Para que diploma?

Por: Dagoberto Almeida

O diploma universitário representa uma credencial de qualidade e reputação da instituição que o outorga. É a marca, o brand da formação acadêmica do profissional. Para muitos o diploma representa uma moeda de troca, cujo valor se justifica pela possibilidade de investimento em um futuro compatível com o investimento feito na sua aquisição em função do conhecimento agregado. O diploma atesta que os conhecimentos formais repassados com o devido aproveitamento de seus detentores são robustos o suficiente para atender as obrigações futuras de suas vidas profissionais. Então, é inegável que ser detentor de diploma de uma prestigiada instituição universitária permite que muitas “portas” sejam abertas. Razão pela qual o diploma se apresenta como um investimento. Para tanto, vale observar o que ocorre nos EUA pela referência de suas instituições de ensino superior .

Apesar do rigoroso e competitivo processo seletivo nas universidades estadunidenses de ponta tem havido um aumento brutal nos custos das mensalidades de suas mais prestigiadas instituições. É o caso das universidades da Ivy League (Universidades de Princeton, Harvard, Columbia e Yale, da Universidade da Pennsylvania, Escola Dartmouth, Universidade Brown e Universidade Cornell) pela reputação que gozam e pelo elitismo que proporcionam.

Seja de maior ou menor reputação, exigindo maior ou menor investimento financeiro dos alunos e seus familiares, o fato é que ter um diploma universitário levou ao endividamento dos estudantes norte-americanos junto à rede de financiamento privado para a cifra estratosférica de um trilhão de dólares em 2015, como apresenta do documentário Ivory Tower. Tal arranjo tem comprometido a vida profissional dos egressos em um sistema de financiamento que se beneficia da omissão do governo sobre os juros vantajosos cobrados pelos agentes financeiros privados. Conjuntura abusiva visto que o risco de falência dos tomadores de empréstimo é reduzido em um processo de endividamento que se estende ao longo da vida profissional do ex-aluno. Essa é uma das razões — aliada a casos de enriquecimento pessoal de magnatas sem diploma universitário como Rockefeller e Henry Ford no século passado ou Richard Branson (Virgin) e Ingvar Kamprad (Ikea) na atualidade — pelas quais os jovens daquele país tem questionado a necessidade de um certificado para serem bem-sucedidos profissionalmente.

Mesmo com a justificável importância do ensino universitário, ainda assim, ele vem sendo continuamente questionado com o correspondente certificado em seu propósito de entregar pessoas devidamente capacitadas para enfrentar os desafios de vida profissional. As críticas acerca de egressos dos cursos de graduação quanto a falta de adequado preparo acadêmico adequado sempre existiram, mas se intensificaram no quadro atual de grande velocidade e impacto das mudanças tecnológicas e sociais.

Com a devida ponderação para com a inexperiência do recém-formado, o que se deve esperar é o atingimento do potencial dos egressos para exercer pensamento crítico, raciocínio analítico, trabalho em equipe e julgamento ético. De tal forma que se tornem capazes de tomar decisões sensatas e fundamentadas, comunicando-se adequadamente, resolvendo problemas e propondo soluções. Tudo isso no contexto das expectativas e frustrações dos atores envolvidos, empregadores, investidores e equipe de trabalho, mas principalmente dos próprios alunos na expectativa de uma vida profissional desafiadora e próspera. Enquanto o ensino da graduação dá ênfase no aprendizado de conhecimentos consolidados, a ciência os questiona à medida em que estudos e pesquisas avançam no nível da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado).

Como qualquer obra do gênio humano a universidade pouco tem-se alterado desde que a primeira delas, a Universidade de Bolonha surgiu há mais um milênio. A pandemia da COVID19 deixou clara a necessidade de mudanças radicais nos conteúdos disciplinares e nos métodos de ensino e aprendizagem. Na atualidade em que parte dos alunos trabalha para arcar com os custos de seus estudos, a realidade impõe flexibilidade curricular no atendimento de um roteiro básico de conteúdos que deve se apresentar independentemente do tempo e do local de estudo. Este é um dos desafios que se apresentam no ensino pós-pandemia em um mundo cada vez mais superpopuloso, desigual e mais conectado digitalmente. Mesmo porque, historicamente a tecnologia sempre se apresentou como um dos fatores mais impactantes para o trabalho humano e agora não será diferente, pelo contrário. Tudo muda, mais intensa e rapidamente e a universidade também.

Não é por acaso que há mais de uma década a migração maciça e irreversível para um ensino com maior conteúdo digital instituições celebradas como Harvard, MIT e Stanford estão crescentemente cursos online em plataformas MOOC (Massive Open Online Courses). Todavia, seja pelo que se cobra para a obtenção do certificado ou pelo custo da tecnologia empregada no aluguel de softwares, bem como na aquisição do hardware requerido, o fato é que os avanços tecnológicos atendem à demanda daqueles de maior poder aquisitivo, aumentando o fosso daqueles que podem, quando muito, usufruir de tecnologias consolidadas e, portanto, mais baratas visto que a difusão da tecnologia depende de escala.

O diploma, como um certificado, pode até perder parte do seu peso como credencial e glamour, mas essa é apenas uma das muitas questões afetas à necessidade de ensino de qualidade para a maior quantidade possível de pessoas e do consequente processo de geração de conhecimento via ciência. A educação, em especial a universitária, continua mais do que nunca na linha de frente das mudanças para um mundo cada vez mais tecnologicamente avançado, e quiçá, mais empático.

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