Pivô de esquema de desvios no DNOCS, Allpha registrou aumento de 800% na movimentação bancária em um ano

Por Gabriel Lopes, do BN

Foto: DivulgaçãoPrincipal empresa apontada na operação que apura um esquema de fraudes e desvios de recursos públicos envolvendo o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), a Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda apresentou crescimento exponencial na movimentação financeira ao longo dos últimos anos, indicando uma rápida expansão dos negócios ilícitos.

 

O indicativo foi feito pelo Setor de Inteligência da Polícia Federal na Bahia e consta em inquérito policial remetido à Justiça. O documento, obtido pelo Bahia Notícias com exclusividade, mostra que a análise cruzada entre receita declarada e movimentação bancária, junto com o histórico de alterações no capital social, evidencia práticas de ocultação de titularidade e perações de lavagem de dinheiro.

De acordo com a PF, a Allpha era utilizada como a principal empresa do grupo criminoso para contratos públicos superfaturados e pagamento de propinas, e tem os irmãos Alex e Fábio Rezende Parente como donos. Os dois foram identificados como integrantes do núcleo central da organização.

 

“A Allpha Pavimentações é o veículo central do grupo criminoso para garantir contratos com órgãos públicos, especialmente DNOCS e prefeituras, facilitado pela cooptação de servidores públicos e operadores políticos. Esse direcionamento assegura à Allpha vantagens em licitações e contratação direta para obras e serviços com valores superfaturados, aumentando as margens de lucro e possibilitando o desvio de recursos”, diz a Polícia Federal no inquérito.

 

Com base na análise das movimentações financeiras da Allpha Pavimentações, confira abaixo o crescimento expressivo da empresa:

– 2020

Receita Bruta Declarada: R$ 1.598.276,12

* Movimentação Financeira (Créditos): R$ 2.004.502,14

* Movimentação Financeira (Débitos): R$ 2.024.477,08

Análise da PF: A movimentação já é superior à receita, indicando sinais de omissão de receita e ocultação de capital.

– 2021

Receita Bruta Declarada: R$ 14.838.745,82

Movimentação Financeira (Créditos): R$ 18.060.639,86

Movimentação Financeira (Débitos): R$ 16.595.789,68

Análise da PF: Um crescimento significativo em relação ao ano anterior, com um aumento de aproximadamente 800% na receita declarada e cerca de 800% na movimentação

bancária, sugerindo uma expansão dos negócios ilícitos, possivelmente por meio de contratos públicos direcionados e superfaturados.

– 2022

Receita Bruta Declarada: R$ 41.390.437,97

Movimentação Financeira (Créditos): R$ 33.042.870,71

Movimentação Financeira (Débitos): R$ 34.260.191,35

Análise da PF: A receita declarada e a movimentação financeira mostram um crescimento acelerado. A movimentação é mais de 15 vezes superior à de 2020, refletindo uma expansão agressiva das operações ilícitas, possivelmente pelo aumento da rede de

contratos públicos.

– 2023

Movimentação Financeira (Créditos): R$ 80.551.000,48

Movimentação Financeira (Débitos): R$ 82.294.172,28

Análise da PF: O volume de créditos e débitos mais que dobrou em relação ao ano anterior, indicando uma aceleração contínua no volume de negócios do grupo criminoso. Esse crescimento aponta para um aumento da capacidade de contratos e propinas envolvidos.

 

“Esse crescimento exponencial da movimentação financeira sugere que o grupo criminoso conseguiu ampliar rapidamente o alcance e a escala de seus negócios ilícitos, refletindo uma estrutura que se adaptou para manejar e expandir o fluxo de capital ilícito”, diz trecho do documento.

Além disso, a empresa passou por alterações estratégicas no capital social, refletindo a intenção de ocultar o controle real da empresa por Alex Parente. Em 2020, Clebson Cruz de Oliveira foi incluído como sócio majoritário, detendo 95% das cotas para encobrir o controle de Alex, mas em 2022, Clebson foi substituído por Alex e Fábio Parente, que assumiram participação formal de 25% cada.

Em 2019, o capital social foi elevado para R$ 3 milhões, e em 2023 alcançou R$ 16 milhões.

ALVOS DA OPERAÇÃO

Lucas Lobão: ex-coordenador do DNOCS na Bahia

Alex Rezende Parente: empresário

Fábio Rezende Parente: empresário

José Marcos de Moura: empresário, conhecido como Rei do Lixo

Flávio Henrique Pimenta: servidor público

Clebson Cruz de Oliveira

Fábio Netto do Espírito Santo

Orlando Santos Ribeiro

Francisco Manoel do Nascimento Neto: vereador de Campo Formoso

Kaliane Lomanto Bastos

Claudinei Aparecido Quaresemin

Itallo Moreira de Almeida

Evandro Baldino do Nascimento

Geraldo Guedes de Santana Filho

Diego Queiroz Rodrigues

Ailton Figueiredo Souza Junior

Iuri dos Santos Bezerra

A OPERAÇÃO

A Operação Overclean apura desvios de emendas parlamentares no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). A investigação teve início a partir de uma notícia-crime da Controladoria-Regional da União no Estado da Bahia (CGU) sobre irregularidades em contratos entre o órgão e a empresa Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda.

A organização criminosa atuava fraudando e direcionando procedimentos licitatórios em favor das empresas controladas por seus líderes, alvos da ação da PF, utilizando empresas fantasmas, superfaturamento de contratos e pagamento de propinas a servidores públicos.

Segundo a Polícia Federal (PF), durante o período investigado, a organização criminosa teria movimentado em torno de R$ 1,4 bilhão, incluindo R$ 825 milhões em contratos firmados com órgãos públicos apenas neste ano. Foi determinado o sequestro de R$ 162,4 milhões referentes ao valor obtido pela organização criminosa por meio dos crimes investigados, aeronaves, imóveis de alto padrão, barcos e veículos de luxo.

Também foi ordenado o afastamento de oito servidores públicos de suas funções. Ainda segundo informações, a apuração contou com cooperação da Agência Americana de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI).

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