Energia eólica não é limpa, garante o professor Heitor Scalambrini Costa

Em artigo que escreveu para o Blog, o professor aposentado da UFPE, Heitor Scalambrini Costa, garante que energia eólica (dos ventos) não é limpa, diferentemente do que muita gente pensa, e faz duras críticas aos parques eólicos instalados no Nordeste brasileiro.

Semana passada, em entrevista à Folha de São Paulo, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, afirmou que o Ministério acaba de contratar energia eólica a R$ 96,00 o MWh, quando pouca gente acreditava que isso pudesse acontecer (o excesso de oferta fez os preços baixarem).

Veja o artigo do professor Scalambrini:

Usualmente as fontes de energias renováveis solar e eólica são tratadas como fontes limpas. O que realmente significa adjetivar de limpas tais fontes energéticas? Limpa é o antônimo de suja, e as fontes sujas são bem conhecidas. São as fontes não renováveis como o petróleo e seus derivados, o carvão mineral e o gás natural. Constituem as maiores fontes emissores do gás carbônico, conhecido como gás que provoca o efeito estufa, o aquecimento global e, consequentemente, as mudanças climáticas. Além de esses combustíveis lançarem também na atmosfera outros resíduos altamente poluentes e danosos à vida do planeta.
A energia eólica não gera gases tóxicos, que causam o efeito estufa durante o processo de conversão/geração de energia. Daí talvez serem chamadas de limpas. Todavia, é um grande equívoco e incorreto chamá-la de fonte sustentável. Assim, aqueles que propagam esta meia verdade acabam iludindo, confundindo e distorcendo a verdade dos fatos. A quem interessa ficar repetindo como um mantra que a energia elétrica produzida em grandes parques eólicos (no Agreste e no Sertão de Pernambuco existem vários) é energia limpa, sustentável?

A Física nos ensina que não existe processo de conversão de uma fonte de energia em outra que não gere poluição, resíduos e afete pessoas, enfim, algum tipo de impacto. O que temos de escolher, diante do maior desafio da humanidade que é o aquecimento global, é o modelo de implantação menos impactante de gerar energia.

O que deve ser analisado, portanto, ao priorizarmos as fontes renováveis de energia (sol, água, vento, biomassa) é como a energia é gerada, o modelo de implantação dessas tecnologias. Existem duas configurações possíveis de geração de energia, chamadas geração descentralizada (distribuída) e geração centralizada.

As grandes usinas, os parques eólicos, constituem uma maneira de geração concentrada. Também conhecida como geração “industrial” de energia, onde grandes “pacotes” de energia são gerados e transmitidos até os locais de consumo através de linhas de transmissão, e posteriormente distribuída nas residências, no comércio e para as diferentes atividades econômicas.

Outra forma de geração de energia elétrica é a descentralizada, também chamada de “distribuída”, onde a geração está próxima do seu consumo, sem que haja necessidade de construir grandes linhas de transmissão, percorrendo milhares de quilômetros. Neste caso, o consumo de energia se dá próximo à geração. São menores as quantidades de energia produzidas neste caso.

Portanto, dependendo da escolha feita, a energia eólica pode acarretar mais ou menos efeitos negativos (sociais, econômicos e ambientais). Como, por exemplo, supressão de vegetação, problemas causados à fauna (morcegos, passáros), alterações do nível hidrostático do lençol freático no processo de instalação da estrutura das torres, aterramento e devastação de dunas, impacto sonoro afetando a saúde das pessoas (distúrbios do sono, dor de cabeça, zumbido e pressão nos ouvidos, náuseas, tonturas, taquicardia, irritabilidade, problemas de concentração e memória, episódios de pânico com sensação de pulsação interna ou trêmula, que surgem quando acordado ou dormindo), deslocamentos forçados de populações com destruições de modos de vida de populações tradicionais, expropriação de terras (com contratos draconianos de arrendamento), entre outros efeitos negativos.

Inúmeros estudos acadêmicos mostram os danos sociais, econômicos e ambientais causados, além das sistemáticas denúncias sobre agressões cometidas contra o meio ambiente e pessoas, relatando verdadeiras tragédias (perdas, prejuízos, danos, privações, destruições, de vidas e de bens, muitas vezes permanentes e irreversíveis), que estão sendo cometidas com as instalações de parques/usinas eólicos. Em particular, no Nordeste brasileiro onde mais de 80% dos mais de 500 parques eólicos (6.500 aerogeradores) estão instalados.

Não há dúvidas que grandes instalações, ocupando grandes áreas, atentam mais gravemente contra o meio ambiente e as pessoas, do que pequenas instalações eólicas. Em pouco mais de cinco anos, a potência instalada no país, devido à instalação de parques eólicos, multiplicou por 100, atingindo atualmente a 8ª colocação no ranking mundial de capacidade instalada. Em 2017 o Brasil atingiu 12.640 MW.

Não se pode mais escamotear os problemas que estão sendo denunciados pelos atingidos, relatados nos trabalhos científicos. Faz se necessário uma ampla revisão da conduta dos órgãos públicos a respeito das inúmeras violações que estão sendo cometidas pelos “negócios do vento”. Lembrando que omitir, retardar ou deixar de praticar indevidamente ato de investigação é prevaricação. Ou seja, crime funcional praticado por funcionário público contra a Administração Pública.

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