Os dois ministros de Petrolina

Por: *Paulo Valgueiro

Petrolina já foi contemplada com a nomeação de dois ministros, dois Fernandos, o pai e o filho.O que deveria se traduzir em grande conquista para a cidade e a região, acabou sendo uma desilusão.

Fernando Bezerra Coelho, o pai, assumiu o Ministério da Integração e, à época, toda a cidade vibrou achando que o tempo da irrigação seria reestabelecido. Ledo engano! Para grande desgosto de seu tio, o saudoso Osvaldo Coelho, crítico ferrenho da privatização do Projeto Pontal, além de frustrar os sonhos de milhares de famílias sertanejas, Fernando Bezerra vendeu à iniciativa privada o Projeto Pontal que poderia gerar empregos e renda para o vale do São Francisco. No entanto, agora gera desilusão.

Vale aqui recordar que Osvaldo Coelho, do alto de sua sabedoria, experiência e conhecimento de causa a respeito da situação vivenciada pelo agricultor do semiárido, em carta à presidente Dilma, indignado com a privatização do Pontal, disse que “tirar o Pontal dos pobres para dar a um rico é roubo”.

Ele disse na mesma carta que “o Projeto de Irrigação Pontal, da Codevasf, localizado em Petrolina-PE, com área irrigável de 7.641 hectares, foi entregue pelo Ministério da Integração Nacional a um grande capitalista para explorar, que nada tem a ver com irrigação, com agricultura e tão pouco com a região semiárida, frustrando centenas de trabalhadores rurais, agrônomos, técnicos agrícolas, que esperam há 10 anos pela conclusão das obras para serem contemplados com o lote irrigado”.

Tempos depois, Fernando Bezerra Coelho, o filho, assume o Ministério das Minas e Energia, um Ministério que, historicamente, não tem atuação em nossa região, mas que faz renascer no sertanejo uma esperança de novos investimentos em Pernambuco. Mas, para tristeza do sertanejo, o ministro decide vender uma das nossas maiores riquezas, ao privatizar a Eletrobrás, com implicação direta na gestão do uso sustentável das águas do rio São Francisco, tais como navegação, abastecimento de cidades e irrigação, podendo, inclusive, prejudicar, e muito, a nossa fruticultura irrigada.

O rio São Francisco, cujas águas são geridas pela Chesf, logo não pertencerá mais ao povo sertanejo, mas aos interesses econômicos de uma empresa com os olhos voltados tão somente para a produção de energia e o lucro dela advindo, sem compromisso com o povo sertanejo, já tão castigado.

Desta feita, certamente para a tristeza do também saudoso Miguel Arraes, que tanto defendeu o nosso São Francisco e era contra a privatização da Chesf, pretendida no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o que também implicaria a privatização do rio. O mesmo Miguel Arraes que, por ironia do destino, presidiu o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que tanto projetou Fernando Bezerra, pai, como também Fernando Bezerra, filho, no cenário político nacional.

E, assim, de Fernando em Fernando, assistimos aos sonhos de Osvaldo Coelho e de Miguel Arraes escorrerem entre os dedos dos sertanejos, indo por água abaixo, nas correntezas do nosso rio São Francisco.

*Paulo Valgueiro é vereador pelo PMDB e líder da Oposição na Câmara Municipal de Petrolina.

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