Atraso: Velocidade média da internet brasileira ocupa a 95ª posição em ranking mundial

Renata sofre com a internet lenta e, ainda, com a falta de opções de operadoras onde mora
Renata sofre com a internet lenta e, ainda, com a falta de opções de operadoras onde mora 
Rafaella Barros

O carioca que recebe um salário mínimo chega a trabalhar o dobro de horas de alguns estrangeiros, que também recebem o piso em seus países, para pagar por um plano de internet banda larga (semelhante ou pior). Essa comparação é feita com outros consumidores das Américas: dos Estados Unidos, da Argentina, do Chile e do Uruguai. Os dados levantados pelo EXTRA (confira abaixo) exemplificam o quanto a internet brasileira é ruim e cara, como comprovam os especialistas do setor de telecomunicações.

— Eu pago R$ 30 por um plano de 1 Mbps (Megabite por segundo, para download). Eu acho caro, considerando que a rede para toda hora. Já vi filmes inteiros, mas vários travam — contou a biomédica Renata Cavaliere, de 31 anos.

A moradora de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, como a maioria dos brasileiros, tem uma velocidade de conexão à web muito baixa. Daí, a posição do país no ranking mundial divulgado pela consultoria americana Akamai: de 146 países, o Brasil ocupa a 95ª posição em relação à velocidade média de banda larga fixa, com apenas 4,5 Mbps, contra 29 Mbps da líder Coreia do Sul.

Luiz Carlos Santin, sócio-diretor da consultoria Nextcomm, aponta três empecilhos para a melhoria da internet no Brasil: o tamanho do país, a alta carga tributária das telecomunicações e a renda da população:

— A internet, apesar de seu uso crescente, ainda é muito cara no país. Então, é difícil encaixar esse gasto no orçamento da maioria. Se você tiver um salário de mil e poucos reais, não vai pagar por um plano de internet que custa mais de R$ 100.

O especialista destaca também a falta de concorrência na maior parte do território.

— Em mais de 85% dos municípios, só há cobertura de até três operadoras, que são as maiores. Há regiões que só têm uma. Por mais que o consumidor queira uma internet rápida, se não tem concorrência, não há investimento — disse Santin.

Carlos Sampaio, executivo-chefe de Tecnologia da Informação do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar) faz a mesma avaliação e acrescenta que falta iniciativa do governo:

— Você não consegue ter estrutura para esse negócio funcionar num intervalo de dois a quatro anos. No Brasil, não há interesse político de fazer algo que vai ficar pronto após o fim de um mandato. Os países que figuram entre os dez primeiros no ranking tiveram iniciativas dos governos, que depois fizeram concessões à operação pela iniciativa privada.

DEPOIMENTO: Renata Cavaliere, 31 anos, biomédica

“Somente uma empresa cobre a minha rua. Isso prejudica muito os moradores, porque a falta de concorrência reduz a qualidade do serviço. O atendimento pelo telefone é péssimo, os técnicos não sabem nada e, muitas vezes, além de não resolverem um problema, pioram a situação. Mas não adianta reclamar, porque sabem que não vão perder os clientes por conta do monopólio na região”.

Velocidades pioraram em 2015

Dados de 2015 da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que algumas operadoras alcançaram as metas de velocidade, mas, no quadro geral, o país retrocedeu: enquanto, em 2014, os cumprimentos de metas de velocidade instantânea (medida assim que a conexão é feita) e de velocidade média tinham sido de 84,8% e 97,7%, respectivamente, no ano passado, os percentuais caíram para 63,8% e 86,1%. Sobre a qualidade, no entanto, Fabricio Tamusiunas, gerente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br — entidade que executa as decisões do Comitê Gestor da Internet), ressalta:

— A internet no Brasil é muito heterogênea. Se considerássemos somente São Paulo e Rio de Janeiro, certamente estaríamos entre os 30 melhores do mundo.

Enquanto o Brasil ainda engatinha na velocidade, a Coreia do Sul não se acomoda em sua liderança. O país oriental entrega até 1 Gbps (Gigabite por segundo) aos clientes e planeja, em até quatro anos, alcançar 10 Gbps.

 

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