Estudantes ficam em alerta após golpes em formaturas e querem acompanhar comissões

Futuros formandos contam ao R7 as inseguranças e até possíveis desistências da realização de eventos de conclusão de curso

Isabelle Amaral, do R7

Formandos ficam em alerta para não cair em golpe da formatura

Formandos ficam em alerta para não cair em golpe da formatura

PIXABAY

Usar beca, capelo, ser homenageado pela família e amigos e curtir muito durante um evento feito exclusivamente para celebrar o encerramento de um período intenso de estudos é um sonho para muitos. No entanto, após casos recentes e seguidos de golpe da formatura, com desvios de dinheiro dos formandos, esse sonho pode se tornar motivo de preocupação, ansiedade e, em alguns casos, de desistência.

Em duas semanas, dois episódios em que alunos ficaram sem a festa após pagarem valores  milionários viralizaram: o da estudante de medicina da USP (Universidade de São Paulo), que era presidente da comissão de formatura e desviou quase R$ 1 milhão, e o da empresa que foi contratada por estudantes de Maringá (PR) para realizar a festa de conclusão de curso por um valor de R$ 3 milhões, mas não teria pagado buffet e outros serviços, provocando o cancelamento da festa. Em diversos outros casos alunos afirmam ser vítimas de golpes.

Lídia conta que casos de golpes deixaram  colegas inseguros

Lídia conta que casos de golpes deixaram colegas inseguros

ARQUIVO PESSOAL

Estudantes entrevistados pelo R7 contam que, após saberem os detalhes dos golpes, ficaram em alerta e pretendem acompanhar mais a comissão de formatura. “Até então, não imaginávamos que esse tipo de roubo era possível, então ficamos muito inseguros”, relata a aluna de medicina Lídia Lack.

A jovem, que se forma em 2025 e já começou os preparativos para a festa junto com a turma, afirma que os fatos deixaram ela e os demais alunos apreensivos, e a primeira atitude foi recorrer às pessoas que os representam: a comissão de formatura.

As vítimas dos dois casos citados foram estudantes de medicina. Esses formandos, geralmente, optam por festas luxuosas, já que é o curso mais longo e uns dos mais caros do Brasil. Os alunos passam seis anos estudando intensamente para se formar, fazem internatos em hospitais, abdicam de tempo com a família e dão o melhor de si para poder lidar com vidas, além da sobrecarga mental. Por isso, ao final do curso, tudo o que os estudantes mais desejam é comemorar a conclusão desta fase.

Pedro se forma em 2027 e já sonha com a formatura

Pedro se forma em 2027 e já sonha com a formatura

ARQUIVO PESSOAL

Para um outro aluno de medicina, “a formatura é a materialização tanto dos sonhos dos estudantes, quanto das famílias”, e a expectativa é alta. “O primeiro sonho é entrar na faculdade porque o processo seletivo não é fácil. Quando conseguimos, a formatura passa a ser o novo sonho, momento no qual todo esforço e dedicação será recompensado, torna-se um rito de passagem”, diz Pedro Valentim, que se forma em 2027.

Para ele, é necessário uma avaliação minuciosa no contrato da empresa que foi escolhida para o evento, contando com o apoio de escritórios de contabilidade e jurídicos desde o início da elaboração da comissão de formatura. “Com isso, esperamos que todos possam ter seus sonhos materializados”, conclui.

Alunos de outros cursos também temem golpes

A estudante de ciências aeronáuticas Raíssa Toni, que se forma em 2025, diz que, apesar de a formatura ser um sonho, saber de casos como os da USP e o ocorrido em Maringá “desanima muito”, além do valor do evento. Ela conta que já tinha combinado com os amigos de alugar uma chácara para comemorar, em vez de contratar tradicionais empresas organizadoras e buffets. “Vendo esses golpes, a vontade de fazer entre nós só aumenta, principalmente porque é um investimento alto e correr o risco de sair no prejuízo é complicado”, afirma.

Gianna Oliveira, que ingressou na faculdade de jornalismo em 2021, relata que a comissão de formatura da turma foi montada recentemente e acabou se assustando com os recentes episódios. “Eu confio nos presidentes da comissão, o que mais me preocupa é a empresa”, conta.

A estudante afirma que a empresa contratada para a realização do evento é a Ás Formaturas, a mesma da turma da USP que teve o dinheiro desviado pela aluna que presidia a comissão. “Nós vamos acompanhar mais as transações bancárias, trabalhar na nossa comunicação para não deixar nada escondido. É muito dinheiro investido, é um sonho, não dá para correr o risco”, afirma.

O que mais impressiona o aluno de economia Gustavo Ferreirinha é que a suspeita de ter desviado o dinheiro da comissão de formatura da USP “não está sofrendo nada perante a lei” – ela prestou depoimento e segue em liberdade, enquanto o inquérito é realizado. Apesar disso, o jovem ainda quer realizar o sonho da formatura, mas ficará mais atento às questões da comissão e da empresa responsável.

A jovem Gabriela Ramos que está no 7° semestre da faculdade de direito conta que os processos licitatórios de empresas de formatura já começaram e, segundo ela, na própria comissão já houve uma “falta de comunicação enorme” sobre os valores e critérios para a seleção.

Gabriela está no 7° semestre da faculdade de direito

ARQUIVO PESSOAL

Agora, sabendo das possibilidades de golpe, Gabriela e os colegas estão ainda mais criteriosos. “Esses casos causam medo na gente, principalmente o da USP porque, além de ter que lidar com o calote, também tem o sentimento de traição porque a liderança da comissão são os próprias alunos que escolhem”, menciona.

A futura advoga aconselha aos formandos que, uma saída para minimizar o medo de levar golpe seja exigir, cada vez mais, prestação de contas da comissão, com reuniões e questionamentos.

Aluna da USP que desviou dinheiro da comissão parecia ser ‘confiável’, segundo relatos dos colegas

Durante as investigações contra Alicia Dudy Muller, acusada de ter desviado quase R$ 1 milhão da conta de formatura dos alunos de medicina da USP, as vítimas, que pagaram durante anos pela festa, relataram aos policiais que ela “parecia ser confiável”, por isso a escolheram para presidente da comissão.

Perto da realização do evento, Alicia teria mandado uma mensagem ao grupo dos colegas afirmando que tinha investido o dinheiro em instituições financeiras e levou um golpe. Os alunos acharam estranho e foram à delegacia denunciar o caso, esperando uma investigação, já que, desde essa mensagem, Alicia sumiu.

Após quase duas semanas em silêncio, a jovem prestou depoimento na delegacia e admitiu que usou parte do dinheiro para gastos pessoais. A empresa que havia sido contratada para a formatura, a Ás, chegou a ser notificada pelo Procon-SP porque para pegar o dinheiro da conta dos formandos é preciso, ao menos, duas assinaturas.

A polícia segue com as investigações do caso e, recentemente, a empresa afirmou que vai realizar a festa aos alunos e arcar com os custos do golpe.

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