Osvaldo Coelho manda carta para Dilma com cópia para a imprensa
O ex-deputado Osvaldo Coelho fez carta aberta endereçada à Presidente Dilma Rousseff, com cópia para a imprensa, fazendo duras críticas sobre o modelo de política que está sendo implantada no Projeto Pontal . Como sempre, Osvaldo se mostra preocupado com as questões sociais a exemplo de alertar a Presidente sobre a possibilidade do pequeno produtor ser preterido do processo de aquisição de um pedaço de terra para trabalhar e sustentar sua família.
Ele pede a Presidente que cancele a ideia maluca de entregar oito mil hectares a uma só pessoa (usineiro) que tem como objetivo plantar cana, a exemplo do que aconteceu em Juazeiro onde mais da metade das terras produtivas pertencem a empresa Agrovale,e que ainda vai ocupar milhares de hectares no projeto Salitre. “Cancele essa ideia louca, insensata, de entregar oito mil hectares a uma só dono e vamos fazer o projeto primitivo que é distribuir as terras para os colonos, estudantes de tecnologia, engenharia, agronomia, pessoas técnicas”.
veja cópia abaixo:
À Presidente Dilma Rousseff,
Carta 1- Tirar o Pontal dos pobres para dar a um rico é roubo
Creio que um governante deve ter mil olhos para vê a nação que governa, seu povo, seus problemas, os acertos e os erros. Eu quero levar ao seu conhecimento um assunto que contraria toda a sua linha de pensamento. Trata-se de assuntos ligados a irrigação no Vale do São Francisco, mas especificamente a cidade de Petrolina, que é o centro da irrigação no Nordeste e no Brasil.
O município é o que mais produz fruta no Brasil, mesmo estando situada no Semiárido, e isso em conseqüência dos projetos de irrigação. A cidade ocupa o 3° PIB agropecuário do país, dentre os seis mil municípios brasileiros. A renda per capita de Petrolina chega a ser de R$12 mil. Como vemos, esta cidade se ergueu economicamente por conta da irrigação. Mas, a irrigação é uma ação embrionária e nós temos muito o que fazer. Nós temos muito mais terras para irrigar.
O modelo de irrigação escolhido para Petrolina foi o da parcela familiar. Selecionaram-se famílias que trabalhavam na região do sequeiro e elas venderam suas terras para a Codevasf e firmaram um pacto de que quando fosse terra molhada e irrigável elas seriam selecionadas e teriam a terra para trabalhar.
Isso aconteceu no projeto Nilo Coelho, Maria Tereza, Ponta da Serra, em Petrolina, e nos projetos Mandacuru e Maniçoba, em Juazeiro-BA. Esses são modelos sugeridos por uma empresa de Israel e o governo brasileiro aceitou. O beneficiado nesse modelo de irrigação é o pequeno colono, o operário. Hoje constatamos uma grande alegria por parte dos colonos, para isso basta que conversemos com um deles.
No seu governo estava quase pronto o projeto Pontal. Cerca de 60 km feitos em governos anteriores e que estavam em fase de finalização para serem entregues aos desapropriados. Após isso seria celebrado o pacto escrito, ou seja, eles venderiam as terras, mas teriam a certeza de que seriam selecionados, tendo em vista os que tivessem aptidão.
A sua política que diz ter uma linha voltada para o social abandonou a possibilidade de aproveitar 700 operários e transformá-los em proprietários, técnicos agrícolas, agrônomos, administradores de empresa. Essa seria a massa humana apropriada para o modelo que se queria estabelecer.
O que fez o seu governo na ultima gestão do Ministério da Integração? Esqueceu todo o sucesso da parcela familiar. Esqueceu que Petrolina é o maior produtor de frutas e o maior exportador de frutas para o Japão, Estados Unidos. Esqueceu tudo isso e inventou um novo modelo de irrigação.
Qual é esse modelo? Um modelo em que o pequeno não tem parcela nenhuma. Quem foi desapropriado que se dane. Inventaram uma concorrência, onde só concorreu uma firma que nunca plantou um pé de coentro e entregou a ela o direito de explorar essa terra de oito mil hectares deixando os antigos proprietários, os técnicos agrícolas, administradores de empresas a ver navios, sem a possibilidade de crescer. São 700 pessoas frustradas, desiludidas, mas seguras de que Vossa Excelência não sabe disso.
Em vez de beneficiar muitos com terra molhada com um canal feito com as obras do governo está acontecendo o contrário.Tudo que foi feito pelo governo e entregue a uma pessoa só. A aspiração de ser dono de terra, de produzir, ser bem sucedido, não existe mais e essas pessoas continuarão sendo simples cortadores de cana, operários de salário mínimo.
Senhora Presidente, não me parece que Vossa Excelência conheça esse problema. Ninguém tem ideia fixa. Por gentileza, mergulhe o conhecimento dos seus auxiliares nesse assunto, cancele essa ideia louca, insensata, de entregar oito mil hectares a uma só dono e vamos fazer o projeto primitivo que é distribuir as terras para os colonos, estudantes de tecnologia, engenharia, agronomia, pessoas técnicas.
Eu queria merecer a sua atenção para esse problema. Acho contraditório o seu governo fazer um discurso e seus ajudantes outro. Ao invés de favorecer os menores, beneficiará os megacapitalistas.
Queria muito a sua atenção para esse problema, o que acontece é grave e eles vão reagir contra essa inovação. Isso é um roubo. Roubaram o projeto Pontal.
Atenciosamente,
Osvaldo Coelho
Ex-Deputado Federal por 8 legislaturas (DEM)