Salvador Dalí, ícone do surrealismo, morre na Catalunha aos 84 anos

Controvérsias e extravagâncias percorreriam toda a vida do pintor espanhol; muitos consideravam-no um gênio e outros tantos um louco

No dia 23 de janeiro de 1989, Salvador Dalí, considerado o pintor mais importante do movimento surrealista e um dos artistas de maior destaque do século XX, morre aos 84 anos na torre de seu próprio museu em Figueres, na Catalunha.

Rival talentoso e imprevisível de Picasso, arauto extravagante do surrealismo, coautor do curta-metragem delirante O Cão Andaluz ao lado do cineasta Luis Buñuel, Dalí ganhou notoriedade junto ao grande público ao se apresentar na TV como garoto propaganda do chocolate Lanvin.

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Viveu sempre cheio de excentricidades, com sua personalidade gerando inúmeras controvérsias. Muitos consideravam-no um gênio e outros tantos um louco.

Dalí era filho de um prestigioso notário da pequena cidade de Figueres. Aos 10 anos recebeu as primeiras lições de pintura e demonstrou talento artístico.

O pintor impressionista Ramón Pichot foi seu primeiro instrutor. Mais tarde, estudou na Academia Real de Arte em Madri. Foi reprovado duas vezes e nunca conseguiu terminar o curso porque, na sua opinião, não podia ser julgado por pessoas com iguais ou menores dotes que ele.

Viajou para Paris em 1928, quando conheceu outros pintores como Pablo Picasso e Joan Miró. Era a principal figura de um grupo de artistas surrealistas reunidos em torno de André Breton, o principal teórico do surrealismo. Anos mais tarde, Dalí seria afastado do círculo, acusado de seguir o fascismo, de cultuar-se excessivamente e de enriquecer-se por meio da arte.

Em 1929, já tinha encontrado o estilo pessoal que o faria famoso: a representação do inconsciente, a interpretação do universo onírico segundo as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud. As imagens que se repetiam nas Girafas Ardentes e de relógios que derretiam converteram-se nas marcas registradas do surrealismo. Sua grande técnica permitiu-lhe produzir quadros num estilo quase fotorrealista.

Conhecer a russa Elena Diakonova, sua futura Gala Dalí, seria o acontecimento mais importante e decisivo de sua vida. Ela era dez anos mais velha e quando a conheceu estava casada com o famoso poeta francês Paul Eluard. Gala decidiu ficar com Dalí. Converteu-a em sua musa, modelo de numerosas obras e encarregada de seus negócios. Era um fator de estabilidade, garantia do sucesso de Dalí ao promover exposições na Europa e nos EUA.

Em 1934, Gala, já divorciada, casou-se com Dalí em uma cerimônia civil em Paris. Apenas a partir de meados de 1965, o casal começou a se afastar, o que não impediu que Gala seguisse cuidando dos negócios.

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‘Persistência da Memória’, de 1931, é uma das principais obras do artista

Faria a sua primeira exposição pessoal em Nova York em 1933. Um ano depois, visitou os EUA com uma ajuda de 500 dólares de seu amigo Pablo Picasso. Para fugir da Segunda Guerra Mundial, fixou-se por lá. Faria uma série de exposições espetaculares, entre elas uma grande retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Ávido por dinheiro, sentiu-se confortável entre a alta sociedade norte-americana. Celebridades como Gato Warner e Helena Rubinstein pagaram-lhe importantes somas por seus retratos. Além da pintura, também dedicou-se a outras atividades como o design de jóias e roupas para a estilista Coco Chanel e a produção de filmes ao lado do cineasta Alfred Hitchcock.

O casal regressaria à Europa em 1948, passando a maior parte do tempo entre Lligat, na Espanha, e Paris. Desenvolveu interesse pela ciência, pela teologia e pela historiografia, integrando aspectos de cada um desses campos em suas obras. Outra fonte de inspiração eram os grandes autores clássicos como Rafael, Velázquez ou mesmo o pintor francês Ingres. Comentando sua mudança de estilo, declarou : “ser um surrealista para sempre é passar a vida pintando nada mais que olhos e narizes”.

Em 1958, deu início à série pictórica que chamou de pinturas da história. O mais famoso, O Descobrimento da América de Cristóvão Colombo, está exposto no Museu Dali, em São Petersburgo, Flórida. Os últimos trabalhos demonstram técnica perfeita e meticulosa com uma ilimitada e fantástica imaginação.

Dalí foi obrigado a abandonar seu trabalho em 1980 devido a tremores permanentes e debilidade irreversível nas mãos. Nunca mais pôde empunhar a palheta. Contudo, a pior notícia viria em 1982, com a morte de Gala. O artista cairia em profunda crise da qual nunca se recuperou.

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