Sífilis na gravidez, um risco silencioso

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Tem coisas que a gente acha que nunca vão acontecer com a gente. E tem coisas que acontecem e mal percebemos… Em se tratando de saúde, isso é bastante sério. A sífilis, por exemplo, é uma doença silenciosa, que nem sempre tem sintoma, causada pela bactéria Treponema pallidum. Em sua forma primária, as pequenas feridas que surgem no local da infecção não costumam levantar suspeitas de gravidade. E a fase latente – sem sintomas – pode se prolongar por muitos anos. Sua principal forma de transmissão é por via sexual (relação sexual sem camisinha) –, embora possa ocorrer pela transfusão de sangue.

O problema é preocupante em qualquer fase da vida. E fica ainda pior quando vem à tona na gestação. Afinal, a doença existe na forma congênita (transmitida pela corrente sanguínea da mãe para a criança), com taxas variando entre 70% e 100% em mulheres não tratadas em fase recente (menos de um ano de duração) da infecção. “A contaminação pode ocorrer em qualquer fase da gravidez”, alerta a ginecologista Silvia Morandi El Faro, de São Paulo.

As consequências de não fazer o diagnóstico e deixar de tratar a gestante em tempo oportuno são o aumento dos riscos de retardo do desenvolvimento do neuropsicomotor do bebê, surdez, cegueira, malformações ósseas, entre outras, com mortalidade em torno de 40% nas crianças infectadas. Ainda pode acontecer de o bebê nascer aparentemente saudável, desenvolvendo sinais clínicos graves algum tempo depois.

No Brasil, os números levantados pelo Ministério da Saúde, de 2014 a 2015, preocupam: a enfermidade teve aumento de 20,9% nas gestantes e de 19% nos casos congênitos (bebês que já nascem infectados). As maiores proporções de casos de sífilis congênita costumam ocorrer em crianças cujas mães têm entre 20 e 29 anos de idade (50,2%) e os Estados com maior número de notificações são Rio Grande do Sul, Espírito Santo, São Paulo, Sergipe, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Paraná.

A boa notícia é que, com um pouco de atenção e cuidado, dá para afastar a preocupação nesses meses de espera. O primeiro passo para evitar que a sífilis seja transmitida ao bebê é fazer o diagnóstico precoce por meio de um teste no pré-natal. “A triagem faz parte do acompanhamento e deve ser realizada, idealmente, no primeiro trimestre e repetida no início do terceiro trimestre”, diz a ginecologista Silvia El Faro. Também é recomendada durante a internação hospitalar por parto ou aborto.

Tanto a mãe como o pai da criança devem se submeter ao exame. Afinal, mais do que nunca a participação masculina é importante e necessária durante o pré-natal, para reforçar os cuidados com a saúde e se preparar para a chegada do bebê. Inclusive, vale ressaltar que a nova caderneta da gestante reserva um espaço exclusivo para a inserção dos dados referentes ao parceiro, como exames e tratamentos realizados, vacinas aplicadas, entre outras informações.

O tratamento da sífilis é simples, barato e efetivo. Tanto a testagem quanto o tratamento são garantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e estão disponíveis nas unidades de saúde. A evidência científica disponível considera que a penicilina benzatina, um antibiótico por via injetável, é a opção mais segura e eficaz para a gestante com a doença, visando à prevenção da sífilis congênita. O parceiro da mulher infectada também deve ser tratado, para evitar a reinfecção.

Todos saem ganhando com a prevenção da transmissão vertical da sífilis. Cuidar da sua saúde também é um ato de amor e respeito à nova vida que está a caminho!

1- A prevenção da sífilis entre a população, de maneira geral, se dá por meio do uso regular de preservativos, diagnóstico precoce em mulheres em idade reprodutiva e seus parceiros, realização do teste VDRL em mulheres com intenção de engravidar e tratamento imediato dos casos diagnosticados em mulheres e seus parceiros.

2- Apesar da ampliação do diagnóstico para sífilis, a maioria dos casos continua sendo detectada tardiamente, com danos para a saúde do bebê. Em 2013, segundo dados do Ministério da Saúde, 36,3% das gestantes foram diagnosticadas apenas no terceiro trimestre.

3- O teste para o diagnóstico da doença faz parte do pré-natal e deve ser realizado no primeiro trimestre da gestação e no início do terceiro.

4- A mãe e o pai da criança devem se submeter ao exame.

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