Futuro da mata da Votorantim, em Paulista, causa apreensão em ambientalistas

A área deve ser utilizada futuramente para a construção de um empreendimento imobiliário

Moradores, ativistas do meio ambiente e frequentadores do bairro de Maria Farinha, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, estão apreensivos com o futuro de um terreno que ocupa uma área de mais de 2 mil hectares. A área, que equivale há 1.212 campos oficiais de futebol, fica as margens de rodovia PE-001 e vai da beira-mar até o leito do Rio Timbó, pertence ao Grupo Votorantim, que mantém uma fábrica de cimento no local.

De acordo com Fernando Macedo, ambientalista e ativista do grupo Salve Maria Farinha, coqueiros centenários da orla começaram a ser derrubados em 2012 de forma bem discreta. “Eles chegavam, derrubavam os coqueiros, e já faziam a limpa na área. Não deixavam absolutamente nada”, denuncia.

Coqueiros que ficam na orla começaram a ser derrubados – Foto: Grupo Salve Maria Farinha

Ele afirma que essas derrubadas são ilegais, pois os coqueiros do litoral da cidade são protegidos por lei municipal. “O Artigo 215 da Lei Orgânica do Município de Paulista proíbe a retirada dos coqueiros nativos. Então, eles não poderiam ser derrubados”.

De acordo com os integrantes do grupo Salve Maria Farinha, a Votorantim pretende desmatar toda a área de mata do terreno para construir um bairro planejado de alto padrão que contaria com prédios, casas, hotel e polo náutico. O Grupo afirma que o empreendimento causará diversos danos ao meio ambiente, incluindo a destruição das áreas de mangue que ficam no fundo do terreno.

Projeção de como a área deve ficar após o projeto – Foto reprodução Grupo Votorantim

“A empresa começou um sucateamento do patrimônio que existia no terreno. Abriram tudo para que a população leve o que tem lá. As áreas de dunas estão sendo depredadas, as pessoas chegam com caminhões para levar a areia. Tudo isso para que a empresa não precise pagar os impostos e, futuramente, possam alegar que a área não é mais nativa, ficando apta para a construção do empreendimento que eles querem. Já vimos isso acontecer na Reserva do Frio, por exemplo.” reclamou Fernando.

Para o ambientalista, todo projeto que venha a ser desenvolvido na região precisa contar com a participação da sociedade, e o local deve ser de interesse comum.

“A Votorantim explorou esse terreno por vários anos, e agora deve discutir projetos para que a área seja preservada, explorada para a educação, para a pesquisa. Esse local pode se tornar uma referência em Pernambuco, no Nordeste, ou quem sabe até no Brasil. O terreno tem muitas instalações que não são mais usadas, que podem ser aproveitadas para a implantação de uma universidade pública de referência, para centros de educação comunitária. Nosso objetivo é atrair a primeira universidade pública de Paulista, e que eles seja instalada nesse terreno”, disse Macedo.

Ele contou que, após as denúncias feitas pelo grupo Salve Maria Farinha no Instagram, foi ameaçado de ser processado por um representante da empresa. “Um dos representantes da empresa chegou a dizer que iria me entrar com uma ação contra mim, pois estou compartilhando informações falsas sobre o projeto. Mas as imagens estão ai. Outra pessoa que me procurou de lá foi o Renê Rocha, que é gerente patrimonial da empresa. Ele tentou me convencer a “trabalhar” com eles, sabe? Tudo pra facilitar a construção do empreendimento”, reclamou.

Área de mangue do Rio Timbó – Foto: Grupo Salve Maria Farinha

A Engenheira Florestal Elba Borges diz que não há legislação estadual nem federal que proteja os coqueiros, pois eles são espécies exóticas, ou seja, não são originários do Brasil. Já as áreas de mangue devem ser preservadas, pois são importantes para o ecossistemas da região.

“Quando ocorre o desmatamento nas áreas de mangue e estuários dos rios, os animais que vivem ali ficam sem ter o que comer, e, consequentemente, morrem. Além disso, muitos animais utilizam esses espaços como área de reprodução, se os espaços acabam, a cadeia reprodutiva é interrompida e esses animais correm o risco de entrar em extinção. Como exemplo temos o Guaiamum, que justamente vive nessas áreas, e hoje está na lista vermelha do Ibama com risco de entrar em extinção”, explicou Elba.

A engenheira também lembra que o desmatamento pode causar prejuízos a toda região. “As árvores regulam as chuvas, a sensação de calor, reduzem os alagamentos. Então quando há a derrubada deles, áreas onde não alagavam podem alagar, a quantidade das chuvas mudar, e os locais próximos ficarem mais quentes”, disse.

Procurada pela reportagem do Blog Ricardo Antunes a Prefeitura de Paulista explicou, por meio de uma nota, que o terreno em questão é uma propriedade privada, e que a Prefeitura não tem gerência sobre o local.  A Secretaria Executiva de Meio Ambiente do município confirmou a existência um projeto para construção de um equipamento imobiliário, e que o órgão já havia concedido a licença, mas que iria mandar uma equipe ao local para verificar se havia irregularidades na construção.

O Grupo Votorantim, dono do terreno, explicou, por meio de nota, que dispõe de todas as licenças ambientais para conduzir todos os atos praticados até o momento. A empresa confirma que realizou o manejo de vegetação na área, mas afirma que a ação atingiu apenas 1% da área total do terreno, e foi precedida de todos os estudos ambientais.

O grupo nega que tenha lançado qualquer empreendimento na região, mas confirma a pretensão de realizar um projeto imobiliário em uma parte da área onde hoje existe a fábrica de cimentos Poty. O grupo ressalta que vai seguir todos os trâmites legais junto à Prefeitura e Governo do Estado, e vai avaliar o melhor momento para um possível lançamento. A Votorantim reafirmou que a fábrica de cimentos do local deve continuar operando.

 

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