Vacina contra coronavírus estava quase pronta em 2016, mas pesquisador foi boicotado

O chefe da equipe que desenvolveu o projeto é o cientista estadunidense Peter Hotez, que pediu maior compromisso dos Estados e das entidades internacionais de saúde para desenvolver vacinas antes de as epidemias acontecerem

O cientista estadunidense Peter Hotez anunciou, em um discurso para a comunidade científica do seu país, que ele e sua equipe desenvolveram uma vacina para proteger contra as versões mais agressivas e mortais do coronavírus. Porém, também disse que precisavam de mais financiamento para continuar a pesquisa, e o mais importante, testar a vacina em humanos.

Mas calma, isso aconteceu em… 2016! Já havia se passado mais de uma década desde a epidemia da gripo SARS que matou mais de 770 pessoas na China entre 2002 e 2003, e também era provocada por uma mutação do coronavírus, que pode ser considerada como um antepassado da mutação mais recente, que provoca a epidemia que está instalada no mundo agora.

O fato é que Hotez e sua equipe não tiveram sucesso em conseguir patrocínio para o seu estudo, e o projeto não produziu o resultado que o cientista disse, naquele então, que estava próximo. “Tentamos que os investidores ou doadores privados nos ajudassem produzir algo que pudesse ser levado rapidamente a uso clínico, mas a verdade é que não conseguimos gerar muito interesse”, lamenta o cientista, em entrevista para a NBC.

Para Hotez, essa foi uma grande oportunidade perdida, e resultado da falta de um programa de grandes investimentos para o desenvolvimento de vacinas e de antecipação a futuras epidemias, tanto por parte do governo dos Estados Unidos como das organizações internacionais que atuam na área da saúde.

“Poderíamos já ter isso pronto, e seria só o caso testar a eficácia da vacina no início deste novo surto na China, talvez algumas alterações devido a que esta é uma nova mutação do vírus, mas não se partiria do zero. Isso mostra um grande problema no sistema de desenvolvimento de vacinas, que precisa ser corrigido, especialmente com o maior interesse dos Estados e entidades internacionais”, considera Hotez.

O cientista participará de uma audiência no Congresso estadunidense nesta quinta-feira (5), convidado pelo Comitê de Ciência, Espaço e Tecnologia da Câmara de Representantes. Ele planeja argumentar, justamente, que o novo coronavírus deveria desencadear mudanças na maneira como o governo financia o desenvolvimento de vacinas.

“Como ninguém investiu alguns milhões de dólares nessas vacinas contra a SARS, agora estamos falando em… não sei que número, 10 bilhões ou 100 bilhões de dólares em perdas econômicas, sem falar em vidas perdidas, que são ainda mais valiosas, mas para os que só pensam em números financeiros, também é possível ver que os prejuízos são muito maiores, e o financiamento das pesquisas que poderiam ter evitado isso era muito modesto”, concluiu o cientista estadunidense.

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