Abate de jumentos cresce 8.000% no Brasil e já ameaça a espécie

De 2015 para cá, quase 92 mil desses animais foram destinados ao mercado legal e ilegal de pele. Especialistas alertam para possibilidade de extinção de um dos símbolos da fauna brasileira

 

O abate de jumentos, animal com grande valor cultural para o Brasil, cresceu 8.000% de 2015 para cá, período em que foram registradas 91.645 mortes desse tipo de equídeo no país. A cifra, segundo especialistas, é muito elevada e pode levar à extinção da espécie, muito comum nos sertões brasileiros.

No caso dos jumentos, é a pele que tem grande valor comercial, movimentando um mercado (legal e ilegal) milionário, sobretudo para exportações. No Brasil, a atividade já era legalizada, mas passou a contar com um arcabouço legal bem mais amplo a partir de 2017, quando um decreto ordenou de forma mais clara esse tipo de abate no país.

Para se ter uma ideia do crescimento desse mercado, de 2010 a 2014 aproximadamente 1.000 jumentos foram mortos e destinados a esse fim, um número contrastante quando olhamos para os quase 92 mil registrados no período mais recente.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, que trabalham o manejo e o bem-estar desses animais, em artigo publicado numa edição especial do Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, explicaram que, nessa velocidade, será inevitável a extinção da espécie, uma vez que os jumentos estão sendo mortos numa marcha muito maior do o tempo de reprodução dele.

O último censo do tipo, datado de uma década, aponta para um número de aproximadamente 400 mil jumentos no Brasil, mas esse número vem apresentando uma drástica redução. O ritmo intenso é para alimentar um mercado encabeçado por nações como Itália, Portugal, Hong Kong, Espanha e China, que antes dos explosivos indicadores registrados de 2015 para cá já compravam 7.354 toneladas da pele do animal.

Por ser um tipo de comércio que envolve práticas ilegais e criminosas, é muito difícil ter estatísticas precisas sobre o tema. No Brasil, pelo menos, os indicadores são mais confiáveis, uma vez que esse animal está restrito a regiões geográficas específicas e sujeito a uma forte fiscalização de órgãos sanitários e de meio ambiente.

A Bahia é o estado que registra os maiores índices de abate de jumentos no país. Só no período de 2017 a 2019 foram registrados legalmente o abate de 84.112 desses bichos, embora autoridades alertem para uma possível expansão ilegal da atividade, visto os altos lucros com o comércio de peles. Por lá, não é difícil encontrar jumentos sendo oferecidos aos abatedouros pelo valor irrisório de R$ 30.

 

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