TST favoreceu privatização dos Correios ao impedir a greve, denuncia carteiro

Edson Dorta
Edson Dorta (Foto: Reprodução)

Por Juca Simonard, na Prensa Latina

O carteiro e membro da corrente Ecetistas em Luta da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect), Edson Dorta relatou à Prensa Latina as dificuldades que ocorreram durante a última greve nacional dos Correios. Ela se iniciou no dia 17 de agosto e terminou em 22 de setembro após uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Dorta participou dos 36 dias de greve, tendo organizado com seus companheiros a mobilização que ocorreu em Campinas, no interior de São Paulo. Ele, que já foi secretário-geral da federação, informa que a greve iniciou para se contrapor à tentativa de privatização da empresa estatal por parte do governo de Jair Bolsonaro e sua política de rebaixamento salarial.

A direção da empresa, controlada pelo general Floriano Peixoto (que já foi secretário do governo federal), iniciou uma medida para acabar com as cláusulas do acordo coletivo com os trabalhadores, retirando direitos básicos e reduzindo outros benefícios, como vale-refeição, auxílio-creche, entre outras coisas. Das 79 cláusulas do acordo coletivo, a direção da empresa queria cancelar 70.

Edson conta que o anúncio deste ataques ocorreu em meio à pandemia do coronavírus, porque o governo contava com ‘várias restrições para fazer movimento’.

‘Apesar dos trabalhadores estarem trabalhando normalmente, aglomerando e pegando ônibus, [o governo] contava com que não tivessem atos de rua’, afirmou o carteiro. Por mais que tenha prejudicado, a greve se iniciou em meados de agosto. Ele critica, porém, o fato de que ‘uns setores do movimento sindical, com base grande, como São Paulo e Rio de Janeiro, sequer fizeram assembleias presenciais, fizeram assembleias virtuais, e não fizeram mobilização nenhuma de rua, de piquete e convencimento para organizar a greve’.

Dorta destaca, por outro lado, o papel importante dos outros sindicatos da Fentect: ‘em alguns lugares, como em Campinas, iniciamos a greve com essa preocupação [da pandemia], mas começamos a fazer passeata de rua, ocupamos um prédio dos correios, o CTCE de Indaiatuba, onde circula seis milhões de objetos por dia. Ficamos 4 dias lá’.

Segundo ele, isso foi a expressão de uma radicalização no movimento. ‘A gente convocou, a partir de Campinas, um ato nacional em Brasília para impor uma pressão sobre o governo e sobre os tribunais, principalmente o TST, que sempre intervém nas greves de categorias grandes’, conta. Para Dorta, o TST, que recentemente interveio em uma greve dos operários da Petrobras, ‘é um mecanismo de contenção os trabalhadores’.

O ato nacional ocorreu no dia 21 de setembro, data em que ocorreria o julgamento da greve pelo tribunal. Ele conta que cerca de 3 mil trabalhadores foram para Brasília, com caravanas de vários estados, e que quando saiu a sentença da Corte, favorável à política da direção bolsonarista, houve a tentativa de ocupar o prédio central dos Correios, onde ocorria o ato.

Isso não ocorreu pois ‘a direção do sindicato vacilou e propôs retornar aos estados’, até porque ‘o TST ameaçou com multa diária de 100 mil reais por sindicato que continuasse a greve’, informa.

Segundo o carteiro de Campinas, ‘o julgamento foi um desastre para os trabalhadores… os juízes demonstraram que no Brasil não há Estado democrático de direito, porque os ministros do TST aceitaram quase tudo que a direção da ECT propôs: rebaixamento salarial, empobrecimento da categoria para favorecer a privatização da empresa’.

Ele ainda diz que ‘o TST assinou em cima da proposta de privatização do governo Bolsonaro’ o que ‘foi uma derrota total para a categoria’. ‘Agora [os chefes da empresa ] estão descontando 15 dias do salário e o restante [dos dias de greve] com compensação’. Para Dorta, ‘o reajuste de 2,6% do salário é uma miséria que mal cobre a inflação real e serve para esconder que todo o acordo coletivo dos Correios foi destruído’.

A opinião de Edson é compartilhada por outros trabalhadores. Em entrevista à rádio Campina FM, o secretário-geral do sindicato da Paraíba (Sintect-PB), Tony Sérgio Rodrigues, informou que o saldo da greve dos funcionários foi negativo.

‘Do ponto de vista político, a greve foi uma vitória, pois o movimento conseguiu atrair muitos trabalhadores, mas, financeiramente falando, a categoria saiu derrotada. Ao todo, 130 funcionários dos Correios morreram de coronavírus por conta da falta de EPIs’, lembra.

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