Segunda Guerra Mundial: o dia que a cobra fumou

Brasileiros foram enviados para combater o Eixo / Foto: Acervo/Força Expedicionária BrasileiraBrasileiros foram enviados para combater o EixoFoto: Acervo/Força Expedicionária Brasileira

O ano era 1942. Já era o 4º da Segunda Guerra Mundial, entre o Eixo – da Alemanha Nazista e Itália de Mussolini – contra os Aliados – dos Estados Unidos e União Soviética. O Brasil permanecia neutro, cedendo a pressões dos dois lados. Tudo indicava que assim permaneceria, sem tomar nenhum partido. Alguém até apostou que era ‘mais fácil uma cobra fumar que o Brasil entrar na guerra’. A declaração, emblemática, já foi atribuída a combatentes e até a Getúlio Vargas, presidente da época. O fato é que em 22 de agosto daquele ano, o Brasil declarou guerra contra ao Eixo e então, até para os incrédulos, a cobra fumou.

Símbolo da Força Expedicionária Brasileira (FEB) Símbolo da Força Expedicionária Brasileira (FEB)Foto: Reprodução

O símbolo foi usado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB). O fundo amarelo, ostentando uma cobra verde fumando virou a marca da entrada do País na última Guerra Mundial.

Neutralidade brasileira era cercada de interesses

Naquela época, o Brasil era governado por Getúlio Vargas que, embora não envolvido oficialmente com a guerra, usava neutralidade para barganhar seus interesses dos dois lados. “Getúlio era muito pragmático. O Brasil não tomava partido, mas enquanto isso negociava tanto com os alemães tanto com os americanos os seus interesses”, afirma Suzana Cavani, professora de história contemporânea da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O controverso Getúlio Vargas usou da neutralidade para barganhar interessesO controverso Getúlio Vargas usou da neutralidade para barganhar interessesFoto: Acervo/Agência Brasil

A professora afirma que esses interesses eram primordialmente dois: aumentar o poder bélico do país e, o principal, conseguir financiamento para a construção de uma grande Siderúrgica, sonhada pelo presidente. Além disso, o próprio governo do presidente era dividido entre pessoas que preferia o lado dos Aliados e outros que preferiam os ideais fascistas.

Com as negociações avançadas, o Brasil rompe de vez em 1941 com a Alemanha. No ano seguinte, navios na costa brasileira são atacadas pelos alemães e, então, o Brasil estava oficialmente em guerra contra a Alemanha.

Forças expedicionárias enviadas serviram de suporte no combate aos Nazistas

Os pracinhas, como eram conhecidos os soldados que combateram o Eixo, participaram de momentos essenciais para o resultado final da guerra. Em 1944, foram enviados cerca de 25 mil soldados às batalhas na Itália. Esses soldados serviram para aliviar outras tropas que fizeram a ofensiva no norte europeu. “Ter as tropas brasileiras na Itália foi importante para poder liberar outro contingente para as grandes ofensivas. Era um momento em que os Aliados já estavam virando a guerra”, destaca a professora Suzana.
O músico João Barone realizou o documentário “O caminho dos herois”, que retrata as batalhas brasileiras na Itália. Dentre os destaques, estão as falas de italianos em como os brasileiros são lembrados, principalmente pela bondade.


O Caminho dos Heróis por eugravei

O passado heroico de um ex-combatente esquecido

Quando os brasileiros da FEB chegaram ao Brasil foram recebidos com festa. Sair vencedor de uma batalha talvez fosse o necessário para transformar o sofrimento de uma das piores manchas da história num momento heroico cheio de orgulho. Mas não era. O ex-combatente Valdir Brandão, falecido em 1986, pouco desfrutou da sua importância.
Com quase nenhum apoio governamental ou os agradecimentos devidos, ele conviveu com os traumas da guerra durante toda a sua vida. “Quando os pracinhas voltaram, eles foram recebidos com festa. Valdir não gostava disso, ele sempre ficou muito nervoso com grandes multidões por conta da Guerra”, afirma Vaílde Brandão, viúva.
O ex-pracinha passou muito tempo em que sequer falava do ocorrido. Ao longo da vida, foi superando, mas nunca deixou de ser uma pessoa com problemas de nervoismo por causa das lembranças. “Assim que ele chegou ele falava muito pouco e não tocava no assunto da guerra. Depois, ele começou a contar um pouco quando perguntavam, mas sempre tinha um incômodo por parte dele, por toda a vida”, conta Vaílde.
Os dois nasceram em Santana do Ipanema, interior de Alagoas. Durante a Guerra, Valdir foi transferido para o Recife e, depois, levado à Fernando de Noronha. Quando a FEB foi enviada a Itália, ele foi convocado. Na volta para casa, além dos traumas, teve problemas com desemprego. Mudou-se para Maceió e lá conseguiu trabalho com alguns amigos do Exército, mas nenhuma ajuda governamental.
Apenas próximo ao fim da vida, Valdir conseguiu uma pensão, mas pouco desfrutou dela. E essa foi a realidade da maioria dos ex-combatentes. Traumas de uma guerra e pouco prestígio na volta para casa.

Perseguidos na Europa, entrada na guerra do Brasil facilitou imigração judaica para o País

Ao longo da história os judeus sofreram diversas perseguições. No final no século XIX e início do século XX, houve uma grande movimentação de afugentados da europa oriental para países americanos. Essa comunidade foi a que recebeu os migrantes da Segunda Guerra, já que a política brasileira não facilitava a entrada de estrangeiros durante boa parte da guerra. “Por ter algumas relações com a Alemanha, a política de Getúlio nunca foi muito receptiva à chegada dos judeus no Brasil”, afirma Jader Tachlitsky, membro da Federação Israelita de Pernambuco (Fipe).
Um dos que ajudaram e que até hoje é lembrado pela comunidade judaica foi Guimarães Rosa, diplomata do Brasil na Alemanha na época. Ele, junto à sua esposa, emitiu mais vistos que o permitido para que Judeus conseguissem vir para o Brasil. Aqui, não havia resistência por parte da população. “Os judeus que vieram para cá foram bem recebidos pelos brasileiros. As dificuldades vinham mais na parte política de Getúlio”, destaca Jader.
Com o fim das relações com Alemanha e a definitiva entrada na guerra, os judeus passaram a não sofrer bloqueios por parte governamental e muitos deles chegaram até a se alistar e lutar pelo Brasil nas batalhas.
Atualmente a comunidade judaica possui cerca de 1500 pessoas em Pernambuco, concentradas principalmente no Recife. Além delas, existem outras que possam ter origens judaicas mas que tenham se perdido ao longo da história.

A Guerra

O Brasil enviou cerca de 25 mil combatentes à Segunda Guerra Mundial, sendo 681 pernambucanos. Desses, 459 morreram em combate e cerca de outros dois mil em decorrência dos ferimentos das batalhas. Cerca de doze mil sofreram mutilações ou outro tipos de acontecimentos que impossibilitaram a continuidade no campo de batalha. Dos 25 mil enviados, 22 mil estiveram efetivamente em um campo de batalha.

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