A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara promove audiência pública para apurar violações aos direitos humanos contra funcionários – hoje aposentados – da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Os depoimentos acontecem das 9h às 17h da próxima quinta-feira (24), na Sala Calouste Gulbenkian, da Fundação Joaquim Nabuco, no bairro de Apipucos, no Recife.

São sete depoentes: Ulrich Hofmann, Antônio Othon Rolim, Francisco Oliveira, Plínio Soares (chegam de São Paulo e Brasília), Clemente Rosas, Adalberto Arruda e Délio Mendes (residem em Pernambuco).

A repressão militar trouxe, em 1964, as demissões em massa de técnicos e funcionários, considerados opositores ao regime. Os depoentes prestam informações ao colegiado pernambucano acerca do desmonte da Sudene como órgão responsável pelas políticas de desenvolvimento na região Nordeste. As declarações ajudarão na elaboração do Relatório Final da Comissão da Verdade, a ser apresentado em junho de 2016. Socorro Ferraz, historiadora e membro da CEMVDHC coordena os trabalhos relacionados à relatoria.

A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste foi fundada em 15 de dezembro de 1959, pela Lei nº 3692/59. A autarquia é vinculada ao Ministério da Integração Nacional. O economista Celso Monteiro Furtado foi o primeiro superintendente, nomeado pelo presidente Juscelino Kubitschek, onde atuou até 1964. Sediada no Recife, a atuação da Sudene abrange além do Nordeste, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

Instalado o golpe de 1964, Celso Furtado e tantos outros técnicos foram afastados, sumariamente, da instituição, dentre os quais o sociólogo pernambucano Francisco de Oliveira. “Nós ficamos no Palácio do Governo, Celso e eu, com o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, tentando armar uma resistência. Após a ordem de prisão a Arraes, nos apresentamos ao Quartel General do IV Exército. No gabinete do general Justino Alves Bastos estava a aliança das forças do golpe”, rememora.

Em 06 de abril de 1964, Francisco de Oliveira foi preso. “Durante a madrugada, eles apareceram na minha casa e me levaram numa daquelas antigas Rurais Willys, espremido entre dois ‘tiras’ da Polícia Civil de Pernambuco.” Depois de dois meses de prisão, voltou a Sudene e sofreu represálias. Com a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM), veio a acusação de que teria municiado todos os carros do órgão com metralhadoras, com estratégias de resistência.