Centenário: Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, uma relação histórica permeada por atritos e reaproximações

Arquivo JC Imagem
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Rompimentos entre amigos acontecem a todo momento. Amizades vem e vão em um movimento natural da vida. Mas a separação entre dois caciques políticos costuma atrair atenção pública, discursos duros, divisão em seguidores que compram a briga do aliado atacado, não sendo diferente na relação – ou falta dela – que permeou a história entre o ex-governador Miguel Arraes e o hoje deputado federal Jarbas Vasconcelos.

Do mesmo espectro político, Jarbas e Arraes, até 1992, eram aliados históricos, embora tenham tido ruídos antes desse ano. Se hoje o peemedebista é tido como um dos principais aliados do governo do afilhado político do ex-governador Eduardo Campos, Paulo Câmara (PSB), foi uma discordância em torno de “Dudu” que selou a separação final. Quando Jarbas, em 1992, saiu candidato a prefeito do Recife, recebeu de Arraes a indicação de que precisaria contar com Eduardo, seu neto, na vice. O que foi rejeitado.

No entanto, como recorda o jornalista Ayrton Maciel, desde o começo que atritos apareceram na relação. Ele se refere a 1982, quando o País passava pelo movimento de redemocratização e a pretensão de Arraes de sair candidato ao governo foi abortada. Naquela época, era alegado o “simbolismo devolução” do mandato tirado pelos militares em 1964. Porém, isso não estava nos planos de Jarbas, que, como presidente da legenda em Pernambuco, preferia lançar o senador Marcos Freire, um dos grandes nomes peemedebistas.
Em 1985, eles se reaproximaram com Jarbas disputando a Prefeitura do Recife pelo PSB de Arraes. Um ano depois, Arraes seria eleito governador do Estado e como tal foi acusado pelos jarbistas de não ter apoiado a candidatura de Marcos Cunha. Este foi indicado por Jarbas para sua sucessão na Prefeitura.

O ano era 1990 e agora era o peemedebista que tentava o Palácio das Princesas, sede do Executivo estadual. Com a derrota para Joaquim Francisco (PFL), novamente o discurso de que Arraes não teria se envolvido na campanha foi usado. Dois anos depois veio o “troco” com a recusa do nome de Eduardo para a vice na disputa pelo Recife. A partir daí não voltariam a se aproximar politicamente.
Em 1996, Roberto Magalhães (PFL) foi eleito prefeito do Recife com o apoio de Jarbas, enquanto Arraes apoiou Roberto Freire (PPS). Mas a maior derrota dos arraessistas , com mais de um milhão de votos de diferença, veio em 1998 quando Jarbas venceu e tirou a chance de Miguel Arraes de se reeleger governador. O último encontro deles foi em 2005 pouco antes de Arraes falecer aos 88 anos no Hospital Esperança, no Recife.

Em 2010, coube ao neto de Arraes, Eduardo Campos, “devolver” a derrota sofrida pelo avô, vencendo Jarbas na disputa pelo Estado com uma diferença de mais de três milhões de votos. Dois anos depois, em mais um movimento histórico, Jarbas leva o PMDB de volta para a Frente do Recife, liderada por Eduardo.

Olhando hoje para o passado, Jarbas ressalta que internamente sempre respeitou a figura de Miguel Arraes. “A conclusão que chego é que Arraes foi um político de dimensão nacional. Foi essa a preocupação com os que mais precisavam que norteou a atuação de Arraes. Sempre. E isso, essa atenção dele junto ao povo mais carente, eh o que mais me marcou em sua trajetória. Nosso distanciamento se deu em função de discordâncias no campo político, o que é comum. O respeito sempre existiu”, conclui.

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