesa.

A ofensiva de Cabugá não se limitou aos ingleses e americanos. O embaixador tinha a ordem expressa de conversar com José Bonaparte, irmão do célebre comandante francês Napoleão Bonaparte. Os dois chegaram a ter uma conversa na Filadélfia. “Cabugá saiu para contratar soldados franceses para reforçar as tropas revolucionarias. Três deles, inclusive, chegaram em Pernambuco, mas neste momento a revolução foi abafada e eles foram presos”, conta.

O plano mais ousado, no entanto, era resgatar Napoleão, que estava exilado em Santa Helena desde 1915. “José Bonaparte achou interessante o plano em Pernambuco e vinha projetando tirar o irmão da Ilha de Santa Helena. Ele pensou que a confusão no Brasil seria um bom momento para tentar tirá-lo de lá via Fernando de Noronha. De lá, Napoleão chegaria nos Estados Unidos”. Os relatos estão guardados até hoje na sede do Itamaraty.

A vingança da Coroa Portuguesa
A ânsia pelos valores republicanos e a insatisfação com a Coroa Portuguesa levaram os revolucionários a precipitar um movimento ousado, sem mesurar suas conseqüências. E a Revolução, rapidamente, se tornou alvo da monarquia, que organizou um rápido contra-ataque.

Uma forte e violenta repressão militar foi aberta contra os revolucionários, de forma a cercar o governo provisório e evitar que conseguissem apoio de outros estados. As tropas portuguesas atacaram pelo interior e mar, cercando-os. O rei Dom João VI mobilizou forças do Rio de Janeiro e os oficiais partiram da Bahia e entraram em Alagoas para encurralar os revolucionários pelo Interior, enquanto o Porto do Recife foi cercado por uma grande esquadra.

“Colocar uma rebelião dessa na rua, sem exército, contra a Coroa, foi um sonho. Bastava qualquer força para destruí-los e foi o que aconteceu. No interior de Pernambuco, ninguém sabia que revolução era esta. Era um movimento litorâneo, que se espalhou até Limoeiro. No restante do Estado, diziam que os revolucionários fizeram um pacto com o demônio, havia uma tentativa de desconstruir o que acontecia”, afirma o historiador Flávio Cabral.

A partir de então, foi aberto um período de caça às bruxas e terror. Os que não morreram na batalha foram presos e muitos acabaram sendo sacrificados para servir como exemplo.

 

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