Uma seleção que encantou o mundo. Um esquadrão marcado na história. Os elogios nunca são exagerados para definir a campanha do Brasil na Copa do Mundo de 1970, que completa hoje 50 anos. Mais do que ter vencido a competição no México e conseguido erguer pela terceira vez a taça de uma Copa do Mundo de futebol, o grupo de craques conseguiu ficar marcado para sempre na história da bola como um dos melhores times de todos os tempos.
Sob o comando do treinador Mário Jorge Lobo Zagallo, craques como Pelé, Carlos Alberto, Tostão, Gerson, Rivellino, Jairzinho, Clodoaldo, e de jovens como o então goleiro do Palmeiras Emerson Leão, que se juntou aos colegas de posição Félix (titular) e Ado, conseguiram no México vencer seis partidas em seis jogos.
O Brasil alcançou a posse definitiva da Jules Rimet, troféu que só seria entregue a quem vencesse pela primeira vez três edições da Copa, e ainda ensinou o mundo como jogar bonito, com velocidade, ocupação de espaços, transição defesa, meio e ataque, alternância de posicionamentos. Uma aula de como se jogar futebol até nos dias de hoje.
A Campanha do Brasil na Copa de 1970 foi perfeita: 6 jogos, 6 vitórias, 19 gols marcados, 7 gols sofridos e um saldo de 12 tentos.
Na 1ª Fase, o Brasil mostrou sua força vencendo três adversários europeus: 4 a 1 na Tchecoslováquia – gols de Rivellino, Pelé e Jairzinho (dois) – 1 a 0 na Inglaterra (Gol de Jairzinho), 3 a 2 na Romênia (gols de Pelé (dois) e Jairzinho.
Nas quartas de finais, bateu o Peru por 4 a 2, gols Rivellino, Tostão (dois) e Jairzinho. Nas semifinais, 3 a 1 contra o Uruguai, gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivellino.E na grande final, 4 a 1 diante da Itália, gols de Pelé, Gérson, Jairzinho e Carlos Alberto. Ou seja, um título incontestável para uma equipe estrelada de craques.
Aquele time formado por Zagallo, tinha a seguinte formação base: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino.
A equipe brasileira era tão forte que 5 deles estiveram na Seleção Ideal da Copa: Mazurkiewicz (Uruguai); Facchetti (Itália), Piazza (Brasil), Beckenbauer (Alemanha Ocidental) e Carlos Alberto Torres (Brasil); Gérson (Brasil), Rivellino (Brasil), Bobby Charlton (Inglaterra), Pelé (Brasil), Gerd Müller (Alemanha Ocidental) e Jairzinho (Brasil).
Jairzinho, aliás, foi o artilheiro da Copa com 7 gols e recebeu o apelido de Furacão por ter marcado gol em todos os jogos da Copa do Mundo de 1970. Feito inédito na história dos mundiais.
O Furacão da Copa descreveu, 50 anos depois, como foi ganhar o tricampeonato pelo Brasil. “Dentro da minha mente, a primeira coisa que me vem à cabeça é o trabalho extraordinário realizado por todo mundo, no qual pude contribuir para que o Brasil ficasse com a Taça Jules Rimet em definitivo. A comissão técnica era de altíssimo nível, com Zagallo, Coutinho, Parreira. Eram pessoas altamente qualificadas e preparadas. Eles montaram um cronograma de trabalho e, pela primeira vez, o Brasil teve um esquema de preparação com três meses de duração. Treinávamos seis horas por dia, sendo três pela manhã e três à tarde”.
Camisas 10
Em seguida, Jairzinho lembrou que a Seleção era recheada de Camisas 10, dando um salto de qualidade à equipe. Os craques Jairzinho (Botafogo), Rivelino (Corinthians), Gérson (São Paulo) e Pelé (Santos), a linha de frente da Seleção Brasileira, vestiam a camisa 10 em seus clubes. Tostão, que vestia a oito no Cruzeiro, já vestira a 10 da Seleção antes do Mundial.
“Pela primeira vez a seleção jogou com cinco camisas 10, todos jogadores de alto nível. O mundo todo aplaudiu a qualidade do futebol brasileiro, ofensivo e de muita técnica. Não tivemos nenhum problema em termos de esquema tático, coletividade ou falta de amizade. Todo mundo se enquadrou dentro daquela filosofia. Até hoje está escrito nos anais do futebol que o time de 70 foi a melhor seleção de todos os tempos. Zagallo montou uma seleção que nunca mais ninguém vai conseguir fazer. Aquele título foi um feito maravilhoso do futebol brasileiro”, relembrou ele.
Outro astro da Seleção de 1970, Rivellino lembrou que a Seleção chegou desacreditada para a Copa no México.
“Ao falar da Copa de 70 vem muita coisa na cabeça. Saímos do Brasil totalmente desacreditados por todo mundo. Tínhamos bons jogadores, mas naquela época era difícil ter informações dos adversários. Sabíamos, por exemplo, que a Inglaterra tinha sido campeã em 1966 e era um bom time, mas não tínhamos muito mais que isso”.
Em seguida, Rivellino lembrou o foco de Pelé para aquela Copa, motivando a todos ainda mais. “Ficamos dois meses treinando, e algo que me chama a atenção até hoje era o quanto o Pelé, a maior referência do futebol na história, tinha de energia positiva, de vontade de vencer. Ele era o primeiro da fila e nunca reclamava de nada. O cara era bicampeão do mundo, chegava em nós e falava: ‘Olha aqui, moleque, você não sabe o que é ser campeão do mundo’. Em relação à convivência, este elenco me marcou bastante também, mas por um motivo diferente”, relembrou.
Pelé
Por falar em Pelé, ele por pouco não jogou a Copa do Mundo de 1970. Mas para a nossa sorte, mudou de ideia. O maior jogador do Século sempre fala com carinho da seleção de 70. Nada daquele Mundial sai de suas memórias. Os jogadores se respeitam até hoje e falam uns dos outros com orgulho e admiração. Basta perguntar de um para outro que os elogios chegarão naturalmente.
É por muitos a melhor seleção de todos os tempos, com futebol empolgante, craques em campo e vencedora. A seleção do tri tinha Pelé, o melhor de todos, então com 29 anos.
O fracasso do Brasil na Inglaterra em 1966 fez com que ele reavaliasse sua despedida do time nacional como havia planejado. Disse que não queria mais. Mudou de ideia. Naquela época, achava que disputar três Copas do Mundo estaria de bom tamanho para um menino que saiu de Três Corações (MG) para ganhar o mundo e a reverência de todos no esporte que seu pai também jogava.
Pelé estava feliz com sua vida e carreira. Tivesse jogado em melhores condições físicas e não se machucado no torneio mundial vencido pelos inventores do futebol, que também eram os anfitriões da festa, Pelé teria parado ali mesmo. Admitiu isso em seu Instagram ao escrever após postar uma foto sua em branco e preto numa estação de trem inglesa em 1966. “Esse sou eu depois que o Brasil foi eliminado da Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Eu jurei nunca mais jogar outra Copa. A lição é que você nunca deve ter medo de mudar de ideia”.
Felizmente, para o futebol brasileiro e para uma geração de torcedores, Pelé mudou de ideia.
Aos 29 anos, idade não muito nova para um jogador de futebol naquela década, o camisa 10 do Santos continuava sendo sua majestade em campo, e chegou ao México bastante disposto a ganhar o tri.
Homenagens
Desde o último dia 11, a Fifa iniciou uma campanha para celebrar os 50 anos da Copa do Mundo de 1970. Lances históricos dessa competição ganharam nova roupagem e foram digitalizados.
As imagens de perfis oficiais da entidade máxima do futebol nas redes sociais também foram modificadas com o icônico retrato de Pelé usando um sobreiro.
“A Copa do Mundo da Fifa produziu tantos momentos emblemáticos, e México 1970 se destaca como um verdadeiro ponto alto, onde futebol e cultura se combinam para produzir um dos torneios mais memoráveis de todos os tempos”, disse Simon Thomas, diretor comercial da Fifa.