Papa denuncia dinheiro sangrento e pede que mafiosos se convertam

O Papa Francisco denunciou nesta sexta-feira (21) o “poder e o dinheiro sangrentos” dos mafiosos, pedindo que “mudem de vida, parem de fazer o mal e se convertam”, durante uma cerimônia em memória das vítimas do crime organizado em Roma. Dirigindo-se aos “homens e mulheres da máfia”, o Papa criticou o “dinheiro sangrento, o poder sangrento”, e advertiu: “Você não pode levar este poder sangrento com você na outra vida. Ainda há tempo para não acabar no inferno”.

Esta declaração lembra o apelo de João Paulo II em Agrigento (Sicília), em 1993, quando o Papa polonês pediu aos mafiosos para se converterem. Na cerimônia, organizada pela Associação Católica anti-máfia Libera, uma lista de 842 nomes de vítimas da máfia italiana foi lida diante do Papa, que ouviu com expressão séria, de cabeça baixa.

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Com sua presença na pequena igreja de San Gregorio VII, localizada do outro lado dos muros do Vaticano, o Papa quis mostrar como esta causa é das mais importantes para ele. Francisco confortou os participantes, vindos de toda a Itália, e agradeceu “por não se fecharem para o mundo e contarem suas histórias de sofrimento e de esperança”. “Cerca de 70% das famílias das vítimas não sabem a verdade ou só a conhecem em parte”, lembrou Don Luigi Ciotti, fundador da Libera.

Don Ciotti prestou homenagem às crianças entre as vítimas, ressaltando a presença de familiares de vítimas da América Latina. Ele citou as vítimas do “trabalho forçado”, “das drogas”, do “lixo tóxico”, as vítimas abandonadas “no deserto e no mar” por traficantes. Ele também citou todos “os mortos-vivos, que se esvaziam por dentro” pela chantagem da máfia.”Meus amigos, seus entes queridos estão vivos porque quem dá a vida pela justiça dá vida”, exclamou.

Elogiando o empenho de João Paulo II e Bento XVI, ele denunciou o “silêncio, as resistências, os excessos de cautela” de alguns homens da Igreja. Esta cerimônia antecede a XIX “Jornada da Memória e do Compromisso”, organizada anualmente pela Libera. A multidão aplaudiu calorosamente o Papa, quando ele chegou de carro à igreja. Don Ciotti, tomando-o pela mão, o conduziu para dentro da igreja. Alguns fiéis usavam camisetas com retratos das vítima; outros exibiam fotos e objetos que o Papa abençoou.

A Libera luta ativamente contra organizações mafiosas e é especializada na conversão de bens confiscados. A Igreja italiana tem duas faces: a do compromisso corajoso de muitos sacerdotes e fiéis contra a máfia, mas também a de ligações escusas, com vários líderes da máfia que frequentam igrejas e se gabam de suas benfeitorias. Fundos da máfia transitaram pelo Banco do Vaticano, o IOR, e investimentos duvidosos no mercado imobiliário do Vaticano são alvo de investigações. (AFP)

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