A saga de Casimir Pulaski, o herói de guerra que, na verdade, pode ter sido uma mulher
Durante o século 18, o general lutou ao lado dos americanos contra os britânicos — e um estudo de 2019 revelou um segredo inesperado sobre sua verdadeira identidade
Em 2019, o documentário produzido pelo canal americano Smithsonian Channel, chamado America’s Hidden Stories: The General Was Female? revelou uma das maiores reviravoltas da História dos Estados Unidos.
Utilizando o DNA da sobrinha neta do general Casimir Pulaski, que lutou na Guerra de Independência dos EUA, pesquisadores da Georgia Southern University foram capazes de descobrir que o herói de guerra, na verdade, poderia ser uma mulher.
A saga
Nascido em 1745, em Winiary, na Polônia, o general Casimir Pulaski se uniu ao exército americano em 1777, durante a Guerra de Independência dos EUA. Lutou contra as tropas britânicas e se tornou um herói de guerra tanto na Polônia quanto nos EUA.
Considerado “o pai da cavalaria americana”, Pulaski se interessou por política para seguir os passos de seu pai, no entanto, preferiu trilhar seu próprio caminho ingressando nas Forças Armadas.
Um de seus primeiros atos foi lutando contra o domínio russo. Porém, com a falha da revolta, teve que seguir para o exílio, e foi então que decidiu se mudar para a América do Norte, pensando que seria de grande ajuda na guerra que estava sendo travada.
Mal sabia ele que em terras americanas eternizaria seu nome como um dos maiores combatentes da História. Em 1779, durante a Batalha de Savannah, Casimir foi morto por tiros de metralhadora, pouco tempo depois de fundar a Legião de Cavalaria Pulaski.
Seus feitos foram lembrados, sendo uma das oito pessoas a receber a cidadania honorária dos EUA, jamais tinham visto um homem de tamanha bravura. De fato, não teriam visto homem nenhum, mais de 200 anos após seu óbito, a revelação de que seu gênero estava errado chocou o mundo.
O estudo revelador
Há cerca de 20 anos, cientistas americanos exumaram o corpo de Pulaski, sepultado na cidade de Savanah, na Geórgia, onde morreu. Os pesquisadores se surpreenderam ao notar que o esqueleto apresentava características femininas, mas não conseguiram determinar se os ossos eram realmente do general, que morrera séculos antes.
Por isso, no ano de 2019, os estudiosos decidiram realizar um exame a partir do DNA da sobrinha neta de Pulaski para confirmar que os ossos eram mesmo dele. A confirmação veio, a história foi reescrita.
Segundo Virginia Hutton Estabrook, professora assistente de antropologia na Georgia Southern University, “uma das características que diferenciam os esqueletos masculinos e femininos é a pélvis”. Nas mulheres, a cavidade pélvica tem formato mais oval, enquanto nos homens ela apresenta forma semelhante a um coração. A pélvis do esqueleto de Pulaski revelou-se pertencente a uma mulher.
Além disso, o esqueleto mostrava sinais de desgaste causado pela equitação e uma ferida de batalha na mão direita – o que é coerente com a história conhecida do general. Ao mesmo tempo, a estrutura facial e o ângulo da mandíbula são femininos.
A equipe anunciou uma teoria, que pode ser encontrada em diferentes histórias do passado: o general era uma mulher que vivia como homem ou era intersexual. De acordo com Estabrook, havia hormônios masculinos suficientes no corpo, de modo que Pulaski tinha pelos faciais e calvície masculina.
“Obviamente, houve algum desenvolvimento genital porque temos seus registros batismais e ele foi batizado como filho”, afirmou a pesquisadora.
A tese é chamada de hiperplasia adrenal congênita, no qual um feto com cromossomos femininos é exposto a uma grande quantidade de testosterona, que faz com que o futuro humano desenvolva genitais parcialmente masculinos e características femininas.
Assim, é difícil definir se o herói de guerra era homem ou mulher, tanto que Casimir foi criado como menino e se apresentava como alguém do sexo masculino.