O pão de trigo foi substituído pela tapioca e o vinho pela cachaça

Produtos europeus foram substituídos pelos nacionais

Produtos europeus foram substituídos pelos nacionaisFoto: Cristiana Dias/Arquivo Folha

Logo após a decretação da nova República, os seus idealizadores trataram de apagar o passado. Os símbolos da Coroa Portuguesa foram retirados das instituições públicas e das ruas. “Quando o novo governo tomou conta, mensagens começaram a chegar mandando tirar os símbolos reais. Os brasões da Coroa eram retirados e quebrados, os retratos do rei colocados de cabeça para baixo”, relata o professor da Universidade Católica de Pernambuco, Flávio Cabral.
Hábitos europeus foram substituídos por costumes genuinamente locais. O pão de trigo foi substituído pela tapioca e o vinho pela cachaça, mudando, inclusive, a celebração das missas onde as hóstias eram feitas de mandioca. No tratamento, o formal vosmicê foi trocado pelo então informal “vós” e os revolucionários faziam questão de se referir entre eles como “patriotas”.

Como símbolo da nova Nação que surgia, uma nova bandeira teve a benção na Praça da República. Em seu desenho uma cruz vermelha retratava a força da Igreja Católica sob um fundo branco representando a paz. Acima da cruz, um arco-íris aludia a união e diversidade da federação e estrelas caracterizavam os estados que aderiram ao projeto. As semelhanças não são mera coincidência. A mesma bandeira foi oficializada 100 anos depois, na comemoração do centenário de Pernambuco, em 1917, e se tornou símbolo oficial do Estado até hoje.

Sob o novo manto, Pernambuco se tornava pioneiro em experiências progressistas para a época. Os ideais revolucionários eram espalhados por meio de uma nova tecnologia – a Imprensa. Sete anos antes da chegada oficial de um veículo de comunicação no Estado, o jornal Aurora, em 1824, os revolucionários utilizaram uma prensa para propagar suas ideias. Panfletos eram impressos no Poço da Panela para serem distribuídos, pregados em postes ou anunciados em praças, disseminando a mensagem do novo governo.

Na esfera política-administrativa, a realização de eleições e a criação de uma lei orgânica revolucionavam, também, a vida pública. No antigo edifício do Erário Público, próximo de onde hoje fica o Palácio das Princesas, os principais líderes do movimento se reuniram e elegeram membros para compor uma junta com representação dos principais segmentos da sociedade. Nas ciências humanas, o reconhecimento de direitos e garantias individuais eram assegurados em pleno regime absolutista. A legislação vigente introduzia conceitos revolucionários para a época, mas que hoje em dia são atuais, como a tolerância religiosa, igualdade entre os povos e a liberdade.

Ideias tão à frente do seu tempo que começaram a criar tensões entre a burguesia moderna e a elite tradicional, expondo as contradições do próprio movimento. O ponto nevrálgico da revolução era, justamente, a libertação dos escravos, mas também o embate entre uma elite mais moderna que queria transgredir os padrões da época e outra mais conservadora que queria manter suas tradições.

“A escravidão era a caixa de pandora da revolução. Era um ponto de tensão. Havia revolucionários que não concordavam com a escravidão, mas não podiam bater de frente com a elite tradicional e perder apoio para a nova república”, relata o historiador George Cabral.

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