Relembre a morte de Tim Lopes, torturado e executado por traficantes da Vila Cruzeiro

O repórter Tim Lopes em novembro de 1979, como operário no canteiro de obras do metrô, na Mangueira
O repórter Tim Lopes em novembro de 1979, como operário no canteiro de obras do metrô, na Mangueira Foto: Reprodução

A morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, foi um dos crimes mais chocantes que o Rio já testemunhou. O gaúcho Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, então com 52 anos, desapareceu no dia 2 de junho de 2002, quando fazia uma reportagem sobre abuso de menores e tráfico de drogas em um baile funk da Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte carioca. Depoimentos de testemunhas e dos envolvidos no caso indicaram que Tim fora sequestrado, torturado, julgado e executado por traficantes, comandados por Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco. Em 9 de junho, a polícia confirmou o assassinato do jornalista.

O corpo foi carbonizado, numa fogueira de pneus, o chamado microondas. Somente em 5 de julho, um exame de DNA confirmou que os restos mortais encontrados num cemitério clandestino, no alto da favela, eram mesmo do jornalista. O enterro aconteceu no dia 7 de julho.

Entre os 41 fragmentos de ossos retirados do cemitério clandestino, técnicos da UFRJ identificaram o DNA de outras três pessoas, também vítimas do tribunal do tráfico. A polícia prendeu sete acusados do crime, levados a julgamento em 2005. Elias Maluco foi preso no dia 19 de setembro de 2002, 109 dias depois da morte de Tim Lopes.

Elias Maluco foi condenado, no dia 25 de maio de 2005, a 28 anos e seis meses de prisão. Elizeu Felício de Souza (Zeu), Reinaldo Amaral de Jesus (Cadê), Fernando Sátyro da Silva (Frei), Cláudio Orlando do Nascimento (Ratinho) e Claudino dos Santos Coelho (Xuxa) foram senteciados a 23 anos e seis meses de detenção. Já Ângelo Ferreira da Silva (Primo) recebeu uma pena menor, de 15 anos.

Tim decidira fazer a reportagem após receber denúncias de moradores da Vila Cruzeiro de que menores eram obrigadas a participar dos bailes funks, usando drogas e se prostituindo. O jornalista da TV Globo tinha experiência nesse tipo de cobertura. No ano anterior, recebera o Prêmio Esso de Telejornalismo e o Prêmio Líbero Badaró, com a série “Feira das drogas”, na qual denunciava a ação de traficantes, livres de qualquer repressão, nas favelas da Grota, da Rocinha e da Mangueira e em ruas da Zona Sul.

Quando foi brutalmente assassinado, Tim Lopes já tinha mais de 30 anos de carreira, em uma trajetória marcada pelo combate à violência, às injustiças e às desigualdades sociais por meio das reportagens.

Não era incomum que o jornalista assumisse disfarces para fazer reportagens. Para revelar irregularidades em clínicas de tratamento, ele fingiu ser dependente químico. Disfarçou-se de pedreiro para mostrar as dificuldades enfrentadas por trabalhadores nos canteiros de obra. Certa vez, vestiu-se até de Papai Noel para mostrar o Natal de crianças que não tinham sequer a esperança de receber uma visita do Bom Velhinho.

Formado em jornalismo pela Faculdades Hélio Alonso (Facha), Tim trabalhou no GLOBO, em “O Dia”, “Jornal do Brasil”, “Folha de S.Paulo” e “Placar”. Casado com a estilista Alessandra Wagner, havia dez anos, ele deixou um filho do primeiro casamento, Bruno Quintella.

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