Superbactérias e resistência a antibióticos podem matar quase 40 milhões até 2050
Cerca de 520 milhões de registros individuais fizeram parte dos dados analisados neste estudo que projeta a estimativa de mais de 39 milhões de mortes até 2050.
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Um estudo divulgado na revista científica Lancet nesta terça-feira (17) pelo Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington revela que as mortes por infecções bacterianas podem atingir quase 40 milhões de pessoas nos próximos 25 anos.
“A responsabilidade deverá ser das superbactérias que se tornarão resistentes aos medicamentos destinados a tratá-las. Precisamos de atenção apropriada sobre os novos antibióticos e administração dos mesmos para que se possa abordar o que é realmente um problema muito grande”, diz Chris Murray, autor principal do estudo.
Cerca de 520 milhões de registros individuais fizeram parte dos dados analisados neste estudo que projeta a estimativa de mais de 39 milhões de mortes até 2050.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já tinha advertido para a questão das superbactérias, a que classificou de RAM – resistência aos antibióticos. A RAM acontece quando microrganismos (bactérias, fungos, vírus e parasitas) sofrem alterações quando expostos a medicamentos que combatem os micróbios, como antibióticos, antifúngicos, antivirais ente outros, uma vez que conseguem desenvolver a capacidade de resistir aos medicamentos e ganham a categoria de ultrarresistentes. Segundo a OMS, uma das maiores ameaças globais à saúde pública e ao desenvolvimento é motivada pelo uso indevido e excessivo de medicamentos antibióticos em humanos, animais e plantas, o que favorece os micróbios de desenvolverem resistência a essa medicação.
A OMS destacou que, em 2050, morrerão mais pessoas por ano devido às infecções resistentes aos antibióticos do que por câncer.
“Ao analisar o papel da RAM nas mortes por sepsis, descrevemos uma tendência crescente e preocupante de que, quando alguém morre de sepsis, a probabilidade de o organismo causador da infecção ser resistente a medicamentos é 25% maior em 2019 em relação a 1990”, apresenta o estudo.
Entre 1990 a 2021, as mortes por RAM aumentaram mais de 80% entre adultos com 70 anos ou mais, uma tendência que os cientistas consideram que irá continuar. “Mas houve um declínio nas mortes por RAM em menores de 15 anos, principalmente devido à vacinação, programas de água e saneamento, alguns programas de tratamento e o sucesso destes. Grande parte dessa redução se deve também à prevenção de infecções, melhorias no tratamento da septicemia e reduções na mortalidade por sepsis em crianças menores de cinco anos. E, ao mesmo tempo, há um aumento constante no número de mortes acima dos 50 anos. À medida que o mundo envelhece, os adultos mais velhos podem ser mais suscetíveis as infecções graves”, destacou Murray.
Os especialistas afirmam, no entanto que em um cenário onde a população tem melhor assistência médica, 92 milhões de mortes cumulativas poderiam ser evitadas entre 2025 e 2050. “Se crescer ainda o patamar do acesso a medicamentos novos e mais potentes, estima-se que cerca de 11 milhões de mortes cumulativas poderiam ser evitadas”, indicam.
A professora emérita e reitora de ciências da saúde global da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, Steffanie Strathdee, aponta que o estudo demonstra que para se reduzir o fardo potencial da resistência aos antibióticos, exige-se melhorar o acesso a antibióticos e novos medicamentos, vacinas, água limpa e outros aspectos de cuidados de saúde de qualidade em todo o mundo. “Ao mesmo tempo, será preciso diminuir o uso de antibióticos na pecuária, na produção de alimentos e no meio ambiente, o que pode gerar maior resistência”, garante Strathdee.