Mortes pela polícia no primeiro trimestre de 2019 batem recorde histórico no Rio

Casa no Fallet ficou coberta de marcas de bala; Polícia Civil investiga se houve execução por parte de PMs
Casa no Fallet ficou coberta de marcas de bala; Polícia Civil investiga se houve execução por parte de PMs Foto: PILAR OLIVARES / REUTERS
Rafael Soares

Os primeiros três meses do governo Wilson Witzel bateram recorde de mortes pela polícia no Rio em um trimestre: foram 434 registros de homicídios decorrentes de intervenção policial — uma média de quatro por dia. Um levantamento feito pelo EXTRA com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que o número de mortos em confronto nos primeiros 90 dias de 2019 é o mais alto entre os registrados nos 85 trimestres desde 1998, quando começa a série histórica do estado.

Mortes provocadas por policiais vêm em uma escalada no Rio desde o ano passado. Cinco dos oito trimestres com mais casos desde o início da série histórica são justamente os cinco mais recentes: os quatro de 2018 e o primeiro de 2019. Em comparação com os primeiros três meses do ano passado, o mesmo período deste ano apresentou um aumento de 18% nas mortes. Antes de 2018, o estado nunca havia ultrapassado a marca de 400 mortes pelas mãos de policiais em três meses. Desde então, três trimestres tiveram mais de 400 registros.

Homicídios em confrontos aumentaram em quase todo o estado. Na capital, foram registrados 178 casos, a maior quantidade em três meses desde o segundo trimestre de 2008 — antes, portanto, da inauguração da primeira das UPPs, em dezembro daquele ano. Já a Grande Niterói registrou em 2019 a maior quantidade de casos em um trimestre da série histórica: 79. Na Baixada, 137 casos foram contabilizados em 2019, 11% a mais do que o primeiro trimestre do ano passado.

Tiros no Fallet

A operação da PM que terminou com 13 mortos — sendo nove dentro de uma mesma casa — nos Morros do Fallet e dos Prazeres causou uma explosão de casos de homicídios cometidos por policiais no Centro do Rio. Nos três primeiros meses do ano passado, nenhum caso foi registrado na região, patrulhada pelo 5º BPM (Praça da Harmonia). Durante o ano inteiro de 2018, 13 mortes pela polícia foram registradas na região. Só entre janeiro e março de 2019, foram 14 casos.

A investigação do caso está em andamento. Semana passada, PMs que participaram da ação foram homenageados no Batalhão de Choque, na cerimônia de “Melhores do 1º Trimestre”, que premia agentes da unidade que “mais se destacaram”.

Ao todo, mortes em confrontos com a polícia aumentaram pelo menos duas vezes em seis regiões do estado. Na área coberta pelo 14º BPM (Bangu), os casos aumentaram 350%: de 8 no primeiro trimestre de 2018 para 36 este ano. Já em Niterói, área do 12º BPM, os casos pularam de 10 para 32.

Mais da metade das mortes pela polícia

Em três regiões do estado, a polícia foi responsável por mais da metade de todas as mortes violentas registradas no primeiro trimestre de 2019. A região em que mortes pela polícia correspondem à maior fatia do total de assassinatos é a patrulhada pelo 16º BPM (Olaria), que engloba o Complexo do Alemão. Do total de 27 mortes violentas registradas na área de janeiro a março de 2019 — número que engloba homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes em confronto —, 14, ou 59% do total, foram cometidas por policiais.

Na área do 3º BPM (Méier), 24 das 46 mortes violentas — ou 52% do total — foram registradas como homicídios decorrentes de intervenção policial. Já na área do 5º BPM, 14 das 27 mortes, ou 51%, aconteceram em confrontos.

No estado inteiro, 28% de todas as mortes violentas registradas no primeiro trimestre de 2019 foram cometidas pela polícia: 434 de um total de 1.528 assassinatos. A fatia de homicídios cometidos por policiais vem crescendo em relação à quantidade total de mortes ano a ano. Durante todo o ano de 2018, a porcentagem chegou a 22%. No ano anterior, eram 16%.

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