Morre o engenheiro francês Gustave Eiffel

Conhecido pela construção da torre batizada com seu nome, teve também importante participação no escândalo da construção do Canal do panamá

O engenheiro francês Gustave Eiffel falece em 27 de dezembro de 1923, aos 91 anos. Especializou-se na construção de pontes de aço, porém sua notoriedade se deve à construção da torre que leva seu nome, erigida sobre o Campo de Marte, Paris, inaugurada em 31 de março de 1889, por ocasião do primeiro centenário da Revolução, como parte integrante da Exposição Internacional visitada por mais de 33 milhões de pessoas.

Além do maior símbolo da capital francesa, Eiffel tem em seu currículo a participação na elaboração da Estátua da Liberdade, em Nova York. A obra, de 46 metros de altura e 63 mil toneladas de aço forjado, foi projetada por Fréderic August Bartholdi e contou com a assistência de Eiffel.

Entre algumas de suas obras mais famosas, estão também a Catedral metálica de Arica, no Chile, o observatório de Nice, a Ponte de Dona Maria Pia, no Porto, em Portugal, a ponte do rochedo La Vierge, em Biarritz, entre muitas outras.

Escândalo

Em seguida à construção da torre parisiense, comprometeu-se imprudentemente no escândalo financeiro do Canal do Panamá.

O escândalo do Panamá resultou em 20 de março de 1893 com a condenação a cinco anos de prisão de um ex-ministro de Obras Públicas, Charles Baïhaut, que confessou sozinho e ingenuamente sua implicação nesta gigantesca corrupção. Entre outros inculpados, os engenheiros Ferdinand de Lesseps e Gustave Eiffel escaparam por pouco da prisão graças à prescrição.

Consagrado pelo êxito na construção do Canal de Suez, de Lesseps se mostrou disposto a repetir a façanha dez anos depois em 1879, com a perfuração do istmo do Panamá, entre os Oceanos Atlântico e Pacífico. O istmo fazia então parte da Colômbia.

Em 15 de maio de 1879, um congresso internacional de estudos do túnel transoceânico se reuniu em Paris sob a presidência de Lesseps, já com 73 anos. E o vencedor é o próprio Lesseps com o projeto de um canal de 75 quilômetros de comprimento, sem eclusas como o de Suez. A construção estava prevista para durar 12 anos e custar 600 milhões de francos.

Lesseps cria em 20 de outubro de 1880 uma sociedade anônima com vistas a angariar fundos e tocar o projeto, a Companhia Universal do Canal Interoceânico do Panamá. Os trabalhos começaram no ano seguinte.

O istmo era atravessado por uma cordilheira bastante elevada e as primeiras obras foram cercadas de tremendas dificuldades. Fizeram vir operários chineses, depois da Jamaica. Forma-se uma hecatombe: epidemia de febre amarela e acidentes de trabalho fizeram mais de 20 mil vítimas entre os trabalhadores. O absurdo do projeto fez os banqueiros recuarem.

Lesseps lança então diversas subscrições entre o público francês. Utiliza os primeiros fundos para ‘‘amaciar’’ a imprensa a fim de esconder a realidade. Em 1887, já tinha dilapidado 1,4 bilhão de francos tendo nivelado somente a metade do terreno. Tinha previsto de início gastar 600 milhões em toda a fase de nivelamento.

Diante do impasse, apela ao engenheiro Gustave Eiffel, célebre em razão da torre, que não hesita em vincular seu prestígio a serviço do velho empreendedor. Reexamina o projeto, prevendo em especial as eclusas. Para tanto, era preciso encontrar mais dinheiro. Contudo a França passava por longo período de depressão e os poupadores mostraram-se pouco inclinados a se deixarem seduzir pela aventura.

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Lesseps novamente ‘‘molha’’ a imprensa, prática corrente à época, segundo testemunhou Émile Zola em seu romance “O Dinheiro”. Émile de Girardin, deputado e jornalista renomado, fundador do La Presse, que de início atacou violentamente o projeto para depois a ele se aliar, entrou para o conselho de administração da Companhia.

O engenheiro corrompe também uma centena de ministros e parlamentares, os ‘‘chéquards’’ (os homens do cheque), para ver aprovadas leis sob medida e, notadamente, ter o direito de emitir empréstimo sem as devidas garantias.

Serve-se para tanto de um negociador de ascendência judaica, Cornelius Herz, e de um intermediário também judeu, Jacques Reinach, que portava o título de barão atribuído a sua família no século precedente pelo rei da Prússia.

Malgrado a autorização oficial da emissão de um empréstimo, em 9 de junho de 1888, a dissolução da Companhia se revelava-se inelutável. O tribunal de la Seine proclama sua liquidação judicial em 4 de fevereiro de 4 février 1889, o que iria levar à ruína cerca de 85 mil subscritores.

Lesseps mergulha na senilidade e falece tristemente em 1895.

Em 1892, Edouard Drumont, autor do panfleto antissemita La France juive, denuncia o escândalo do Panamá nas páginas de seu jornal, La Libre Parole (A Palavra Livre). Ressalta a implicação de vários financistas judeus, contribuindo para um clima de antissemitismo na França. O Caso Dreifus eclodiria três anos depois.

Desiludidos, os poupadores iriam renunciar aos investimentos industriais e se recolher aos investimentos tipo ‘‘pai de família’’.

Caberia finalmente aos norte-americanos de abrir o istmo. O Canal do Panamá, com suas enormes eclusas, como previsto por Eiffel, seria inaugurado em 3 de agosto de 1914, no mesmo dia da declaração de guerra da Alemanha à França.

O chefe do grupo radical, Georges Clemenceau, foi beneficiado por uma ajuda financeira de Cornelius Herz para seu jornal , ‘‘La Justice’’, sem todavia suspeitar dos compromissos de seu comanditário no Caso Panamá.

Cornelius Herz valeu-se da influência de seu amigo para se introduzir no meio político francês e ganhar a confiança de parlamentaqres e ministros. Estes jamais perdoaram a Clemenceau sua relações duvidosas e perigosas.

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