Perícia de áudio do condomínio de Bolsonaro foi feita um dia após divulgação do depoimento de porteiro

Feito às pressas: MP solicitou oficialmente o exame da perícia às 13h05m; Por volta das 15h30, órgão veio à público dizendo que o porteiro mentiu

Élcio Vieira de Queiroz (ex-policial militar), suspeito de envolvimento na morte de Marielle Franco, e o presidente Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Facebook

A matéria da Globo foi ao ar na noite de terça-feira (29) e, horas depois, já no dia seguinte (30), finalmente, o órgão solicitou oficialmente o exame da perícia, mais exatamente às 13h05m11s. Por volta das 15h30, o MP veio à público dizendo que o porteiro mentiu.

Em depoimento à Polícia Federal, o porteiro do condomínio onde mora o presidente Jair Bolsonaro e um dos suspeitos da morte de Marielle, Ronnie Lessa, disse que, horas antes de a vereadora ser assassinada, um segundo suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no condomínio dizendo que iria para a casa do então deputado federal Jair Bolsonaro.

O porteiro contou que ligou para o dono da residência que seria a de Bolsonaro e um homem, com a voz do presidente, autorizou a entrada de Élcio. Mas o MP diz que a perícia mostra que o áudio liberando a entrada de Élcio é do policial militar aposentado Ronnie Lessa.

Acontece que, na solicitação feita à perícia, todas as sete perguntas feitas pelo MP são referentes à casa 65/66, onde de fato mora Lessa. Como Bolsonaro é presidente, uma possível investigação sobre ele precisaria da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ainda na quarta-feira (30), o procurador-geral da República, Augusto Aras, disse ao jornal Folha de S.Paulo que o Supremo Tribunal Federal e a PGR já arquivaram uma notícia sobre esse mesmo fato, enviada para a Corte pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

A procuradoria carioca informava sobre a existência da menção ao nome de Bolsonaro na investigação sobre os assassinatos de Marielle e Anderson.

Em outra reportagem da Folha, peritos defenderam que a análise apresentada pelo MP deixa lacunas. O presidente da Associação Brasileira de Criminalística, Leandro Cerqueira, afirmou que não é possível determinar se um arquivo foi apagado ou renomeado, sem acesso à máquina em que as gravações foram geradas.

A Associação Nacional dos Peritos Federais também disse ao jornal que teme o possível arquivamento do caso sem o devido exame pericial oficial, abrindo espaço para uma guerra de opiniões sobre o fato.

Em seu blog, aqui no GGN, Luis Nassif pondera que a Rede Globo cometeu erros na forma como expôs a informação na reportagem do Jornal Nacional. “Fiaram-se no inquérito que lhes foi vazado parcialmente. E não cuidaram sequer de checar os fatos com o próprio porteiro, e demais porteiros e moradores do condomínio de Bolsonaro”, pontua o jornalista.

“O caminho correto da reportagem deveria ter sido a de ouvir não apenas o porteiro, mas outros porteiros e moradores do prédio”, prossegue, destacando uma série de fatos que lhe foram passadas por uma fonte, entre elas, que o condomínio de Bolsonaro abriu mão de interfones, para reduzir os custos de manutenção. Portanto, quando precisam liberar a entrada de um visitante, ligam diretamente para os proprietários.

“No caso de Bolsonaro, as ligações são para o próprio celular de Bolsonaro. E é ele quem atende. O que significa que a versão do porteiro não era descabida. Ou seja, o fato de estar em Brasília não o impedia de atender o telefone”, pontua.

No dia em que Élcio visitou o condomínio, há registros de que Bolsonaro, então deputado federal, estava na Câmara dos Deputados, em Brasília. O fato que está sendo usado como defesa pelo presidente para provar que ele não teve contato com os suspeitos da morte de Marielle.

“Carlos Bolsonaro, o Carluxo, também recebe os recados pelo celular. Em geral, fica pouco no condomínio, pois prefere permanece em seu apartamento na zona sul. Mas porteiros ouvidos por moradores sustentam que, naquele dia, ele estava no condomínio”, completa Nassif.

Ele destaca, porém, que o sistema eletrônico do condomínio diz que a ligação da portaria foi para Ronnie Lessa. “Tem que se buscar as razões para esse desencontro. O porteiro pode ter ligado para Bolsonaro, que lhe disse para ligar diretamente para Ronnie Lessa, por exemplo. O próprio Elcio Queiroz pode ter corrigido o porteiro”, observa Nassif.

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