Moro fala sobre embate entre esquerda de direita e dispara: “criminoso é oportunista, não tem partido”

[Moro fala sobre embate entre esquerda de direita e dispara: “criminoso é oportunista, não tem partido”]

Durante participação no III Simpósio Nacional de Combate a Corrupção, que começou na manhã desta quinta-feira (23) no UCI do Shopping Barra, em Salvador, o juiz federal Sérgio Moro recebeu a Medalha Tiradentes, concedida pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), e falou sobre importância de forças-tarefas e reconheceu “diferenças” entre PF e MP.

Também sobre a polêmica envolvendo prisão cautelar: “não há dúvida que a prisão deve seguir o julgamento, e não preceda. Mas a lei prevê a prisão cautelar por diversos motivos, inclusive para evitar a repetição do crime. Prisão preventiva é necessária, e quando há necessidade e prova robusta não fere o devido processo legal”. Ainda neste tema, Moro comparou a corrupção sistêmica e a necessidade da prisão cautelar ao famoso caso do “Maníaco do Parque”: “Não precisa o fim do processo para prender o indivíduo que comete o crime reiteradas vezes. É importante (a prisão) para mandar uma mensagem forte que a Justiça tem que passar para sociedade brasileira que é: ‘basta. Chega. Isso tem que parar’”. Moro ainda brincou sobre essa questão: “foram 115 prisões preventivas segundo dados do MP. Pra mim deveria ter tido mais, porque sou um juiz liberal”, disse arrancando risos da plateia.

Segredo de Justiça também foi outro assunto abordado pelo magistrado em sua fala: “no crime contra a administração pública a publicidade é mandatória. Antes diziam que Moro vazava isso ou aquilo. Moro não vazava nada. Eu não produzo as provas. Eu recebo e sou mensageiro e não há nada de errado nisso. Errado foram as ações que originaram as provas”. E bradou: “não consigo entender que em alguns lugares existam ações penais por crimes contra a administração pública sem que isso tenha a devida publicidade”.

Moro defendeu, mais uma vez, a prisão em 2ª instância: “não viola presunção de inocência. Na França e EUA a prisão já é a partir da 1ª instância, e não há quem diga que nesses países não haja presunção de inocência. O STF teve a sensibilidade de estabelecer isso em 2016. É um ponto fundamental e não pode ter retorno”. Em sua fala, o magistrado também disparou contra o empresariado: “na corrupção é fácil condenar o governo. Mas quem paga propina não é governo, é empresa. Se pode fazer muito no privado e na sociedade civil, independentemente do governo. Isso não exime a responsabilidade do poder público. O executivo e legislativo devem fazer sua parte, e fizeram poucos”.

Moro também se posicionou contra o foro privilegiado: “os tribunais superiores não têm condições de dar a celeridade necessária aos processos com foto privilegiado. Isso gera impunidade e é contrário ao preceito básico da democracia de que todos são iguais perante a lei. Acho que deve extinguir para todas as autoridades, inclusive juízes. Não faço questão disso. Aliás, acho até inconveniente. É preciso evitar ou eliminar por completo”, destacou.

Já respondendo a perguntas da plateia e do mediador, Moro falou rechaçou a ideia de propensão dessa ou daquela ideologia política à corrupção: “não vejo assim. A corrupção atinge a esquerda e a direita. Dizem que a Lava Jato foi usada para perseguir partidos e lideranças de esquerda. Se estamos num processo de corrupção governamental, se isso envolve executivos da principal estatal do País e diversos empresários, é natural que os casos envolvam os políticos dessa coalisão”. Moro completou: “criminoso é oportunista, não tem partido”.

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