Direita e esquerda usaram eleição municipal como trampolim para 2026

 

O balanço de atuações e resultados com o encerramento das eleições municipais neste domingo (27) vai projetar os próximos passos na política nacional, em especial com a escolha do novo comando do Congresso, mas também com uma provável reforma ministerial e a movimentação dos dois principais líderes políticos da atualidade no país, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Seja qual for o resultado do segundo turno, as urnas mantiveram majoritariamente neste ano a tendência observada desde 2016 de inclinação do eleitorado à direita.

Esse cenário se materializou nos resultados mais expressivos dos candidatos apoiados por Bolsonaro em relação aos bancados por Lula, pelo menos no primeiro turno, e na bem mais expressiva participação direta em campanhas do ex-presidente em relação ao seu rival.

As eleições de 2026 apontam para um quadro por ora consolidado na enfraquecida esquerda: a união em torno da tentativa de reeleger Lula, até pela ausência de qualquer alternativa eleitoral plausível.

O presidente concentrou sua principal aposta em Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, mas sua ausência em eventos da campanha do apadrinhado nesta reta final, embora coincida com o acidente doméstico que sofreu, sinaliza o pessimismo de lulistas com uma virada em cima de Ricardo Nunes (MDB).

O PT está em 13 segundos turnos. A pedido da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Lula até teve uma participação pessoal maior no segundo turno, visitando outras cidades além de São Paulo, com foco nas que há chance de vitória.

Ele foi a Fortaleza, Natal, Camaçari (BA), Mauá (SP) e Diadema (SP). Manteve-se longe, no entanto, de Porto Alegre, que o PT não vê chances de vitória, e de cidades em que sua visita é vista mais como prejudicial do que benéfica, como Cuiabá (MT).

Lula tem sinalizado a aliados a intenção de fazer uma reforma ministerial. Petistas defendem que ela seja definida com base na força partidária e na lealdade mostrada nas eleições municipais, de forma a reorganizar a esplanada com vistas a privilegiar quem tende a estar no palanque dele à reeleição.

Em um primeiro momento, aliados dizem que Lula tende a mexer nos próprios ministros do PT, uma vez que há insatisfação e críticas internas e de aliados em relação ao desempenho deles.

Estão hoje no governo PSD, MDB e União Brasil, com três ministérios cada um. Já o PP e Republicanos ocupam uma pasta cada.

Desse grupo, PSD e MDB, que elegeram o maior número de prefeitos no país, são vistos por palacianos como mais governistas e propensos a atuar com proximidade no Congresso, até mesmo em um possível bloco com o PT.

Já União Brasil, PP e Republicanos têm em seus quadros congressistas de viés mais de oposição.

Hoje o PSD comanda o Senado, com Rodrigo Pacheco (MG), e o PP a Câmara, com Arthur Lira (AL). Os favoritos para assumirem os postos em fevereiro são Davi Alcolumbre (União Brasil) e Hugo Motta (Republicanos), respectivamente. As negociações sobre o comando das Casas têm movimentado os partidos.

Na direita, Bolsonaro segue como o principal nome e passou as últimas semanas em uma intensa rotina de viagens a boa parte das cidades em que o PL está no segundo turno (23) —roteiro esse que dividiu com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O ex-presidente e seus aliados articulam uma tentativa de reverter sua inelegibilidade para ser o nome da direita em 2026.

Apesar dos resultados mais expressivos dele e do PL, Bolsonaro assistiu na eleição a uma até então inédita contestação à sua liderança no campo conservador, com a candidatura de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo.

O ex-mandatário sai da disputa na maior cidade do país como um apoiador hesitante de Nunes. Assim, se o atual prefeito vencer, será muito mais apesar de Bolsonaro do que graças a ele.

Além disso, o ex-presidente assiste a uma disputa de candidatos ao posto de nome da direita em 2026, em especial os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG).

Em relação a esses, Bolsonaro andou de braços dados com Tarcísio e Zema, mas bateu de frente com Caiado e Ratinho, contra quem trava uma queda de braço nas eleições de Goiânia e Curitiba, respectivamente.

Caiado e Ratinho terão uma definição melhor dos seus cacifes políticos com o resultado deste domingo. Uma vitória sobre Bolsonaro tende a reforçar a pretensão de cada um deles, ao passo que uma derrota em seus respectivos quintais eleitorais será um duro golpe na tentativa de se cacifar para enfrentar Lula daqui a dois anos.

O desempenho dos governadores da direita já está mais ou menos consolidado em relação a Tarcísio e a Zema.

O primeiro ganhou pontos por se manter fiel a Nunes mesmo quando Bolsonaro e bolsonaristas ameaçaram debandar ou debandaram para o barco de Marçal.

Tarcísio disse que foi aconselhado por aliados a se afastar do prefeito, mas se manteve ao seu lado. O gesto foi reconhecido publicamente por Nunes, que o chamou de “grande irmão, leal e amigo”.

A atitude do governador chegou a ser considerada por pessoas próximas como uma espécie de emancipação de Tarcísio em relação a Bolsonaro, de quem foi ministro e a quem deve a eleição em São Paulo.

O governador de São Paulo também declarou apoio a candidatos de uma série de cidades do interior e, agora no segundo turno, gravou vídeo para o bolsonarista Bruno Engler (PL), em Belo Horizonte.

Já Zema, que permanece filiado ao inexpressivo Novo, nem conseguiu ver seu candidato em Belo Horizonte ir para o segundo turno. Após isso, apoiou Engler e fez um giro por cidades do Brasil para endossar candidatos do partido de Bolsonaro.

 

Ranier Bragon/Catia Seabra/Folhapress

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