A Independência do Brasil parece enredo de ficção com várias reviravoltas antes e depois de 7 de setembro de 1822. Para entender essa história, é preciso rever causas, efeitos e eventos antecedentes e efeitos. Entre esses eventos, escritores sobre a relação entre colônia e império destacam a Revolução do Porto, que completou 200 anos em 24 de agosto. A revolta liberal provocou a queda do absolutismo em Portugal e gerou diferentes ecos nos principais personagens históricos da regência portuguesa no Brasil.
Para o pesquisador Paulo Rezzutti, que escreveu biografias de personagens complexos como Dom Pedro e Maria Leopoldina, é necessário quebrar estereótipos sobre as figuras poderosas do Brasil e de Portugal na época.
“É preciso compreender que eles estão envolvidos em um processo de ideias novas, quebra de paradigmas, como a queda do absolutismo em 1820. É um caldeirão fervilhante com esses personagens interessantes no meio”.
Para Rezzutti a chegada dos lusos vai gerar impactos econômicos para o Brasil, que era antes uma espécie de “propriedade privada de Portugal” e virou a sede do império, enquanto a metrópole se afundava entre guerras. Os conflitos em Portugal somente diminuíram quando os ingleses conseguem expulsar os franceses do seu território. Assim, os recursos financeiros passam a abastecer mais o reino britânico e os portugueses começam a sentir os mesmos efeitos da colônia.
Enquanto Dom João decretava abertura dos portos do Brasil às nações amigas (entende-se, particularmente, a Inglaterra), do outro lado do oceano a história é de sufoco, com menos dinheiro circulando com a burguesia, uma reviravolta que a elite portuguesa não imaginava.
“O que é essa revolta do Porto? Esses comerciantes se revoltam porque Portugal está à míngua. Pouco dinheiro circulando. Caem impostos. Como o Brasil abriu os portos para Inglaterra, a elite comercial não atravessa mais as negociações com a colônia”, avalia o biógrafo.
O impacto também chegou aos tribunais de Lisboa e demais instituições que antes lidavam, na metrópole, com as burocracias da colônia. Afinal, o aparato jurídico havia mudado de terra junto a sede. “Eles sentem na pele o que o Brasil passou por 300 anos”.
A Revolução do Porto espalha-se por Portugal inteiro e acaba, na prática, com o regime absolutista. Ao serem criadas as cortes constitucionais, o rei perde o poder. A elite portuguesa no Brasil, que passava a experimentar uma liberdade diferente nos últimos 12 anos da chegada da família real, sente a mudança dos ventos.
200 anos de Revolução do Porto
Para o professor José Manuel Lopes Cordeiro, da Universidade do Minho, e pesquisador do período, a Revolta do Porto pode ser caracterizada como um “pronunciamento militar”, e não como uma revolução popular.
“Os militares saem do quartel e são lidas as proclamações para o novo regime. Raízes do sistema constitucional que vivemos em Portugal datam desse período”.