Por que a OMS diz que grandes surtos de ebola são o ‘novo normal’

Familiares colocam plantas sobre o túmulo de um parente que morreu vítima de ebola em Butembo no CongoFamiliares colocam plantas sobre o túmulo de um parente que morreu vítima de ebola em Butembo, no Congo

O mundo está entrando em “uma nova fase”, em que grandes surtos de doenças mortais como ebola são o “novo normal”, adverte a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Historicamente, as ocorrências de ebola afetaram um número relativamente pequeno de pessoas.

Mas, agora, a República Democrática do Congo está enfrentando o segundo maior surto da doença de que se tem notícia, apenas três anos após o maior surto mundial ter terminado.

E a OMS afirma que os países precisam se preparar para novas epidemias mortais.

Já foram registrados 2.025 casos de ebola e 1.357 mortes em decorrência do vírus no atual surto na República Democrática do Congo.

Há pouco tempo atrás, o maior surto de que se tem notícia, que aconteceu na África Ocidental de 2014 a 2016, atingiu 28.616 pessoas, principalmente na Guiné, Libéria e Serra Leoa. Foram contabilizadas 11.310 mortes.

Em comparação, os 12 surtos registrados entre 2000 e 2010 resultaram em menos de 100 casos em média.

Mas por que os surtos mais recentes são muito maiores?

“Estamos entrando em uma fase muito nova de epidemias de alto impacto, e não apenas de ebola”, diz Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências em saúde da OMS.

Segundo ele, o mundo está “vendo uma convergência de riscos muito preocupante”, que faz aumentar a ameaça de doenças como ebola, cólera e febre amarela.

Ele afirma que a mudança climática, a exploração de florestas tropicais, a mobilidade populacional, a fragilidade dos governos e os conflitos estão tornando os surtos cada vez mais prováveis ​​de ocorrer e mais propensos a aumentar de tamanho.

Soldados protegendo profissionais de saúdeSoldados das forças armadas do Congo se preparam para escoltar profissionais de saúde
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O que é o ebola?

– O ebola é um vírus que inicialmente causa febre súbita, fraqueza intensa, dor muscular e dor de garganta.

– Os sintomas evoluem para vômito e diarreia, além de hemorragia interna e externa.

– As pessoas são infectadas quando têm contato direto com sangue, vômito, fezes ou fluidos corporais de alguém com ebola.

– Os pacientes costumam morrer de desidratação e falência múltipla de órgãos.

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Aprender a lidar

De acordo com Ryan, a OMS está monitorando 160 manifestações de doenças em todo o mundo, sendo que nove eram emergências de terceiro grau (o nível de emergência mais alto da OMS).

“Acho que nunca estivemos em uma situação em que respondemos a tantas emergências ao mesmo tempo. Este é o novo normal, e não acredito que a frequência desses eventos será reduzida.”

Como resultado, ele argumenta que os países e outros órgãos precisavam “se familiarizar com a prontidão e estar preparados para essas epidemias”.

O surto na República Democrática do Congo continua preocupando as autoridades de saúde.

Demorou 224 dias para o número de casos chegar a 1 mil, mas apenas 71 dias para chegar a 2 mil.

O combate à doença foi dificultado pelos constantes conflitos na região – entre janeiro e maio, houve mais de 40 ataques a instalações de saúde.

Outro problema é a desconfiança em relação aos profissionais de saúde, que leva algumas pessoas a evitar a busca de tratamento, aumentando o risco de espalhar a doença para parentes e vizinhos.

Josie Golding, líder de combate a epidemias na fundação Wellcome Trust, diz que o mundo precisa se preparar melhor para surtos como esse.

“No caso do ebola na África Ocidental, (a propagação da doença foi facilitada pela) mobilidade da população e as fronteiras porosas – que não vai mudar, é agora o mundo em que vivemos”, avalia.

Segundo ela, a mudança climática poderia levar a mais surtos, como o de cólera registrado em Moçambique após a passagem do ciclone Idai, em março deste ano. Mas ela espera que doenças resultantes de crises humanitárias não sejam um “novo normal”.

“A preparação precisa ser melhor; podemos ver os movimentos demográficos e a mudança climática, e precisamos de mais recursos para planejar e nos preparar.”

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