1974 – Muhammad Ali nocauteia George Foreman

Luta histórica, realizada no Zaire, ficou conhecida como “Briga na Selva”; Ali afirmou que “combate dizia respeito a problemas raciais e ao Vietnã”
Muhammad Ali se tornou, aos 32 anos, campeão mundial dos pesos-pesados após derrotar por nocaute, no oitavo assalto, o antigo campeão George Foreman, de 25 anos. A célebre disputa teve lugar em Kinshasa, antigo Zaire, em 30 de outubro de 1974, e ficou conhecida como “Briga na Selva”.

Sete anos antes, Ali perdera o título quando o governo norte-americano o acusou de fugir do alistamento para a Guerra do Vietnã – o lutador era um declarado opositor do conflito. A comissão de boxe cancelou seu cinturão em resposta. A vitória no Zaire fez dele o segundo campeão destronado da história do boxe a reconquistar o cinturão.

O epíteto a “Briga na Selva” foi dado pelo promotor Don King, que inicialmente havia criado para esse combate o slogan “Do Navio Negreiro ao Campeonato” (em inglês soava como um verso: “From the Slave Ship to the Championship”) até que o presidente do Zaire se inteirou da idéia e mandou queimar os milhares de pôsteres que já haviam sido espalhados.

Era a primeira contenda válida pelo título de todos os pesos a ser realizada no continente africano. O governo do Zaire organizou o evento. O presidente Mobutu Sese Seko pagou pessoalmente para cada um dos lutadores cinco milhões de dólares só pela presença, na esperança de que a luta pudesse atrair a atenção do mundo para a enorme beleza natural do país e suas vastas reservas de recursos naturais. Muhammad Ali concordou. “Eu quis estabelecer uma relação direta entre os negros americanos e os africanos”, escreveu mais tarde. “O combate dizia respeito a problemas raciais, ao Vietnã, tudo isso, enfim”. E acrescentou: “A ‘Briga na Selva’ foi uma luta que fez o país todo se tornar mais consciente.”

Wikicommons

Luvas utilizadas por Ali durante a luta

A luta

Às 4h30 da madrugada de 30 de outubro 60 mil espectadores acotovelaram-se ao ar-livre no estádio 20 de Maio, sob uma esplêndida lua cheia. Os organizadores fixaram a hora para coincidir com o horário nobre da televisão nos Estados Unidos. O público não parava de cantar “Ali, bomaye” (“Ali, acabe com ele”). Há semanas o ex-campeão vinha zombando de Foreman, mas o jovem boxeador desprezou as caçoadas, mostrando estar ansioso ao subir no ringue.

Quando soou o gongo, partiu para cima de Ali desferindo-lhe seus característicos golpes demolidores. Ali simplesmente recuava, valendo-se de seu ágil jogo de pernas, esquivando-se dos ataques e usando seus braços para bloquear quantos golpes pudesse. Confiava que, com essa tática, poderia conter Foreman até cansá-lo. O treinador de Ali classificou mais tarde essa tática como “rope-a-dope” (“enganar um tolo”) porque ele mesmo foi um “tolo” em querer usá-la.

Por volta do quinto assalto, o campeão começou a mostrar-se cansado. Seus poderosos golpes tornaram-se fugazes e as pancadas, débeis. Então, no oitavo round, como se fosse uma “abelha acossando um urso” nas palavras de um cronista do New York Times, Ali saiu das cordas e desencadeiou uma barragem de golpes rápidos e variados, que pareciam desconcertar o exausto Foreman. Um potente cruzado de esquerda seguido de um direto de direita fizeram Foreman dobrar os joelhos e beijar a lona. O árbitro contou até dez e a contagem terminou quando faltavam apenas dois segundos para o término do assalto.

Ali perdeu e reconquistou o título uma vez mais antes de pendurar as luvas, em 1981. Foreman afastou-se dos ringues em 1977, porém, continuou treinando e em 1987 tornou-se o mais velho peso-pesado da história do boxe a ostentar o cinturão.

O simpático Foreman é hoje pastor de igreja e possui terras no Texas. Pai de cinco homens e cinco mulheres, todos levando George no nome, é também um promotor incrivelmente popular de uma linha de aparelho doméstico. Muhammad Ali, por sua vez, portador de mal de Parkinson, é ainda recebido com honras de herói e legendário desportista onde quer que se apresente.

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