Em gesto de reconciliação com o PSB, Lula janta com Renata Campos nesta sexta-feira, no Recife

24/08/2017- Pernambuco- Lula visita acampamento do MST em Xexéu, em Pernambuco.  
Foto: Ricardo Stuckert
24/08/2017- Pernambuco- Lula visita acampamento do MST em Xexéu, em Pernambuco. Foto: Ricardo Stuckert
Por Jamildo Melo

Bem no meio de sua visita de três dias ao Estado de Pernambuco, o ex-presidente Lula vai encontrar-se com a ex-primeira dama do Estado Renata Campos, viúva do ex-governador Eduardo Campos e uma das pessoas mais influentes no PSB. Os dois terão um jantar na casa da ex-primeira dama do Estado, no bairro de Apipucos, depois que o petista realizar um ato público no centro do Recife, nesta sexta-feira.

A caravana do PT começou no dia 17 de agosto, em Salvador (BA), devendo terminar no dia 5 de setembro, em São Luis (MA)

No Recife, o encontro entre Lula e Renata é descrito por petistas como uma visita de cortesia, em retribuição ao gesto de Renata em visitar Lula após a morte de Mariza, em São Paulo, mas nos meios políticos da capital pernambucana o jantar é visto como a retomada de pontes entre os dois partidos. O PSB desgarrou-se do PT em 2013, quando Eduardo Campos decidiu enfrentar Dilma nas urnas em 2014.

“Lula ficou cativado com o gesto de Renata. Acho natural e elegante o encontro”, disse o presidente do PT em Pernambuco, Bruno Ribeiro.

O governador do Estado, Paulo Câmara, e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, não devem participar do encontro.

“Apesar do grande incômodo que a visita do presidente Lula a Renata despertou no PT local, o evento foi preparado para ser um símbolo da viagem de Lula pelo Nordeste. Até o Cais do Sertão (Museu no Reciufe Antigo) faz parte desta busca de simbologia, de diálogo com as regiões mais pobred do Nordeste e a área cultural”, diz um dos interlocutores do presidente.

Na chegada ao Recife, nesta quinta-feira, o presidente Lula disse que estava exausto e pediu para cancelar um jantar que teria na casa do senador Humberto Costa, do PT, nesta noite, com correligionários locais. Lula teria pedido para descansar. Antes, realiza uma visita ao museu Cais do Sertão.

Além do alinhamento com o PSB, o PT teria ainda duas outras opções. Uma delas seria jogar com Armando Monteiro Neto (PTB) e a outra o lançamento de uma candidatura própria. O senador do PTB deve visitar o ex-presidente Lula nesta noite ainda, antes do encontro com Renata Campos. Lula está hospedado no Atlante Plaza, em Boa Viagem.

Foto: Roberto Pereira/ Divulgação

Na primeira semana de agosto, com alarde, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tido como o plano B de Lula e do PT, já havia se encontrado no Recife com o governador Paulo Câmara, do PSB, onde foi recebido em almoço no Palácio do Campo das Princesas. Na Rádio Jornal, questionado pelo Blog de Jamildo, Haddad disse que iria discutir com Paulo ‘projetos para o futuro do Brasil’. Não negou uma aliança, nem admitiu, fazendo questão de lembrar os bons momentos em que Lula chamava Eduardo Campos de ‘achado de Deus’, em Suape.

Paulo Câmara, por sua vez, no meio das polêmicas reformas do gobverno Temer, já liberou dois de seus escudeiros na bancada federal, os deputados Tadeu Alencar e Danilo Cabral, para votar contra as reformas do governo Temer, fazendo o jogo do PT.

Fontes ligadas ao PT dizem que a aproximação é estratégica para Lula.

“Lula não pode sair candidato só com o PT. Ele precisa ter palanque, para evitar ficar isolado. Além disto, o PSB tem um bom tempo de TV, que ajudaria o PT de Pernambuco a economizar recursos. Eles ainda estão com dívidas das últimas eleições. Onde puder não ter despesa melhor. São 58 deputados federais para ajudar, nas próximas eleições. Resumindo, são dois problemas que explicam o desejo de reaproximação. O isolamento político e as dificuldades estruturais”, conta uma fonte, sob reserva.

De acordo com as análises que são feitas nos bastidores, PT e PSB estudam neste momento o melhor cenário para as alianças de 2018.

No caso dos socialistas, a reaproximação com o PT seria importante porque Lula é muito forte eleitoralmente em Pernambuco, em função das obras que fez ao lado de Eduardo Campos, nos dois governos do PSB com o socialista vivo.

Diante da suposta ‘fragilidade’ de Paulo Câmara, eleitoralmente, em especial por conta da violência desenfreada, seria importante para o socialista estar no palanque do petista.

Ainda de acordo com avaliações de bastidor, o reencontro com o PT estaria sendo alimentado pela dúvida que assola o PSB. O PSB não sabe se ruma com os tucanos paulistas ou não. O partido está dividido em relação ao tema e esta situação deve ensejar a saída de alguns dissidentes, como o grupo de FBC, para partidos como Democratas ou PMDB.

No caso da disputa, os petistas avaliam justamente que a ala do PSB local ganhará a quebra de braço contra o cacique Márcio França, mantendo na presidência do PSB o presidente Carlos Siqueira, próximo ao grupo de Geraldo Julio e Paulo Câmara. Definida a disputa do PSB e o grupo dos dissidentes saindo, eles seriam apresentá-los como dissidentes à direita, situação em que o PT poderia relançar pontes para os socialistas históricos, de olho em uma aliança estratégica para 2018.

Aos poucos, de fato, os palanques vão se formando. Pelo lado dos dissidentes do PSB, o grupo de FBC já fala abertamente nas eleições de 2018, com um projeto próprio.

Efeitos colaterais

A eventual reaproximação entre os dois partidos não ocorre sem dissabores e tensionamento políticos. Os analistas da cena política local citam o vice-governador de São Paulo Márcio França e o deputado federal Jarbas Vasconcelos como dois exemplos bastante significativos.

O primeiro deseja uma aliança do partido com os tucanos, uma vez que vai herdar o governo de São Paulo caso Geraldo Alckmin dispute a presidência da República.

No plano local, Jarbas Vasconcelos é conhecido por ser um dos principais antagonistas de Lula e do PT. Consta que, nesta semana, em Brasília, o ex-governador já advertiu o vice Raul Henry e os socialistas locais. “A foto com Lula é muito ruim”, afirmou.

Pelo lado do PT, também haverá vítimas do processo de reaproximação.

“O encontro fragiliza João Paulo e Marília Arraes (dois dos nomes apontados como candidatos do partido para as eleições de 2018). Além disto, mistura totalmente o processo de 2018”, afirma uma fonte do blog.

Em uma entrevista à revista Nordeste, da Paraíba, no mês passado, Lula já havia afirmado, com todas as letras, que em Pernambuco a disputa seria entre Paulo Câmara (candidato declarado à reeleição) e ‘os ministro de Temer’

“Humberto Costa e João Paulo trabalham para levar o PSB de Paulo Câmara a votar em Lula”, contou outra fonte do blog, na semana passada.

Oficialmente, o PT de Pernambuco disse que não tem candidato e vai escolher o nome até o final do ano.

Neste caso, Marília Arraes seria uma espécie de ‘bode na sala’, usada por Humberto Costa contra a ala do PSB de Renata Campos, a mesma do governador do Estado e o prefeito do Recife.

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