Lucro Limpo Reciclagem realizava pirâmide até dentro do quartel

Responsáveis por trabalhar pela segurança dos pernambucanos, bombeiros e policiais militares foram vítimas de uma pirâmide financeira que explodiu entre soldados, cabos e oficiais. A Lucro Limpo Reciclagem tem todos os elementos das principais pirâmides investigadas no País: se diz do ramo de marketing multinível, tinha foco em atrair mais pessoas para sua rede e pagava lucros altos em troca da cobrança pela adesão. A diferença para as outras dezenas de negócios é que ela cresceu e ruiu prejudicando quase que exclusivamente militares, que apenas esta semana começaram a denunciar o esquema à Delegacia de Repressão ao Estelionato do Recife.

A Polícia estima que foram cerca de 600 pessoas prejudicadas. Quem tomou prejuízos, rombos de até R$ 30 mil, acredita que o número pode chegar a 900 pessoas.

Como todas as empresas investigadas que exploram o sistema de pirâmide, a Lucro Limpo apareceu com uma “ousada” proposta de negócios: gerar altíssimos rendimentos a partir do tratamento de material reciclável.

A promessa da empresa que encheu os olhos de muita gente foi, a partir de uma adesão inicial de R$ 70 a R$ 2.800, pagar um rendimento fixo de R$ 880 por mês ao investidor, desde que ele indicasse mais cinco pessoas. Mas se o volume de pessoas indicadas fosse muito alto, o lucro mensal poderia chegar a R$ 14.500.

“Por cinco meses eu recebi direitinho. Depois o limite de investimento acabou. Foi quando todo mundo investiu mais. Eu peguei um empréstimo e apliquei R$ 11 mil. Foi quando a empresa desapareceu”, diz um bombeiro que não quer se identificar.

Apesar de toda a situação ter ocorrido no âmbito civil e não haver nenhuma relação com as instituições militares, as vítimas têm medo da exposição e de eventuais represálias da corporação, por isso evitavam denunciar o caso.

Mas os prejudicados, que perderam até R$ 30 mil, começaram a entrar em desespero porque o responsável pela Lucro Limpo (razão social Atmosfera Reciclagem), o soldado Nelson D’Angelo Junior, membro do Grupamento de Resgate, simplesmente desapareceu, a ponto de um processo administrativo ter sido aberto pelo Corpo de Bombeiros por deserção, o equivalente dos militares para o abandono de cargo entre os servidores civis.

Além de tudo isso, a Lucro Limpo ainda começou a apagar os seus rastros, incluindo a desativação do site da empresa.

“Realmente registramos vários boletins de ocorrência de soldados da PM e do Corpo de Bombeiros. Nós já estamos tomando as primeiras providências para investigar o caso”, explica o delegado de Repressão ao Estelionato, Rômulo Aires.

O delegado adianta que, a princípio, o problema gerado pela Lucro Limpo não parece estelionato. Se configurada a situação denunciada pelos militares, aparentemente trata-se de crime contra a economia popular, mesmo acusação que pesa contra outras empresas suspeitas de serem pirâmides, como a pernambucana Priples, a goiana BBom e a Ympactus Comercial, a Telexfree, que se apresenta como multinacional com sede brasileira no Espírito Santo.

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