Puberdade precoce deve ser tratada, evitando danos futuros

A puberdade precoce pode ter causas desconhecidas, nos meninos pode ser indicativo de tumores

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Carmen Vasconcelos

O senso comum lembra que as crianças estão virando adolescentes cada vez mais cedo. No entanto, entre a precocidade dos novos tempos e o cuidado com a saúde dos pequenos, é preciso atentar para os casos de puberdade precoce.

Geralmente, as alterações no físico e psíquico que indicam que o aparelho reprodutivo está pronto ocorre dos 8  aos 13 para as meninas e de 9  aos 14 para os meninos. Na puberdade precoce, meninas menores de 8  anos apresentam crescimento das mamas, pelos pubianos e menstruação. Nos meninos, o fenômeno apresenta sintomas como o aumento de pênis e testículos antes dos 9  anos.

Mais que causar estranheza e desconforto nas crianças quando estão  com  outras da mesma idade, o quadro pode trazer repercussões mais graves e precisa ser diagnosticado e tratado o quanto antes.
De acordo com o endocrinologista Vinicius Nahime, a puberdade precoce pode ser causada por fatores diversos. “Nas meninas, geralmente, o quadro é resultado de uma ativação do sistema hipotalâmico de causas desconhecidas, mas é importante salientar que, atualmente, a obesidade e o sobrepeso estão contribuindo para o surgimento de casos”, esclarece o médico.

Hormônios em desordem
Quando esse desenvolvimento diz respeito a uma alteração hormonal, há uma mudança na liberação das gonadotrofinas (GnRH),  produzidas em uma região específica do cérebro, o hipotálamo, levando assim a uma ativação do eixo hormonal hipotálamo-hipófise-gônadas (chamada de puberdade precoce central).   Nahime destaca alguns estudos que garantem que as meninas que apresentam a puberdade precoce tendem a apresentar desajustes psicossociais, tais como os sintomas depressivos, transtornos de ansiedade, abuso de drogas.

O diretor médico do Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh), o ginecologista Jorge Valente alerta que, nas meninas, a puberdade precoce também pode ser resultado da presença de tumores que, mesmo benignos, precisam de acompanhamento. “A possibilidade de tumores no ovário, cérebro e hipófise precisa ser verificada no processo de diagnóstico”, salienta.
Alterações nos ovários e nas glândulas suprarrenais podem também ser causadoras da puberdade precoce em meninas. Além disso, os médicos chamam atenção para o fato de que entrar muito cedo na puberdade está associado a um maior risco de hipertensão e câncer de mama para o sexo feminino.

“As crianças mais desenvolvidas do que colegas da mesma idade podem desenvolver problemas de ordem psicológica e social, como depressão e discriminação e, no caso das meninas, levar a uma gravidez precoce”, pontua o endocrinologista pediátrico Gil Guerra Júnior, professor e pesquisador do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Homens prematuros
No caso dos meninos, a puberdade precoce pode ser decorrente de tumores, daí a necessidade de buscar assistência e tratamento o mais rápido possível. Para os garotos, a puberdade precoce é menos comum, mas suas causas podem indicar problemas mais sérios no sistema nervoso central ou nos testículos ou nas glândulas suprarrenais.

Vale salientar que a puberdade precoce é dez  vezes mais comum em meninas do que em meninos.
O também endocrinologista Thomás Cruz lembra que o diagnóstico do problema é feito  por meio de um conjunto de informações, a partir do histórico clínico da criança, exame físico e testes complementares, como dosagem hormonal e de imagem para avaliação da idade óssea. “Uma radiografia do punho é suficiente para fazer a avaliação do avanço ósseo”, diz o médico e fundador do Grupo de Laboratório de Endocrinologia e Metabologia da Bahia (Leme).

Para tratar quaisquer suspeitas, é preciso buscar pediatras e endocrinologistas pediátricos, que farão a investigação. O principal objetivo do tratamento é impedir que a criança chegue à puberdade antes do tempo desejado e possa, assim, manter seu desenvolvimento cronológico compatível com a idade óssea. O ginecologista Jorge Valente ressalta que é importante manter o tratamento até uma fase em que a criança, normalmente, entraria na puberdade.  A pediatra do Hapvida Saúde Luana Dias Santiago ressalta que a puberdade precoce, por mais que possa parecer interessante, não é sadia.  “Adotar o comportamento adulto no cotidiano e não se identificar mais com objetos e tendências do mundo da criança é patológico”.Para mais informações: www.puberdadeprecoce.com.br.

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