Morre aos 75 anos o tenor italiano Tito Schipa

Um dos grandes nomes da música no século XX faleceu em Nova York

Tito Schipa, de nome completo Raffaele Attilio Amedeo Schipa, tenor lírico italiano, considerado um dos mais importantes do século 20, morre em Nova York em 16 de dezembro de 1965.

Nasceu em Lecce, em 2 de janeiro de 1889, no seio de uma família modesta. Estudante preguiçoso, mostrou um talento precoce para o canto. Como era magro e baixinho, o apelidaram de “Tito”, que no dialeto de sua região significava pequeno.

Foi dos poucos tenores que conheceram o sucesso com pouca idade. Sua estreia, se bem que pouco afortunada, ocorreu em 1909, aos 20 anos, interpretando Alfred na Traviata de Verdi, no Teatro Facchinetti de Vercelli.

É interessante saber como um “tenor ligeiro”, como Schipa, tenha tido uma carreira tão longeva quanto frutífera, quando se inteira que era um cantor com demasiadas limitações vocais. Não possuía uma voz potente nem com tons musculares, tinha dificuldades com o floreado, não alcançava a emitir um dó de peito, faltava fundo a sua voz, e, ainda se fosse pouco, nem sequer contava com uma voz particularmente bela nem com potência.

Não obstante,  é considerado um gênio. Seu instinto musical o colocou num lugar privilegiado da lírica mundial. Schipa, mais que nenhum outro cantor, soube tirar proveito de seus dons naturais, à base de engenho e inspiração, e criou um estilo original e personalíssimo de interpretação. 

Com um sentido apurado de musicalidade, superou as limitações. Ao faltar-lhe as poderosas notas altas, alinhavou um fraseado de delicados floreios que acariciavam os ouvidos. Ao carecer de uma voz densa no registro médio, enriqueceu seu canto com sutis alongamentos rítmicos e sombreados dinâmicos. Teve a habilidade de encontrar o acento correto para dar ênfase a uma só palavra ou nota ou de mudar repentinamente a coloração do tom, a dinâmica e o ritmo de uma frase. Empregando esses efeitos com um talento inato, nunca se viu forçado a romper a linha vocal.

Há uma boa quantidade de gravações, entre 1913 e 1927, quando ainda não se havia revolucionado as técnicas do setor, o que punha em desvantagem tenores como Schipa, Caruso e Gigli frente a outros de gerações posteriores, como Bjorling, Del Monaco, Di Stefano e Corelli. O disco, porém, capta sua voz no frescor da juventude. Alguns tons tendem a ser guturais e roucos, especialmente nos registros mais graves. Mais tarde, Schipa encontrou uma gama mais ampla de cores vocais, soube refinar sua voz e passou a executar delicados ‘ralentandos’, que se converteram em selo de sua arte vocal.

Schipa dominou com perfeição a canção napolitana. Cantava em 11 idiomas diferentes. No idioma espanhol deixou abundantes testemunhos de arte incomparável. Por exemplo, suas interpretações de “A la orilla de un palmar”, “Un viejo amor”, “Quiéreme mucho”, “Amapola”, entre outras, serviram de modelo a uma plêiade de tenores mexicanos e espanhóis.

Graças à influência que também exerceu sobre tenores da segunda metade do século 20, como Giuseppe Di Stefano, Carlo Bergonzi, Luciano Pavarotti e José Carreras, pode-se considerar Schipa como uma referência para qualquer tenor lírico.

Quando morre Caruso, Schipa declarou-se seu sucessor, mas na realidade foi seu mais claro antagonista. Frente à voz robusta, potente, imponente de Caruso, a sua foi uma voz doce e aveludada. Na verdade, criou uma escola de canto baseada em princípios relativamente opostos a de Caruso.

Foi igualmente um dos cantores mais longevos da história. Sua trajetória artística vai de 1909 a 1964. Depois de cumprir 60 anos, gravou muito pouco. Deu seu último recital na Argentina em 1954, dedicando-se ao ensino nos derradeiros anos de sua vida.

Dizia que o erro mais comum em que incorrem muitos cantores é o de interpretar papeis que estão fora do alcance de suas possibilidades vocais. Era ele um claro exemplo de um tenor que sabia que peças se harmonizavam melhor com sua voz, pelo que manteve sempre um alto padrão de excelência, como atestam suas gravações.

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