Governo petista no Ceará omite informações sobre ação de Abin de Bolsonaro contra Camilo

 

O Governo do Ceará se recusa a dar informações sobre a investigação aberta no estado depois que um drone da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foi flagrado perto da residência do então governador e hoje ministro da Educação, Camilo Santana (PT).

O episódio ocorreu em 2021, durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

A Polícia Civil cearense instaurou um inquérito no mesmo ano para apurar a suspeita de espionagem. A reportagem questionou o órgão e a Secretaria de Segurança Pública estadual sobre o resultado da investigação, mas não houve resposta. O Ceará é governado atualmente por Elmano de Freitas (PT).

Após o episódio, segundo relatos, a cúpula da Abin enviou um dos diretores ao Ceará para conversar pessoalmente com o então chefe da Casa Militar do governo, coronel da Polícia Militar Alexandre Ávila de Vasconcelos.

O dirigente da Abin pediu desculpas, informou que a agência abriria um processo administrativo disciplinar e argumentou que tudo não passava de um mal-entendido. Segundo ele, os dois oficiais de inteligência faziam apenas um voo de treinamento e não conheciam bem a região.

Um dos agentes, como mostrou a Folha, foi enviado de Brasília a Fortaleza porque a Abin queria imagens do ato convocado pelo ex-presidente Bolsonaro a favor do voto impresso e, àquela altura, não havia pilotos de drones na superintendência do Ceará.

Segundo pessoas que acompanharam o episódio, a manifestação bolsonarista não foi citada pela agência em nenhuma conversa. Aliados do ministro da Educação dizem que a situação continuou mal explicada e que o resultado do processo administrativo nunca foi informado.

Causou estranheza, por exemplo, a Abin —principal órgão de inteligência do país— dizer que os funcionários não sabiam que a área onde estavam com o drone. Ainda mais por ser próximo da sede do governo e da residência oficial do governador, uma área de segurança estadual.

Interlocutores de Camilo também lembram que a relação entre Bolsonaro e os governadores, sobretudo os de esquerda, era ruim e distante.

De acordo com integrantes da Abin ouvidos de forma reservada, a investigação da Polícia Civil do Ceará foi inconclusiva. A Secretaria de Segurança do estado também não respondeu à reportagem quem foi ouvido e quais provas foram analisadas.

O equipamento foi flagrado próximo à residência oficial do Governo do Ceará em 31 de julho de 2021, véspera da manifestação pró-voto impresso, realizada em 1º de agosto de 2021 em todo o país.

A dupla da Abin foi abordada naquele dia por estar em uma área de segurança onde a presença de drones é proibida. Em um segundo momento, no entanto, os guardas verificaram a placa do carro e eles se identificaram como oficiais de inteligência.

Um dos funcionários da Casa Militar do Ceará acabou transferido de posto após o ocorrido, segundo relatos, porque os guardas não apreenderam o drone nem o cartão de memória que guardava as imagens.

Camilo Santana foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou. Em janeiro, quando foi citado por investigadores como um dos espionados pela “Abin paralela”, Camilo lamentou os fatos e disse que confia no trabalho da Polícia Federal.

“O ministro Camilo Santana lamenta os fatos relatados hoje pela imprensa, que apontam que a Agência Brasileira de Inteligência, um órgão tão importante, tenha sido utilizado ilegalmente no governo anterior para perseguição de pessoas públicas. E confia no trabalho da Polícia Federal para apurar responsabilidades, de forma a garantir a preservação do papel da Abin no fortalecimento do Estado Democrático de Direito no Brasil”, diz a nota divulgada na ocasião.

A decisão de enviar os drones a parte das superintendências da Abin, incluindo a do Ceará, foi tomada pelo então diretor-geral da agência, Alexandre Ramagem (PL-RJ). Pessoa de confiança da família Bolsonaro, hoje ele é deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro.

Mesmo sem pilotos em número suficiente, a cúpula da Abin queria que os drones fossem usados para obter imagens exclusivas e não depender de registros da imprensa —alvo de uma campanha de ataques capitaneada por Bolsonaro.

No dia da manifestação a favor do voto impresso, Ramagem publicou nas redes sociais uma imagem aérea da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e disse que o “voto auditável” significava a “evolução das urnas eletrônicas”, além de “segurança ao pleito eleitoral”.

 

Thaísa Oliveira/Folhapress

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