“Fala de Bolsonaro sobre máscaras foi vingança contra o ministro Queiroga”, diz Vera Magalhães

*Por Vera Magalhães — Bolsonaro quer adesão total de Queiroga à sua política negacionista no trato da pandemia, ou dará a ele o destino imposto a Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

O presidente não gostou de ver o seu ministro da Saúde contrariar sua defesa do tratamento precoce, sabidamente ineficaz, defender o uso de máscaras e de distanciamento social como as mais eficazes medidas “não farmacológicas” para enfrentar a pandemia e dizer que ela só será debelada quando a maior parte da população estiver vacinada.

O ministro também não mostrou entusiasmo pela realização da Copa América no Brasil e disse em muitas ocasiões que, após 70 dias, sua gestão estaria fazendo mudanças de rumo na pasta, e não promovendo a continuidade da gestão de Eduardo Pazuello.

Bolsonaro claramente não gostou, se enfureceu. E agora expõe publicamente o ministro à decisão de mostrar se é totalmente fiel ao chefe.

 Bolsonaro disse que Ministério da Saúde vai desobrigar uso de máscaras para vacinados

Acontece que o que está em jogo aqui é o juramento ético feito pelo médico Queiroga. Ele vai rasgar esse compromisso com a vida e subscrever uma medida que claramente vai contra tudo que a ciência e a medicina preconizam no enfrentamento da pandemia?

Pessoas já vacinadas e que tiveram covid-19 podem se reinfectar e podem ainda transmitir o vírus. Só é seguro prescindir de máscaras em locais públicos depois que um grande percentual da população já estiver vacinada, como têm feito vários países que já avançaram na imunização.

O Brasil ainda não tem 15% da população apta a se vacinar com duas doses. Os melhores prognósticos são de que apenas depois de outubro esse percentual seja próximo ao preconizado pela Ciência, ou seja, de pelo menos 70% da população.

Marcelo Queiroga está diante de uma escolha definitiva: vai ficar com Bolsonaro ou com a medicina?

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*Vera Magalhães é jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993, com passagens por veículos como “Folha de S.Paulo”, “Veja” e “O Estado de S.Paulo”. Além de colunista do GLOBO, é âncora do “Roda Viva”, na TV Cultura, e comentarista na CBN

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