Processo contra hospital, onde um feto teve o pescoço cortado, foi arquivado

Maria Raimunda

Grazzielli Brito – Ação Popular

Em janeiro de 2008, Maria Raimunda Coelho dos Santos, moradora da comunidade quilombola do Curupira em Santa Maria da Boa Vista (PE), esperava o nascimento de sua filha. No dia 25 ela sentiu dores e procurou atendimento médico na Unidade de Saúde em Santa Maria, sendo encaminhada ao hospital Dom Malan em Petrolina (PE).

Lá, outro médico a examinou e concluiu que o parto de Raimunda deveria ser uma cesariana, devido ao peso do feto que já atingia 4, 915 kg e a pressão elevada da mãe. Mas, infelizmente ele não poderia realizar o parto porque o hospital não tinha material e por esse motivo a encaminhou para o Hospital Pró-Matre em Juazeiro, inclusive com a ultrassonografia que indicava o parto Cesário e o cartão do pré-natal, que Raimunda fez rigorosamente.

Na Pró-Matre, as indicações do médico do Dom Malan e a ultrassonografia não foram consideradas e o parto normal foi induzido. O que aconteceu depois disso é relatado por Raimunda. “Eu não tinha condições de parir normal, além dos fatores de risco que eu tinha, havia o fato de que meu último filho pesou 4, 950 quilogramas, e eu quase morri por causa da hemorragia, mas o médico, Dr. Fernando Ribeiro, não deu à devida atenção e prosseguiu com o parto normal”.

“Durante o parto, o feto não saiu por inteiro, somente a cabeça, e na tentativa de retirar foi quebrada a clavícula da criança, mas foi uma tentativa sem sucesso. Quando Dr. Fernando viu a gravidade da situação ficou em estado de desespero, sem condições de prosseguir o parto. Chamaram o Dr. Valquirio, que teve que cortar o pescoço do bebê e realizar uma cesárea para poder retirar o resto do corpo”, conta abalada. “Depois do choque e de todo o trauma que sofri, resolvi colocar esse caso na justiça na esperança de que as devidas medidas fossem tomadas, isto é, que os culpados da morte da minha filha respondessem por esse terrível crime”.

A mãe teve que reviver essa situação, relatando todo seu drama novamente para divulgação conhecimento público, porque após quatro anos recebeu a notícia de que o processo estava arquivado.

Uma das testemunhas do processo, a técnica de enfermagem Clara Maria Souza, amiga da família e que acompanhou Raimunda no referido dia, no Hospital Dom Malan, onde estava trabalhando, disse que acha cruel que a mãe não tenha acesso nem a sentença. “Eles dizem que está arquivado. Foi negado a ela o direito a conhecer a sentença e que ela procurasse outro advogado pra reabrir o processo. Não tem como deixar esse caso pra lá. Logo depois que aconteceu essa tragédia o Dr. Valquírio, me ligou e disse que sabia que eu tinha conhecimento com a família e que eu pedisse pra não colocar na Justiça e eu me neguei a isso. Sou mãe não quero que isso aconteça comigo nem com ninguém”.

“Se não fosse o descaso, hoje ela estaria comigo e com os irmãozinhos”, lamenta Raimunda.

A reportagem tentou contato com os dois médicos e não conseguiu.

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