Ministério Público denuncia 53 policiais suspeitos de integrar PCC

Segundo investigação, policiais libertavam suspeitos presos, informavam sobre operações e alteravam documentos para evitar prisões

Jovens traficantes.
Jovens traficantes. FELIPE DANA/AP

Um grupo de 53 policiais militares foi denunciado  pelo Ministério Público de São Paulo por suspeita de integrar a facção criminosa Primeiro Comando da Capital. De acordo com o promotor Cláudio Henrique Bastos Giannini, eles “passaram a integrar o PCC e praticaram diversos crimes tais como: concussão, corrupção passiva, falsidade ideológica, violação de sigilo funcional, além do crime de associação ao tráfico de drogas”. A denúncia foi apresentada nesta segunda-feira e tornada pública nesta terça.

Dentre os denunciados estão sete sargentos e um subtenente. Todos os policiais haviam sido presos durante a Operação Ubirajara em dezembro de 2018, que mirou um esquema de corrupção envolvendo integrantes do 22º Batalhão da PM no Jardim Marajoara, zona sul da capital, e o PCC. De acordo com o MP, “o papel dos PMs dentro da organização [PCC] era não reprimir a prática do delito de tráfico, facilitá-lo, informando acerca de alguma operação policial pelo local e até mesmo alterando a verdade em documentos públicos para evitar prisões”. Em troca do auxílio, os policiais cobravam uma quantia em dinheiro que podia chegar a até 50.000 reais, dependendo do volume da ajuda. “O pagamento era feito pessoalmente ao corrupto ou por interposta pessoa, quando apenas um da equipe fazia contato com o traficante negociando a propina de todos os demais policiais”, diz a denúncia. Por vezes o pagamento era feito na própria “loja”, o ponto de venda de drogas do PCC, e os policiais recebiam o dinheiro “vestindo farda da corporação e com a viatura”.

O promotor aponta que a aliança entre os PMs e o PCC foi fundamental para o sucesso da “empreitada” criminosa. “Somente com a participação dos policiais o comércio de drogas pôde ser exitoso e exercido de maneira ampla e organizado”, escreveu Giannini. O esquema foi denunciado à Corregedoria da PM, que “por meio de depoimentos, interceptações telefônicas e ações controladas autorizadas judicialmente”, comprovou a participação dos policiais no esquema.

Em uma das gravações, uma soldado da PM reclama com um dos traficantes apelidado de Revolta: “Era para pegar o meu [dinheiro] e o do Paraná [apelido de outro PM envolvido]. Só pegou o do Paraná!”. Ao que o traficante responde que “o do Paraná já mandei, se a senhora está andando com ele a senhora tem que cobrar dele”. Outra ligação aponta as negociações para o pagamento de 2.000 reais a dois soldados que liberaram um traficante preso com celular roubado. Um comparsa do preso diz durante a conversa: “Então o menino aí é gente boa, pode desalgemar ele aí pô. Aí depois se você quiser passar lá no prédio [boca de fumo], você me liga lá e a gente troca uma ideia”.

Um dos grampos aponta a irritação do traficante de nome Mathias ao ser abordado por um dos policiais do esquema cobrando propina após já ter pago outra unidade da tropa. O sargento em questão diz “nunca ter falado com ele”, ao que Mathias diz: “Então, se você nunca falou comigo, você está falando agora. Eu que pago os caras da Força Tática do plantão de hoje, sou que pago entendeu senhor?”.

A interferência de outros policiais no esquema dos PMs do 22º Batalhão se fazem notar em várias gravações. Em uma delas, o traficante afirma estar faltando dinheiro para pagar a propina: “Está devagar veínho, os caras das motos [Rocam, Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas] estavam aqui até agora a pouco no bagulho,embaçando mano…”.

A relação criminosa entre as partes por vezes parece por um fio. Em um dos grampo, um sargento envolvido no esquema responde à pergunta do traficante sobre quem ele era: “Eu sou o cara que você tá devendo ai mano, já cansei de falar um milhão de vezes e fazem eu ficar perdendo tempo de vir aqui, eu vou atrasar aqui tiozão”.

Para tentar driblar o monitoramento telefônico os policiais suspeitos usavam apelidos como Tio Chico, Bolado, Pastor e Habib’s. Em um dos episódios narrados na denúncia, policiais apreenderam uma mochila com drogas na casa de um traficante de nome Vinícius. Junto com a maconha e a cocaína estava o documento de identidade do criminoso e papéis com a contabilidade da facção. Para evitar que este material caísse nas mãos erradas, os traficantes e PMs negociaram: por 10.000 reais, dois soldados sumiram com o material que poderia comprometer o PCC ao registrar a apreensão na delegacia.

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