Alunos de UFRRJ denunciam no Facebook crimes no campus

Agressões, tentativa de estupro e assédio são alguns dos problemas que compõem uma extensa lista de reclamações feita por alunos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) que começa a se formar na internet. Diante do quadro de insegurança instaurado no interior do campus, em Seropédica, eles criaram a página “Abusos cotidianos – UFRRJ” no Facebook. Lá as vítimas podem fazer denúncias sem que sejam identificadas. A maior parte dos casos é de assédio a alunas.

Aberta em maio deste ano, a comunidade já reúne 22 relatos e mais de 1.200 “curtidas”. Um dos casos mais graves é de uma tentativa de estupro que teria ocorrido em 19 de maio. Na ocasião, uma estudante teria sido atacada por um homem desconhecido que teria agredido e rasgado a roupa da vítima. Mas, ao notar que uma viatura de segurança do campus se aproximava do local, ele acabou fugindo.

A aluna do 2º período de psicologia Ellen Mariane, de 20 anos, é uma das criadoras da página. Ela conta que a combinação de um campus que se estende por mais de três mil hectares e um efetivo de apenas 62 guardas torna a universidade um ambiente propício a essas práticas. Além disso, segundo ela, há a falta de cuidados e de manutenção das instalações que se repetem ao longo de anos. – Havíamos chegado a um ponto em que não conseguíamos enxergar o chão, devido à falta de iluminação – diz.

Sobre a quantidade de assédios, ela conta que boa parte vem dos próprios profissionais que atuam no campus. – Por conta do Reuni (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), há muitas obras aqui. É comum os homens que trabalham nessas construções mexerem com as garotas. Por isso, já criamos até um abaixo-assinado para que as empresas responsáveis pelos trabalhos capacitem seus funcionários.

Todo esse quadro acabou forçando os alunos a mudarem seus hábitos. Ellen conta que há casos de pessoas que pensam em trancar a faculdade por medo da falta de segurança e outros que deixaram de assistir aulas à noite.

Segundo a estudante, a página já garantiu alguns resultados positivos, como a restauração da iluminação do campus. Além disso, a visibilidade aos fatos também transformou a postura dos próprios alunos. – Resolvemos dar mais visibilidade aos fatos justamente para forçar a direção tomar providências. Agora, isso está começando a acontecer. Também percebemos que os próprios alunos estão mais conscientes e participam com mais afinco das mobilizações e dos atos – nota.

Para o diretor da Divisão de Guarda e Vigilância (DGV) da UFRRJ, Renan Canuto, o efetivo reduzido e a grande extensão do campus de Seropédica prejudicam os trabalhos de segurança no local. Sem dar números concretos, Canuto afirmou que o ideal seria um contingente três vezes maior do que o atual.

Segundo ele, a universidade já abriu licitação para instalar um sistema de câmeras de vigilância e adquirir mais duas pickups, além de fazer o restabelecimento da iluminação da área. Canuco argumentou ainda que algumas denúncias dos estudantes seriam “infundadas, e aproveitou para pedir que casos de crimes também sejam comunicados a delegacias, e não somente no Facebook:

– Eles denunciam no Facebook, mas (os casos) têm que estar na delegacia, né? Cada um põe o que quer na rede. Para mim, algumas denúncias são infundadas. Se fossem verdadeiras, a delegacia de Seropédica estaria lotada de registros de ocorrência, o que não é verdade. (O Globo)

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