A ilusão do porte de armas para o ‘cidadão’

Armas foram apreendidas durante a operação. Foto: Bobby Fabisak‎ / JC Imagem
Armas foram apreendidas durante a operação. Foto: Bobby Fabisak‎ / JC Imagem

Por Roberto Numeriano

Por conta do meu trabalho, tenho o direito de possuir e portar arma de fogo privativa das Forças Armadas (apesar de ser civil). Nunca quis, nem vou querer. E nem é porque desconheça ou me considere imune à violência das ruas e nos espaços privados. Há uns 15 anos, fui vítima de assalto. Levei um tiro no rosto. Passei por uma cirurgia de cinco horas. Fiquei em UTI etc.

Já antes desse trágico evento, sempre combati essa ideia estúpida de os brasileiros terem acesso (como quer o Boçalnato, indiscriminado) a pistolas e revólveres. Por ocasião do plebiscito, fui contra. Saí em campanha pelo Recife. Felizmente, não passou. E me tornei ainda mais convicto da necessidade de restringir ainda mais o acesso às armas de fogo.

Somente inocentes e “metidos a macho” imaginam que estarão “protegidos”, acaso portem uma arma no carro, na cintura etc. A investida do bandido usa sempre o chamado efeito surpresa. Em raríssimos casos, mesmo os profissionais experimentados no manuseio e na reação a uma abordagem criminosa conseguem inverter a situação de desvantagem. A tendência é a vítima morrer. E quase todos morrem. E sabe o que acontece ao assassino? Quase nunca será preso e punido.

No último ano 60 mil pessoas foram assassinadas no país (na prática, vivemos uma guerra civil branca). Somente 8% dos crimes foram elucidados e tiveram seus autores presos para responderem a processo.

Sabe o que vai acontecer se a proposta imbecil do Boçalnato passar, se ele for eleito? O aumento imenso dos crimes de proximidade, entre as pessoas ditas comuns. Teremos milhares de pessoas mortas por conta de discussões de trânsito, em conflitos entre homem e mulher dentro de casa, nas cenas de ciúme em eventos públicos etc. Sem falar nas reações em geral inúteis de quem for abordado num assalto, ao chegar ou sair de casa de carro.

A ideia estúpida de liberar arma vai, possivelmente, dobrar o número de homicídios no país. E sabe quem vai ser preso, quase sempre? Aquele chamado “cidadão comum” que imaginou se proteger portando uma arma. Simples assim.

Roberto Numeriano é professor, jornalista, pós-doutor em Ciência Política e candidato a deputado estadual pelo Avante

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