Como tudo que parece sólido, golpe se desmancha

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Pode parecer paradoxal, mas quanto mais se aproxima o dia D do impeachment (hoje, é o que se diz), depois de dez meses de insistência do PSDB, mais a tese do impeachment se desmancha no ar, como tudo que é (ou parecia ser) sólido.

Não há mais movimento “nas ruas”. As panelas pararam de bater. À medida que escorrem os dias, mais claro fica que não há motivo. Outro dia o insuspeito ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que nunca economizou críticas ácidas ao PT, avisou que impeachment é para casos em que o presidente comete o crime, ele diretamente, não através de terceiros, e Dilma não cometeu crime algum, além de glorificar a mandioca e fazer blague com estocagem de vento que foi levada a sério por opositores empedernidos.

Não há crime, não há impeachment – essa ideia vai se cristalizando nas cabeças dos brasileiros de vários setores e pensamentos. Há dois dias foi Delfim Netto. Chamou, com o sarcasmo habitual, as tratativas do impeachment de “golpezinho”. E, cá entre nós, de golpe ele entende.

Ausente o motivo principal – não há crime –, a tese cai por terra. Mas ainda que houvesse, ainda que a presidente tivesse cometido malfeito que não cometeu, também importa quem encaminha o impeachment. Em 1992, quem deu o pontapé inicial do único processo de impeachment havido no Brasil foi um presidente da Câmara dos Deputados acima de qualquer suspeita e respeitado nacionalmente, chamado Ibsen Pinheiro.

A seguir também foi cassado, mas essa é uma outra história. O que eu quero dizer é que numa democracia ninguém pode levar a sério um processo de impeachment encaminhado por um presidente da Câmara que, ao contrário do Ibsen de 1992, não tem respeitabilidade nem apreço nem dos seus pares nem da nação e só não caiu ainda porque a política tem razões que a própria razão desconhece.

A ele são imputados crimes os mais variados – e como alguém com esse retrospecto pode abrir processo contra alguém que não cometeu crime algum? O impeachment só serve para quem precisa de impeachment. E não é o Brasil.

Fonte: 247

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