Cem anos depois, o que restou da Bauhaus?

Edifícios em Weimar e Dessau são monumentos, mas não são relíquias de uma época passada. Neles, hoje ainda perduram o ensino e a pesquisa no espírito de seus pioneiros, mas com novas ideias.

    
Prédio da Bauhaus em WeimarPrédio da Bauhaus em Weimar é ícone do modernismo

Na Weimar dos anos 1920, quando as crianças não obedeciam, dizia-se: “Se você não se comportar vai para a Bauhaus”. Lá, na escola de artes e ofícios fundada em 1919, viviam os “loucos”, que dançavam ruidosamente pelas ruas em coloridos trajes de teatro e pintavam quadros com triângulos, círculos e quadrados.

Hoje, estudantes de todo o mundo vão estudar na instituição que a sucedeu, a Universidade Bauhaus, em Weimar. Com cerca de 4.080 estudantes de 70 países, ela é uma das universidades mais internacionais da Alemanha. Desde 1996, os prédios da Bauhaus em Weimar e Dessau são Patrimônio Mundial da Humanidade e atraem tanto turistas quanto estudantes.

Oficinas de pintura, marcenaria, tecelagem ou metalurgia não existem mais nos prédios históricos e nos novos edifícios da Universidade Bauhaus. O diretor fundador, o arquiteto Walter Gropius, queria que artistas e artesãos trabalhassem juntos e aprendessem uns com os outros. Hoje, a universidade oferece faculdades de Arquitetura e Urbanismo, Arte e Design, Engenharia Civil e Mídia.

O conceito de que os alunos possam aprender em várias faculdades, através de módulos e projetos específicos, continua viva, principalmente no ano do centésimo aniversário, diz Nathalie Singer, professora de rádio experimental e vice-presidente da Universidade Bauhaus.

“No meu grupo existe, por exemplo, um passeio guiado com áudio em que pessoas da área de áudio e mídia trabalham com outras da preservação do patrimônio arquitetônico. Estas geram o conteúdo sobre os cem anos da Bauhaus, que é então implementado pelo pessoal de mídia num audiowalk“, explica Singer.

Foto da Universidade Bauhaus, na antiga sede da Bauhaus em WeimarUniversidade Bauhaus ocupa antiga sede da Bauhaus em Weimar

No início dos anos 20, a Bauhaus trabalhou ao lado da indústria na elaboração de produtos de design. Estudantes e professores projetaram objetos de formas simples e fácil manuseio. Gropius queria que arte e tecnologia formassem uma nova unidade.

Hoje a Universidade Bauhaus não desenvolve mais objetos para a indústria, mas investiga o que as novas tecnologias significam para a sociedade. Para o aniversário de centenário, a universidade em Weimar lançou um Semestre da Bauhaus a partir de outubro de 2018.

“Numa série de palestras e colóquios, por exemplo, analisamos quais ideias daqueles dias podem ser transferidas para a era digital ou para questões atuais sobre a relação entre ser humano, natureza e tecnologia”, explica Singer. “Por exemplo, nos deparamos com a grande questão do que a digitalização está fazendo com o design, mas também com a sociedade e seu comportamento social.”

A sustentabilidade desempenha um papel importante entre engenheiros civis e arquitetos. Após a Primeira Guerra Mundial, para a Bauhaus, o mais importante era construir de forma prática e de baixo preço, a fim de facilitar a mobilidade e o trabalho das pessoas.

Naquela época, não se falava em sustentabilidade e eficiência energética. “Estes são temas que têm maior importância hoje”, comenta Singer. “Através dos pesquisadores, os resultados chegam à sociedade. Já registramos patentes que foram então implementadas.”

Em 1925, devido à tensa situação política, os “loucos” da Bauhaus tiveram que se mudar de Weimar para Dessau, onde Gropius projetou para a famosa escola um edifício que impressiona com sua fachada contínua de vidro. Esse patrimônio mundial é hoje um ícone do modernismo.

A estudante turca Eci Isbilen, que faz doutorado em arquitetura, veio especialmente da Universidade Politécnica da Virgínia, nos EUA, para participar de um workshop (Bauhaus Lab) na Academia Bauhaus em Dessau.

Segundo Isbilen, o edifício da Bauhaus em Dessau é hoje um destino popular para os peregrinos da arquitetura, mesmo que o prédio não atenda mais às normas construtivas atuais. “É preciso vivenciar este lugar por mais tempo, então se começa a conhecer as suas qualidades”, explica a doutoranda. “Os janelões combinam com o local. Você pode abri-los em ambos os lados. É gostoso trabalhar quando lá fora faz calor. Portanto, o edifício é eficiente em outro sentido.”

A Academia, que faz parte da Fundação Bauhaus Dessau, não só oferece workshops, mas também programas de pós-graduação de um ano em cooperação com a Universidade de Ciências Aplicadas de Anhalt e a Universidade Humboldt, de Berlim. Já nos tempos da antiga Alemanha Oriental, a Bauhaus em Dessau havia sido reaberta como uma mescla de instituição cultural e de pesquisa. Criada em 1994, a fundação dá prosseguimento a essa abordagem.

Durante muito tempo, a Bauhaus de Dessau ofereceu oficinas, envolveu-se em projetos sociais, como também em projetos urbanísticos até os anos 2000 na região. Recentemente, esse foco mudou para o trabalho de curadoria local, diz Regina Bittner, diretora da Academia.

“Com os prédios da Bauhaus e o novo museu, que será inaugurado no ano de aniversário, tentamos a partir do legado da Bauhaus criar ligações com o presente e incorporar objetos de nossa própria coleção à ciência do design”, explica Bittner.

CIDADE DE WEIMAR REÚNE MUITA HISTÓRIA EM POUCO ESPAÇO

A praça central do centro histórico em Weimar

O centro histórico

Um dos prédios mais marcantes é a Stadthaus (à direita), em estilo renascentista. Ao seu lado fica o hotel Elephant, que acolhe os hóspedes ilustres da cidade.

Castelo Stadtschloss de Weimar

CIDADE DE WEIMAR REÚNE MUITA HISTÓRIA EM POUCO ESPAÇO

Castelo de Weimar

A partir de meados do século 16, o castelo de Weimar (Stadtschloss) serviu de residência para os duques da Saxônia e Weimar. No final do século 18, o duque Carl-August e sua mãe, Anna Amalia, transformaram a cidade em centro da história intelectual e cultural alemã. Hoje em dia, o castelo abriga a coleção de arte dos duques e é parte do patrimônio cultural mundial Weimar Clássica.

O Teatro Nacional Alemão, em frente às estátuas de Goethe e Schiller

CIDADE DE WEIMAR REÚNE MUITA HISTÓRIA EM POUCO ESPAÇO

Teatro Nacional Alemão

O Teatro Nacional Alemão, que foi dirigido por Johann Wolfgang von Goethe a partir de 1791 como teatro da corte, também foi palco de um importante acontecimento político. Em 1919, aconteceu ali a Assembleia Nacional da República de Weimar, a primeira república alemã. Hoje em dia, o local serve de palco não só para o teatro, mas também para as apresentações da Orquestra Estatal de Weimar.

Casa de dois andares de Johann Wolfgang von Goethe em Weimar

Casa de campo de Goethe

Johann Wolfgang von Goethe foi para Weimar em 1775, a convite do duque Carl-August. Para morar e trabalhar, ele ganhou esta casa no meio do parque de Weimar, às margens do rio Ilm, um afluente do Elba. Mais tarde ele se mudou para uma casa maior, que hoje também é museu.

A casa de Schiller em Weimar

A casa onde morou Friedrich Schiller

Com moradia garantida por Goethe e o salário pago pelo duque, Friedrich Schiller mudou-se para Weimar em 1799. O escritor morou e trabalhou no segundo andar deste prédio, que hoje é um museu. Com exceção da “Virgem de Orleans”, todos os dramas tardios de Schiller foram encenados no teatro da corte de Weimar.

Salão rococó da Biblioteca Anna Amalia

Salão rococó da biblioteca Anna Amalia

A Biblioteca Anna Amalia, com seu famoso salão em estilo rococó, foi reaberta em 2007, após restaurações devido a um incêndio. A biblioteca foi uma das primeiras a permitir ao público os livros de um nobre. Também Goethe e Schiller trabalharam aqui. Schiller, aliás, a administrou durante vários anos. Hoje, ela é uma biblioteca para pesquisa, com foco em literatura alemã em torno de 1800.

Universidade Bauhaus em Weimar

Gropius e a Bauhaus

Desde 1996, esta instituição em Weimar se chama Universidade Bauhaus. Ela foi fundada em 1919 por Walter Gropius, o sucessor de Henry van de Velde na direção da Academia de Belas-Artes do Grão-Ducado da Saxônia. O arquiteto Gropius elaborou o currículo e mudou o nome da instituição de ensino para Escola Estatal Bauhaus, onde ensinou a consonância entre arte e tecnologia.

Memorial Buchenwald

Nazismo em Weimar

No monte Ettersberg, perto de Weimar, um enorme memorial lembra as crueldades praticadas pelo regime nazista. Ali funcionou a partir de 1937 o campo de concentração Buchenwald, um dos maiores campos de extermínio na Alemanha. Aqui morreram 56 mil pessoas vítimas de tortura, experiências médicas ou fraqueza.

Cartaz destaca Weimar como capital cultural em 1999

Compromisso com a cultura

Em 1999, já após a queda do Muro de Berlim, Weimar foi a primeira cidade do antigo bloco europeu oriental a ser capital cultural da Europa. E isso por vários motivos: um deles é a festa das artes que acontece ali a cada verão europeu. O festival de arte contemporânea une literatura, música, teatro, dança e artes visuais.

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