Comunidades tradicionais realizam manifestação contra a inauguração do Projeto de Irrigação Baixio de Irecê, em Xique-Xique (BA)

Representantes das 18 comunidades tradicionais de Fundo de Pasto impactadas pelo Projeto de irrigação Baixio de Irecê protestaram, no último final de semana, em Xique-Xique (BA), contra a cerimônia de inauguração da primeira etapa do projeto com a presença do Presidente da República, Michel Temer.

Na estrada que dá acesso ao canal, com faixas e panfletos os manifestantes apresentaram a indignação e a insatisfação com a negligência dos direitos socioambientais e de seus modos de vida. As famílias reivindicam a devolução do território através da realização da Ação Discriminatória Rural, que já deveria ter sido instaurada pela Coordenadoria do Desenvolvimento Agrário – CDA. Eles afirmam que o empreendimento é uma farsa e que não serão escravos do projeto de irrigação.

Um grupo maior, com cerca de 60 pessoas, foi impedido de se unir ao restante dos manifestantes pelo Exército Brasileiro no Km 08 do canal principal do projeto e ainda foi proibido de retornar as suas casas pelo mesmo caminho. Segundo Marcos Félix Bonfim, morador da comunidade de São João, em Itaguaçu da Bahia, a ordem era não deixar ninguém passar, só depois de uma hora, quando o evento acabasse.

“O intuito nosso era protestar, não ia adiantar a gente ir depois se eles não estariam lá. Mas isso não desanima nossa luta, isso deu foi mais força pra gente, quem estava sem coragem acabou voltando com mais fé. Nós queremos as nossas terras para criar, se o canal funcionar vai prejudicar todos nós, onde a gente cria e sobrevive”, afirmou Bonfim.

O Projeto de Irrigação Baixio de Irecê administrado pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF – está localizado entre os municípios de Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia e atinge mais de 700 famílias camponesas. Essa inauguração é uma tentativa de negar os direitos dessa população e, inclusive, descumpre a recomendação do Ministério Público Federal – MPF de que seu início fosse suspenso até que os conflitos fossem resolvidos.

“Eles querem nos dar alguns poucos empregos que dizem que é assalariado. Mas não queremos trabalhar assalariados. Queremos trabalhar como camponeses e criadores. Plantar, colher, cuidar da nossa criação, isso é que é importante pra gente e isso é o que a gente sabe fazer, não queremos perder nosso modo de vida, não queremos trabalhar com veneno ou com trabalhos que só vão ter em época de colheita”, desabafou Maurício Rodrigues, também da comunidade de São João.

As 18 comunidades impactadas possuem certificação de Fundo de Pasto pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial – SEPROMI do Estado da Bahia e vem tendo suas atividades econômicas interrompidas pelo desmatamento das 16.500ha de caatinga para implantação das etapas 1 e 2 do Projeto de Irrigação Baixio de Irecê. Desta forma, o projeto ainda vai desmatar mais de 40 mil hectares para implantação das outras etapas do referido projeto, localizado em um bioma importante para subsistência das famílias das diversas comunidades.

Equipe de Comunicação CPT Bahia

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