Veja como identificar golpes financeiros como pirâmides e operações fraudulentas

Uma pesquisa mostrou que 11% dos investidores perderam dinheiro em fraudes

Uma pesquisa mostrou que 11% dos investidores perderam dinheiro em fraudes
Gabriela Oliva*

No cenário de juros baixos, com a taxa básica (Selic) fixada em 4,5% ao ano pelo Banco Central (BC), os investidores procuram maior rentabilidade. Essa busca por um retorno mais expressivo cria um ambiente propício a fraudes. Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), pelo SPC Brasil e pelo Sebrae com investidores pessoas físicas, apontou que 11% perderam dinheiro em operações fraudulentas. Mais da metade das ocorrências (55%) foi relacionada a esquemas de pirâmide financeira e, em 24% dos casos, o responsável desapareceu com o dinheiro. O levantamento ouviu 917 pessoas em maio e junho do ano passado, de diferentes regiões do país e diferentes classes sociais.

A gerente hoteleira Letícia Santana, de 30 anos, foi vítima de uma fraude. Em 2019, vários de seus amigos investiram em uma empresa que tinha como lema ajudar pessoas de pouca renda, sobretudo negras. Ela aplicou R$ 2 mil e, dois meses depois, quando tentou sacar o dinheiro investido, não obteve resposta.

— Os retornos prometidos eram extraordinários, de 40% a cada dois meses, pois os donos diziam que estavam investindo em bitcoins. Eu duvidava do alto desempenho da empresa, mas tinha esperança. Todos os que apostaram na empresa não receberam. Postamos em redes sociais, fomos à casa dos proprietários, chamamos a TV e nada. Eles sumiram do mapa — contou Letícia.

As promessas de retorno financeiro acima da média, com pouca burocracia e de curto prazo fazem com que investidores caiam em operações fraudulentas, alerta Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

— A falta de conhecimento suficiente para se blindar das fraudes financeiras é tão preocupante quanto o endividamento. Isso está expondo essa parte da população que tem buscado alternativas à poupança, mas tem medo de aplicar seus recursos — disse a especialista do Idec.

Registro é importante

Ione Amorim orienta que os investidores devem verificar se as instituições financeiras ou as corretoras estão cadastradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e se têm registros para atuar no setor.

— Precisamos sempre alertar a população para que procure uma instituição que já tenha uma atuação consolidada no mercado. Se é nova, leia o que há na mídia sobre ela, veja se está cadastrada. Não basta simplesmente escolher uma entidade que oferece altos lucros — ponderou a especialista.

Graziela Fortunato, professora de Finanças da PUC-Rio, faz um importante alerta sobre as promessas de ganhos muito expressivos.

— Se o retorno é alto, o risco também é. É a lei número um em finanças. Não há ganho de graça. Como agora os juros estão muito baixos, é preciso desconfiar de promessas de rendimentos elevados. Essa situação cria um ambiente favorável para golpistas, que querem tirar proveito da ocasião — afirmou a professora.

Levantamento será levado ao poder público

Segundo a pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), pelo SPC Brasil e pelo Sebrae, apenas 38% dos entrevistados conseguiram recuperar o dinheiro investido em operações fraudulentas. Do total, 18% tiveram prejuízos, e grande parte (35%) já desistiu de receber o valor devido.

Daniel Sakamoto, gerente de projetos da CNDL, diz que o resultado da pesquisa será encaminhado ao poder público, a entidades de defesa do consumidor e a parlamentares para que avaliem quais iniciativas podem ser adotadas para coibir esses tipos de armadilha:

— O objetivo é identificar as situações de risco e desenvolver campanhas educativas para alertar os cidadãos. A agilidade do compartilhamento pela internet faz com que esses golpes se propaguem mais rapidamente do que no passado. O desenrolar é como o das fake news, com compartilhamentos feitos por parentes e amigos. Isso dá mais confiabilidade ao investimento. E, como nos golpes das pirâmides financeiras os primeiros a entrar ganham dinheiro, as pessoas acabam caindo.

Para Graziela Fortunato, aqueles que desejam entrar no ramo de investimentos devem se munir de informações sobre os produtos que estão contratando e verificar o destino de seu dinheiro.

— Querer ganhar mais sem entender o porquê tem risco. Ter ganância e não ter educação financeira é a fórmula explosiva para cair numa fraude. O mesmo vale para a falta de interesse em saber onde o dinheiro está sendo aplicado — alertou a professora de Finanças da PUC-Rio.

Mais de dois meses de um pesadelo sem fim

Quando recebeu uma mensagem de texto no celular, informando sobre o bloqueio de seu cartão mediante uma tentativa de compra de R$ 20 mil, Rogério Zouenin estranhou. O advogado estava entrando numa reunião e não tinha usado o cartão naquele dia. Minutos depois, um novo SMS sinalizava a liberação da transação. Suspeitando de que fosse uma fraude, ele procurou o banco. Mas não imaginava que era apenas o começo de um pesadelo, com robôs tentando violar suas senhas, desdobramentos do golpe para os dependentes da conta e ligações para o banco.

Segundo a Konduto, empresa de antifraude para pagamentos virtuais, no Brasil, 2% das compras feitas em e-commerces são oriundas de golpes financeiros. No caso de Zouenin, ao todo, a tentativa de fraude chegou a R$ 50 mil em compras, que foram estornadas pelo banco. Para o especialista em segurança digital Marcus Garcia, a insistência na violação da conta do advogado ocorreu porque os criminosos viram se tratar de um usuário com alto limite de crédito:

— A sofisticação das tentativas de golpe leva a crer que se trata de uma gangue.

O primeiro episódio ocorreu em novembro de 2019. De lá pra cá, várias tentativas ocorreram com o correntista do Itaú. Após mudar de cartão e trocar senhas, ele teve a navegação on-line interrompida, porque a chave havia sido bloqueada por várias tentativas de acesso. Os golpistas chegaram a criar um e-mail falso e a contatar o banco em nome do cliente, pedindo a portabilidade da conta.

Procurado, o Itaú informou que prestou assistência ao cliente e declarou que “tem como procedimento padrão o bloqueio da senha eletrônica após três tentativas de acesso”.

A ação dos golpistas não causou perdas financeiras a Zouenin e sua família, apenas transtornos, como ficar sem cartões e ter que esperar por novos. Mas os hackers não desistiram. Na última semana, sua mulher recebeu a ligação de alguém se passando por representante da instituição.

— Perdi horas ao telefone com o banco e não tenho confiança em realizar pagamentos on-line. Desde então, vivo na insegurança — contou o advogado.

Para Ione Amorim, economista do Idec, o banco deve garantir tranquilidade a todos os seus clientes:

— Não é o consumidor que tem que ficar com medo, uma vez que segue os requisitos de segurança orientados pela empresa.

*Estagiária sob supervisão de Mônica Pereira

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